jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

25.12.06

JAMES BROWN, SEX MACHINE (1933-2006)



Morreu James Brown. Entre suas invenções, estão o funk e o soul, além de um estilo único de incendiar as platéias. Os títulos de suas músicas dão conta de como ele viveu sua vida: I Feel Good; Sex Machine; Papa´s Got a Brand New Bag; Say It Loud – I´m Black n´I´m Proud; Ain't It Funky Now; Shake Your Money Maker.

James Brown nunca escondeu quem era: beberrão e maconheiro, foi preso diversas vezes, por diversos motivos. Roubou carros, usou drogas, fugiu da polícia, sonegou impostos e bateu na mulher. Aliás, em algumas das mulheres com quem foi casado. Pai musical do Tim Maia, começou cantando na igreja, logo após sair da primeira cana que puxou. Do soul gospel, fez o funk, ritmo que criou diversos galhos, do rap até o funk carioca que se ouve hoje. Nunca desprezou sua influência, e participou ativamente dos movimentos negros nos anos 1970.

Aos 73 anos, no dia de Natal, Brown morreu após uma consulta ao dentista. Nesse tempo, fez valer o título que deu a si próprio: Soul Brother Number One.

23.12.06

COLORADO CAMPEÃO DO MUNDO

A cidade de Yokohama, no Japão, abrigou o Jogo do Século. Internacional de Porto Alegre 1; Barcelona 0. Da linha de fundo da defesa, Vargas manda um chutão pra frente, Adriano Gabiru cabeceia, Luiz Adriano também, nos pés de Iarley. Já na intermediária do Barcelona, Iarley pisa na bola e o zagueiro Puyol passa batido. Chegam Rafa Márquez e Belleti para defender. Para atacar, pela direita e pela esquerda, chegam Luiz Adriano e Adriano Gabiru. Gabiru aponta para seus pés. Iarley passa para ele. Belleti cai no chão. Gabiru aponta e chuta, o goleiro Vasquez toca a bola, que passa, quica no chão e estufa as redes.

Foi esse o gol que derrubou o todo-poderoso Barcelona, campeão da Champion´s League e vice-campeão do mundo. Foi esse gol que fez do Inter CAMPEÃO DO MUNDO. Contra todos os prognósticos, contra toda a secação, contra Ronaldinho Gaúcho, o melhor jogador pipoqueiro do Mundo. Ao final do jogo, Ronaldinho chorou. Como não fez quando perdeu a Copa. Quando o Barcelona recebeu as medalhas de prata, os jogadores a tiraram do peito imediatamente. Viram Fernandão erguer a taça do mundo de peito limpo.

Clemer, Índio, Ceará, Alex, Edinho, Fabiano Eller, Hidalgo, Wellington Monteiro, Vargas, Fernandão, Iarley, Alexandre Pato, Luiz Adriano, Adriano Gabiru e Abel Braga. Protagonistas do maior torneio do maior esporte do mundo. Campeões do Mundo. Parabéns, Colorado.

Dia 17 de dezembro de 2006. Esse dia já passou, mas a emoção que trouxe acompanhará todo o resto desta vida.

4.12.06

BRASIL CAMPEÃO DE VÔLEI: UFANISMO E SUBSERVIÊNCIA CAMINHAM JUNTOS

Muito já se disse sobre o futebol ser o ópio do povo. Como apanhamos na Copa do Mundo, mais uma vez da França, serve o vôlei. Jogos de madrugada, ídolos desconhecidos, as diversidades não importam. Somos bicampeões mundiais de vôlei, e isso já serve para os ufanismos momentâneos e para a costumeira análise do caráter nacional a partir do esporte (nesse caso o vôlei, porque fomos campeões. E se tivéssemos sido vice?).

A Sportv, filha da Globo e herdeira de sua missão de promover o patriotismo e unidade nacional por meio do esporte (circensis?), veiculou uma matéria de alto cunho sociológico, narrada por Léo Batista: a seleção de vôlei não apenas ganhou o campeonato mundial, mas deu um exemplo de cidadania à nação. Mostrou disciplina, união, espírito de equipe, humildade num país onde grassam a ganância, a picaretagem e o favorecimento.

Campeã, a seleção de vôlei virou exemplo de cidadania, ética e compostura. Falou-se em dois brasis: o Brasil do vôlei e o Brasil real. “Quando esses dois Brasis vão se unir?”, perguntou Léo Batista. Faltou perguntar ao PSDB quando Bernardinho será lançado candidato à Presidência da República. Não será esse o “gerente” que o Brasil precisa?

A matéria do Sportv quer mobilizar os espectadores por meio da vitória do vôlei, não por meio da derrota na política. Por quê? Porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. Ou seja, não oferece risco a ninguém. Fala bonito sem dizer nada, mas usando imagens emocionantes.

O jornalista Reinaldo Azevedo foi criticado em seu blog por uma afirmação certeira: “Bernadinho tem muito a ensinar... sobre vôlei”. Infelizmente, é isso: temos a melhor equipe de vôlei do mundo. E isso só é importante para o vôlei brasileiro. Torcer pelo vôlei é mais fácil e gratificante que cobrar punição a mensaleiros e sanguessugas – ou mesmo lembrar seus nomes. Deve ter mais gente lembrando que o Giba fuma unzinho do que gente lembrando que João Paulo Cunha recebeu 50.000 reais do valerioduto.

Nesta semana, ganhamos o vôlei mundial. Mas continuamos a perder a esperança a cada dia que passa. Há muito tempo.