jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

25.12.06

JAMES BROWN, SEX MACHINE (1933-2006)



Morreu James Brown. Entre suas invenções, estão o funk e o soul, além de um estilo único de incendiar as platéias. Os títulos de suas músicas dão conta de como ele viveu sua vida: I Feel Good; Sex Machine; Papa´s Got a Brand New Bag; Say It Loud – I´m Black n´I´m Proud; Ain't It Funky Now; Shake Your Money Maker.

James Brown nunca escondeu quem era: beberrão e maconheiro, foi preso diversas vezes, por diversos motivos. Roubou carros, usou drogas, fugiu da polícia, sonegou impostos e bateu na mulher. Aliás, em algumas das mulheres com quem foi casado. Pai musical do Tim Maia, começou cantando na igreja, logo após sair da primeira cana que puxou. Do soul gospel, fez o funk, ritmo que criou diversos galhos, do rap até o funk carioca que se ouve hoje. Nunca desprezou sua influência, e participou ativamente dos movimentos negros nos anos 1970.

Aos 73 anos, no dia de Natal, Brown morreu após uma consulta ao dentista. Nesse tempo, fez valer o título que deu a si próprio: Soul Brother Number One.

23.12.06

COLORADO CAMPEÃO DO MUNDO

A cidade de Yokohama, no Japão, abrigou o Jogo do Século. Internacional de Porto Alegre 1; Barcelona 0. Da linha de fundo da defesa, Vargas manda um chutão pra frente, Adriano Gabiru cabeceia, Luiz Adriano também, nos pés de Iarley. Já na intermediária do Barcelona, Iarley pisa na bola e o zagueiro Puyol passa batido. Chegam Rafa Márquez e Belleti para defender. Para atacar, pela direita e pela esquerda, chegam Luiz Adriano e Adriano Gabiru. Gabiru aponta para seus pés. Iarley passa para ele. Belleti cai no chão. Gabiru aponta e chuta, o goleiro Vasquez toca a bola, que passa, quica no chão e estufa as redes.

Foi esse o gol que derrubou o todo-poderoso Barcelona, campeão da Champion´s League e vice-campeão do mundo. Foi esse gol que fez do Inter CAMPEÃO DO MUNDO. Contra todos os prognósticos, contra toda a secação, contra Ronaldinho Gaúcho, o melhor jogador pipoqueiro do Mundo. Ao final do jogo, Ronaldinho chorou. Como não fez quando perdeu a Copa. Quando o Barcelona recebeu as medalhas de prata, os jogadores a tiraram do peito imediatamente. Viram Fernandão erguer a taça do mundo de peito limpo.

Clemer, Índio, Ceará, Alex, Edinho, Fabiano Eller, Hidalgo, Wellington Monteiro, Vargas, Fernandão, Iarley, Alexandre Pato, Luiz Adriano, Adriano Gabiru e Abel Braga. Protagonistas do maior torneio do maior esporte do mundo. Campeões do Mundo. Parabéns, Colorado.

Dia 17 de dezembro de 2006. Esse dia já passou, mas a emoção que trouxe acompanhará todo o resto desta vida.

4.12.06

BRASIL CAMPEÃO DE VÔLEI: UFANISMO E SUBSERVIÊNCIA CAMINHAM JUNTOS

Muito já se disse sobre o futebol ser o ópio do povo. Como apanhamos na Copa do Mundo, mais uma vez da França, serve o vôlei. Jogos de madrugada, ídolos desconhecidos, as diversidades não importam. Somos bicampeões mundiais de vôlei, e isso já serve para os ufanismos momentâneos e para a costumeira análise do caráter nacional a partir do esporte (nesse caso o vôlei, porque fomos campeões. E se tivéssemos sido vice?).

A Sportv, filha da Globo e herdeira de sua missão de promover o patriotismo e unidade nacional por meio do esporte (circensis?), veiculou uma matéria de alto cunho sociológico, narrada por Léo Batista: a seleção de vôlei não apenas ganhou o campeonato mundial, mas deu um exemplo de cidadania à nação. Mostrou disciplina, união, espírito de equipe, humildade num país onde grassam a ganância, a picaretagem e o favorecimento.

Campeã, a seleção de vôlei virou exemplo de cidadania, ética e compostura. Falou-se em dois brasis: o Brasil do vôlei e o Brasil real. “Quando esses dois Brasis vão se unir?”, perguntou Léo Batista. Faltou perguntar ao PSDB quando Bernardinho será lançado candidato à Presidência da República. Não será esse o “gerente” que o Brasil precisa?

A matéria do Sportv quer mobilizar os espectadores por meio da vitória do vôlei, não por meio da derrota na política. Por quê? Porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. Ou seja, não oferece risco a ninguém. Fala bonito sem dizer nada, mas usando imagens emocionantes.

O jornalista Reinaldo Azevedo foi criticado em seu blog por uma afirmação certeira: “Bernadinho tem muito a ensinar... sobre vôlei”. Infelizmente, é isso: temos a melhor equipe de vôlei do mundo. E isso só é importante para o vôlei brasileiro. Torcer pelo vôlei é mais fácil e gratificante que cobrar punição a mensaleiros e sanguessugas – ou mesmo lembrar seus nomes. Deve ter mais gente lembrando que o Giba fuma unzinho do que gente lembrando que João Paulo Cunha recebeu 50.000 reais do valerioduto.

Nesta semana, ganhamos o vôlei mundial. Mas continuamos a perder a esperança a cada dia que passa. Há muito tempo.

29.11.06

BAIXIO DAS BESTAS: PERNAMBUCO FALANDO PARA O MUNDO
O filme campeão do Festival de Cinema de Brasília foi “Baixio das Bestas”, do pernambucano Cláudio Assis. Na hora da premiação, levou mais vaias que aplausos. Teve gente que achou trash, sórdido, que fetichiza a violência. A imprensa ficou com “polêmico”. É tudo isso, mas antes de serem atributos do filme, são atributos da realidade que o filme quer mostrar, a Zona da Mata de Pernambuco, onde se vive de cortar cana, beber, tocar maracatu e putaria. Putaria da grossa e sem limites.

O filme abre com um velho de bengala postando a filha (15, 14, 12 anos?) em pé atrás do postos de gasolina. Desnuda a menina e senta ao seu lado. A câmera abre e mostra a platéia de homens admirando a menina, nua, alguns se masturbando. Suas vidas cruzam com cortadores de cana, tocadores de maracatu, prostitutas e boyzinhos putaneiros. Personagens típicos do interior de Pernambuco. Típicos porque existem, aos montes. Os diálogos, em planos longos, dão a exata dimensão dos personagens:

“O movimento tá bom hoje?” – o velho, perguntando à dona do posto antes iniciar a apresentação da menina.

“Cadê a manteiga? Eu quero é cu!” – Cícero, um dos boyzinhos, no prostíbulo.

“Ele é pobre, mas é feliz” – tocador de maracatu, sobre o personagem que trabalha cavando fossa.

“A pobreza vai socializar o mundo.” – Everardo, um dos boyzinhos.

“Você não vai virar uma rampeira de beira de estrada como a sua mãe!” – o velho, reprovando a filha após ela ter sido estuprada.

“O bom do cinema é que a gente pode fazer o que a gente quiser.” – Everardo.


Ressalte-se, diálogos em perfeito sotaque e vocabulário pernambucanos. Nada forçado, nada esteriotipado. Caio Blat fala exatamente como fala qualquer garoto pernambucano. Merecia um Oscar só pelo sotaque, muitíssimo bem-trabalhado.

A cena que é a menina dos olhos de Cláudio Assis mostra um cortador de cana dobrando a cana para beber o suco. Uma cena que não tem nada a ver com a história, mas mostra como é o dia-a-dia na Zona da Mata. Há muitas dessas cenas de cotidiano, que mostram qual o contexto e quem são os personagens (como a mãe de Cícero que sempre o acorda no sofá da sala, sofrendo de ressaca).

E as cenas que chocaram tanto assim o público? Everardo chutando a cabeça de uma puta que não queria participar da suruba, a menina desnuda atrás do posto, os boyzinhos batendo punheta, bebendo e fumando maconha, o estupro da menina.

Cláudio Assis se mostrou surpreso com tantas críticas às imagens fortes do filme. “Estão matando gente todo dia. Isso passa às dez da manhã na TV e ninguém reage. Ninguém reage! E agora vem dizer que meu filme é violento?!? Tenha paciência!"
Cláudio Assis mostra o desenrolar de sua história, com tudo o que ela tem de violento e chocante. Se não mostrasse, teria que fazer outro filme. Seu maior mérito foi fazer um filme real, sem concessões, sem exageros, sem julgamentos. É demais para o público? Está nos cinemas o filme “Happy Feet – O Pingüim”. Agora, não caia na besteira de viajar de carro pelo sertão pernambucano.

7.11.06

SADDAM, O CONDENADO


Artigo fundamental de Robert Fisk, publicado na Folha de S. Paulo:
"Assim, o antigo aliado dos Estados Unidos foi sentenciado à morte por crimes cometidos quando era o melhor amigo de Washington no mundo árabe. Os americanos sabiam tudo sobre suas atrocidades. Mas ontem lá estávamos nós, declarando que a sentença representava "um grande dia para o Iraque", segundo a Casa Branca.

O desastroso inferno que infligimos ao Iraque é tão horrível que nem mesmo podemos sustentar essa afirmação. A vida é pior, agora. Ou melhor, a morte é um destino mais freqüente para mais iraquianos do que era no caso dos curdos e xiitas nos tempos de Saddam. Por isso, não podemos alegar superioridade moral nenhuma. Nós apenas praticamos abusos sexuais contra prisioneiros, assassinamos alguns suspeitos e praticamos alguns estupros, além de termos invadido ilegalmente um país, o que custou ao Iraque apenas 30 mil vidas, nos cálculos de George W. Bush.

Saddam era muito pior. Não seremos levados a julgamento. Não seremos enforcados. "Allahu Akbar", bradou o homem execrável. "Deus é grande." Não deveria nos surpreender. Foi ele que insistiu que essas palavras fossem inscritas na bandeira iraquiana, a mesma bandeira que hoje tremula sobre o palácio do governo que o condenou depois de um julgamento no qual o genocida iraquiano foi formalmente proibido de descrever sua relação com Donald Rumsfeld, hoje secretário da Defesa de George W. Bush. Lembram-se daquele aperto de mão? E Saddam tampouco pôde falar do apoio que recebeu de George Bush pai.

Eis algumas das coisas sobre as quais Saddam não pôde depor: vendas de produtos químicos, tão repulsiva e que tanto incomodava Bush filho e lorde Blair de Kut al Amara quando decidiram depor Saddam em 2003 -ou terá sido 2002? Em 25 de maio de 1994, a Comissão de Assuntos Bancários, Habitação e Assuntos Urbanos do Senado americano divulgou relatório sobre as exportações de produtos químicos e biológicos de possível uso bélico pelos Estados Unidos ao Iraque.

Entendo perfeitamente que não era possível permitir que Saddam falasse a esse respeito. John Reid, secretário do Interior britânico, disse que o enforcamento de Saddam era "a decisão soberana de um país soberano". Graças a Deus ele não citou as 200 mil libras em tiodiglicol, um dos dois componentes do gás mostarda, que exportamos ao Iraque em 1988, e outras 50 mil libras da mesma substância vendidas em 1989.

Também enviamos cloreto de tiodiglicol ao Iraque em 1988, ao preço de apenas 26 mil libras. Eu sei que esse componente poderia ser usado para produzir tinta para esferográficas e corantes para tecidos. Mas trata-se do mesmo país, o Reino Unido, que oito anos depois se recusaria a vender vacinas contra difteria às crianças iraquianas, sob a alegação de que elas poderiam ser usadas para produzir armas de destruição em massa.

Mas agora demos ao povo iraquiano pão e circo, o enforcamento de Saddam. Impusemos justiça ao homem cujo país invadimos e fizemos se dividir. O estranho é que o Iraque hoje está tomado por assassinos, estupradores e torturadores.

Muitos trabalham para o atual governo, que apoiamos. Eles não serão julgados. Nem enforcados. Essa é a extensão do nosso cinismo. Da nossa vergonha.

Em algum momento a justiça e a hipocrisia já estiveram unidas de forma tão obscena?"

30.10.06

LEITURAS DA VITÓRIA (E DA DERROTA)

O melhor palpite é o que se dá depois do jogo. Alguns veiculados na imprensa (clique nos links para ver os artigos):

Diogo Mainardi: mostrou uma irritação inédita no Manhattan Connection de domingo. Logo ele, que leva tudo pra avacalhação? Seu recado: "O povo escolheu Lula. Problema deles."

Paulo Moreira Leite: entrou na alma do eleitorado. A eleição de Lula não foi a da esperança, mas a da cobrança. Ver o homem que o povo pôs lá cair assim seria desistir de toda aquela esperança de 2002. Seria desistir de sua própria esperança. Lula só não foi eleito no 1o turno porque o povo queria dar uma lição nele, mostrar que está atento.

Reinaldo Azevedo: passou a campanha repetindo que votar em Alckmin era imperativo ético. Derrubar Lula e os 40 ladrões era o que importava. Vitória de Lula, lembrou que não se importa com que o povo pensa. "A democracia sempre foi salva pelas elites e posta em risco justamente pelo “povo”, essa entidade. Vai acontecer de novo. Lula, reeleito, tende a levar o país para o buraco." Golpismo? Reinaldo avisou que era piada, e quem não apertar a tecla SAP para entendê-las, que pare de ler seu blog.

Franklin Martins: "Outros fatores também pesaram na decisão do eleitor, como o carisma do Lula e os erros da oposição, mas a principal explicação para a expressiva vitória de ontem está na inclusão social. Ela é a grande vitoriosa nas urnas."

Paulo Henrique Amorim: foi uma vitória ideológica. Direita vs. Esquerda; Trabalhismo vs. Conservadorismo.

Ricardo Noblat: diga adeus ao terceiro turno, e digam adeus a uma oposição forte a Lula no Congresso. O PSDB está recolhendo os pedaços.

Mino Carta: Temos a tradição do voto de cabresto, mas a eleição de 2002, cujo resultado esta de 2006 confirma, a desfazem. O povo brasileiro fez sua escolha à revelia daqueles que desde sempre pretendem enganá-lo". O povo quer Lula, e não há mais quem o impeça de querê-lo.

Ressalte-se que as escolhas de Diogo Mainardi, Mino Carta e Reinaldo Azevedo foram expostas há muito tempo. Têm todo o direito de comemorar ou de espernear. Já a Veja... vamos ver em que galho vão se segurar.

REQUIÉM PARA ALCKMIN

Alckmin, o Geraldo, conseguiu uma proeza: perdeu 2,5 milhões de votos em 29 dias, período que separou o 1º do 2º turno. Só em São Paulo, onde obteve a maior vitória contra Lula no 1º turno, 230.000 pessoas desistiram de votar no Geraldo. O que deu errado? Ele mesmo.

Alçado candidato do PSDB em março, passou o tempo todo repetindo que a campanha só começava com o horário eleitoral na TV, em setembro. Não apareceu, não falou, não fez propostas, não criou factóides, não tirou foto montado em burro, nem comendo buchada de bode, muito menos ao lado de modelos sem calcinha – nada. Só aparecia nas reportagens sobre pesquisas eleitorais, sempre mal na fita. Quando o programa estreou na TV, trazia uma única certeza: Alckmin, o Geraldo, acha que o Brasil é São Paulo. Enquanto Lula mostrava negros, índios, pobres, nordestinos, nortistas, gaúchos, Alckmin só mostrava paulistas e os programas que implementou no estado. Nenhuma palavra sobre programas que ele pretendia implantar no Brasil.

Depois do 1º turno, o Geraldo se recolheu. Passou mais uma semana calado, deixando seus novíssimos eleitores sem ter o que comentar nos bares e esquinas da vida. Reapareceu no debate da Band, estilo Mike Tyson. Desferiu várias vezes o que julgava ser seu golpe mortal: “Lula, de onde vem o dinheiro?” Muita gente do PSDB aplaudiu de pé: o Geraldo finalmente vestiu o manto do anti-Lula. Ninguém mais agüentava ouvir sobre sua juventude em Pindamonhangaba.

Mas a febre durou pouco. O Geraldo resolveu voltar a ser ele mesmo, e ainda cagou na cabeça do PSDB do Rio de Janeiro e da Bahia, ao aceitar o apoio de Anthony Garotinho e Antônio Carlos Magalhães. Em vez de ganhar aliados de outros partidos, perdeu-os dentro do PSDB. E continuou a dizer rigorosamente nada sobre o que faria se fosse eleito.

Fora ser o anti-Lula, o Geraldo não foi mais nada. E nem isso fez direito. Atacava a corrupção no governo Lula, mas mal falou sobre o mensalão. Provavelmente para poupar gente do seu partido envolvida com Marcos Valério, o carequinha. Preferiu repetir diariamente a história da compra do dossiê – que não é crime.

A revista Veja perguntou a 90 eleitores de oito estados seus motivos para votar em Alckmin e em Lula. Dos que votam em Lula, 89% justificam sua decisão citando realizações do presidente. Já dos que votam em Alckmin, 60% o escolheram simplesmente porque rejeitam Lula. Não porque gostem de Alckmin. Em 1989, se dizia que o Brasil elegeria um poste para não eleger Lula. Deu certo com Collor. Não deu com Alckmin, o Geraldo.

29.10.06

VEJA DIVIDIU O BRASIL EM DOIS: LUTA DE CLASSES?

A revista Veja dividiu o Brasil em dois. Um que “busca a riqueza e o crescimento”, outro “arcaico e clientelista”. Um que está no Sul e Sudeste, outro no Norte e Nordeste. Um que vota em Alckmin, outro em Lula. Simples assim.

Veja usou um mapa para comprovar sua tese: os municípios em que Lula venceu no 1o turno estão concentrados no Nordeste e no Norte (mais pobres e menos informados); Alckmin venceu no 1º turno nos municípios do Sul e do Sudeste (mais ricos e mais informados).


Mas, segundo Veja, a divisão não é só sócio-econômica: é também moral. Na edição seguinte à realização do 1º turno, a “Carta ao Leitor” informa que a disparada de Alckmin no que seria a reta final da disputa indica que a maioria do eleitorado “não quer um país onde as autoridades responsáveis pela manutenção das leis e pelo respeito à ética são as primeiras a quebrá-las”. Afinal, o Brasil que votou em Lula está “resignado às práticas de corrupção e habitado por uma população que, premida pela miséria, tem como única perspectiva de vida usufruir os benefícios imediatos proporcionados por projetos assistencialistas”.

De acordo com essa análise, a vitória de Lula representa uma escolha do Brasil arcaico imposta ao Brasil moderno. E lembre-se: o Brasil moderno recolhe mais de 80% dos impostos federais. Esse dado foi capa do jornal Folha de S. Paulo na quarta-feira. Poderia ser manchete em qualquer dia de qualquer ano, mas só mereceu tamanho destaque às vésperas da eleição presidencial.

O apartheid de Veja é moral, econômico e geográfico. E burro. Números do Datafolha que o verdadeiro Brasil rico e bem-informado “lulou” nessas semanas entre o 1º e 2º turnos:

Entre os eleitores com renda familiar mensal acima de 3.500 reais, 53% votam em Alckmin, 43% em Lula. Alckmin leva vantagem, mas está longe de ser uma vitória esmagadora.

Entre os eleitores com escolaridade superior, 44% votam em Lula. 50% em Alckmin. Quase empate técnico.

Além disso, Alckmin perdeu votos em todos os estados do “seu” Brasil, enquanto Lula aumentou sua votação expressivamente. À exceção do Rio Grande do Sul, onde Alckmin manteve o número de votos do 1º turno. E onde Lula teve 40% a mais de votos.


Não foi o Brasil “arcaico e clientelista” que elegeu Lula. Foi o Brasil. País que ostenta o título de vice-campeão mundial de má-distribuição de renda. Má-distribuição que pode ser verificada tanto em Roraima como em Pernambuco como em São Paulo como em Porto Alegre. Em todos esses lugares há ricos morando em casas suntuosas localizadas a poucos metros de favelas. Donald Trump, dono de 2,9 bilhões de dólares, profetizou: “Os ricos vão ficar mais ricos e os pobres vão ficar mais pobres. Eu já escolhi de que lado eu quero estar”. Parece que Veja também.

26.10.06

ALCKMIN, O ILUMINADO


O Geraldo surpreendeu todo mundo. Muito se falou em "cristianizar" o candidato do PSDB, porque, contra Lula, ninguém teria chance. Lutou desde o começo do ano para ser o candidato do partido. Conseguiu a indicação no dia seguinte em que José Serra divulgou publicamente que queria a vaga para concorrer à Presidência pelo PSDB. O Geraldo começou devagar, sendo desconhecido por 50% do eleitorado. Depois do horário eleitoral gratuito, melhorou seus números, mas pesquisas mostravam que não ia dar pra levar pro 2o turno. No dia da eleição, a surpresa: 40 milhões de votos para o Geraldo. Para se ter uma idéia, José Serra, já no 2o turno contra Lula em 2002, conseguiu 35 milhões de votos.

O Geraldo lutou contra o desconhecimento do público, números desfavoráveis e companheiros de partido que preferiram ou apoiar Lula ou ao menos ignorar sua candidatura. José Serra e Aécio Neves, dois dos principais nomes do partido, falaram pouco, quase nada, em sua defesa. Quanto a FHC, esse era melhor que ficasse de lado.

Mas ele chegou lá. E agora tenta a vitória final, novamente desacreditado pelas pesquisas (perde por 20 pontos percentuais de diferença) e com falta de apoio expressivo. No dia do debate da TV Record, José Serra não foi aos estúdios acompanhar seu candidato. Preferiu assistir a um filme de Cao Hamburger, diretor do programa "Castelo Rá-Tim-Bum". Será que ele chega lá?

O Geraldo tem aparecido muito, mas fala pouco. Entre seus eleitores, não se acha ninguém capaz de elencar suas propostas. "Alckmin parece ficar desorientado quanto ao que dizer. Parece que tudo o que lhe ocorre é pedir ao eleitorado um cheque em branco para os próximos quatro anos, pois não diz nada que seja esclarecedor – e não deixa os outros dizerem. Alckmin, sem o dossiê ou uma provocação terrorista do PT, parece incapaz de alçar-se acima de dolorosas platitudes", escreve o editor da revista Veja em Brasília.

O Geraldo é o anti-Lula da vez, talvez sua melhor encarnação, porque só representa isso. Não tem idéias, nem apoio político próprio. Está longe de Serra e FHC, o máximo de apoio que conseguiu no 2o turno foi o de Garotinho. É a tábua de salvação para quem quer tirar Lula de lá. Será que o Geraldo chega lá?

15.10.06

ISRAEL: A TERRA PROMETIDA É FEITA DE SANGUE E FOGO

“A 14 de maio de 1948, se confirmaram as previsões dos profetas judeus. Segundo essas predições, o povo hebreu seria condenado a 2.000 anos de vida errante e miserável, findos os quais deveria regressar à Palestina onde, depois de grandes dificuldades , encontraria finalmente a paz". Essa declaração foi uma das primeiras oficiais do recém-formado Estado de Israel. Nesse mesmo dia 14 de maio de 1948, dia de sua fundação, Israel enfrentou sua primeira guerra contra nações árabes, e continua na mesma luta até hoje. Quase 60 anos depois, a paz não veio.

Todos os dias os telejornais mostram atentados, bombardeios e tiroteios envolvendo israelenses e palestinos. Judeus e muçulmanos. Ao contrário do que parece aos olhos do telespectador ocasional, essa guerra tem menos a ver com religião do que com terra. Uma terra do tamanho do estado de Alagoas, pouco mais de 22.000 km2.


Invasão israelense em Ramallah (Cisjordânia), 2002

Essa terra era o enclave britânico da Palestina. Depois da 1ª Guerra Mundial, os Aliados dividiram o Oriente Médio: Iraque, Síria, Turquia, Líbano, Jordânia e Palestina. A Inglaterra ficou com essa última em 1922, onde viviam mais de 650.000 árabes e 56.000 judeus. Em 1946, a proporção era de 1.000.000 de árabes para 700.000 judeus. Essa migração em massa de judeus era o movimento sionista, os judeus de volta à terra prometida.

O movimento sionista começara a se organizar em 1897, e ganhava força, prestígio e dinheiro da comunidade internacional. O Barão de Rothschild, riquíssimo banqueiro londrino, era um de seus expoentes. Judeus de todo mundo afluíam à Palestina, comprando terras inférteis e organizando os kibutz, fazendas coletivas socialistas. As terras eram propositalmente compradas em pontos espalhados da Palestina, demarcando as fronteiras do que seria o futuro país judeu.

Atentado terrorista em Tel-Aviv (Israel), 2000

A Inglaterra abandonaria o comando da Palestina em 1948, já recomendando a divisão do território em dois: um árabe e outro judeu. Os árabes, que ocupavam a terra desde o ano 638, não aceitaram a divisão. Mas assim foi feito. O resultado foi a guerra, a primeira. De um lado, os árabes palestinos, apoiados por Egito, Síria, Líbano e Jordânia. Do outro, os judeus, que treinaram no exército britânico e receberam armas da Tchecolslováquia. Mesmo em menor número, porém mais organizados e preparados há mais tempo para o conflito, os judeus não só estabeleceram o Estado de Israel como ampliaram suas fronteiras, eliminando o Estado Palestino e deixando mais de 800.000 palestinos refugiados nos países vizinhos.

Outras guerras se seguiram como a de 1967 (quando Israel tomou ainda mais territórios dos vizinhos) e a do Líbano. Hoje, estima-se em 3.000.000 os refugiados palestinos, vivendo na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, territórios mantidos sob vigilância dos “postos de controle” do exército israelense.

Guerrilheiros da Brigada de Mártires Al Aqsa


Pode-se resumir assim: judeus ocuparam a Palestina árabe, criaram seu estado judaico, os árabes reagiram com guerras e as perderam, os palestinos ficaram sem país, mantém sua luta por meio dos ataques terroristas, mas são diariamente bombardeados por mísseis, bombardeiros e tanques que invadem e destroem suas já precárias cidades. E reagem com mais homens-bomba. É tudo o que têm. Porque a paz há muito tempo não parece uma opção, para nenhum dos dois lados.

19.7.06

CRIANÇAS ISRAELENSES MANDAM SEUS RECADOS...


... AS CRIANÇAS LIBANESAS OS RECEBEM

Se você não entende por que tanta matança, ou nem sabia que isso estava acontecendo, fique tunado. Este espaço vai trazer um texto para tentar explicar. Mas só para tentar.

RENTERÍA, O SACI COLORADO


Mais de 50 mil pessoas estiveram no Gigante da Beira-Rio para ver o Internacional de Porto Alegre garantir a vaga na semifinal da Taça Libertadores da América. Um jogão, dois golaços, o primeiro de Rafael Sóbis, partindo pra cima da marcação de três equatorianos do LDU; o segundo de Rentería, sozinho na lateral esquerda depois de receber um lançamento lá da defesa. De primeira, encobriu o goleiro, colocou a bola pra dentro e correu pra torcida, com gorro de saci, cachimbo na boca e pulando de uma perna só. Nosso saci colombiano já é ídolo da torcida colorada. Próxima quarta, o Inter pega os paraguaios do Libertad no estádio Defensores del Chaco na primeira semifinal.

Outro semifinalista da Libertadores da América é o São Paulo. Com dificuldade, meteu 1 x 0 no Estudiantes de la Plata, da Argentina, e levou a decisão para os pênaltis. Herrera pegou a cobrança de Danilo, Rogério Ceni deixou tudo igual ao se adiantar à cobrança e fazer a defesa são-paulina. Um tal de Carrusca chutou pra fora e o São Paulo joga a segunda semifinal do torneio.

Também teve o primeiro jogo da final da Copa do Brasil, Flamengo e Vasco. Dois a zero rubro-negro, gols de Obina e Luizão. Uma pelada. Um clássico, mas uma pelada. Valeu pela bronca do técnico vascaíno Renato Gaúcho, conhecido carrasco dos flamenguistas. Após o jogo, deu o recado:

- Eu já falei, são 180 minutos de jogo, jogamos só os primeiros 90 minutos. Tem gente do outro lado que está tirando onda, gostam de tirar onda, eles têm até a próxima quarta-feira para fazer isso. Depois disso, a gente volta a conversar.

15.6.06

SUÉCIA 1 x 0 PARAGUAI


Show de bola.

12.6.06

NO JORNALISMO, O QUE VALE É A REPORTAGEM


A revista TIME é a pioneira das semanais estilo Veja, CartaCapital, Istoé e Época. Foi criada em 1923 por dois colegas de faculdade, que tinham por objetivo fazer o resumo dos jornais da semana numa revista, 32 páginas em preto-e-branco, 18.500 exemplares. Hoje, tem o dobro de páginas e tira mais de 6 milhões de exemplares mundo afora. Foi da TIME que Veja aprendeu a misturar opiniões com fatos de forma que pudesse apresentar umas como se fossem os outros. Veja faz isso hoje, até com certo orgulho, TIME tenta se livrar desse estigma desde os anos 70.

Todo veículo tem sua opinião, às ela vezes depende mais do dono, outras mais dos jornalistas que o comandam. Sobre o efeito dessa opinião sobre a opinião de seus leitores, vale reproduzir trechos da carta de despedida do editor-chefe da TIME, Jim Kelly, que esteve no cargo por seis anos (tradução livre e permissiva):

(...) “Nós não entendemos os tempos em que vivemos; tudo o que podemos fazer em tempos de grande agitação é trabalhar para dar sentido ao que acontece à nossa volta. Eu sempre pensei nos leitores da TIME como uma comunidade – uma comunidade de cidadãos que podem ter suas diferenças políticas, mas que são intensamente curiosos e que acreditam na reportagem que seja profunda, perspicaz e honesta sobre o assunto em pauta. O compromisso da TIME é encontrar sentido no mundo para seus leitores, e essa confiança é nosso bem mais valioso.

“Lendo a coletânea de colunas de Daniel Okrent para o New York Times, me deparei com essa frase de Daniel Patrick Moynihan: “todos têm direito à sua própria opinião, mas não a seus próprios fatos”. TIME valoriza opiniões inteligentes, precisas e divergentes, mas é de fundamental importância que o leitor possa fiar-se em nosso relato. Você pode ter discordado de nossa interpretação dos fatos, mas trabalhamos duro para lhe dar os fatos de maneira correta. (...)

“Um de meus predecessores me disse uma vez que, em semanas de grande tumulto, às vezes a coisa mais esperta que um editor pode fazer, se ele tiver a sorte de estar cercado de jornalistas talentosos e compromissados, é sair de seu caminho.

“Eu saí do caminho deles.”

Na ilustração acima, uma das capas produzidas por Jim Kelly, sem manchete, título, nem chamada. Só a imagem e a data: 11 de setembro de 2001.

SECRETÁRIO DE SEGURANÇA DE SÃO PAULO ESTÁ SE ACHANDO. MESMO DEPOIS DO PCC.



Saulo de Castro Abreu Filho é secretário de Segurança Pública de São Paulo (o que aparece à esquerda nas fotos acima). Quem manda nas polícias civil e militar do estado. Até pouco tempo, era considerado o candidato natural do PSDB para disputar o governo de São Paulo. Foi um dos integrantes do governo que menos apareceu durante os ataques do PCC em São Paulo. Disse que o secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, “despirocou” ao ter que lidar com os presos paulistas. Foi quem bloqueou a divulgação dos nomes das 122 pessoas mortas pela polícia de SP entre os dias 12 e 19 de maio.

No dia 07 de junho, foi convocado à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo para falar da redução das verbas na sua secretaria e sobre os ataques do PCC. Na platéia, mais de 70 policiais. Do lado de fora, 40 viaturas. Isso num dia em que se procuravam 61 presos que fugiram da cadeia de Franco da Rocha.

Num momento em que Saulo falava aos policiais, que aplaudiam o secretário e vaiavam os deputados, teve o microfone tomado das mãos pelo presidente da mesa, o deputado petista Vanderlei Siraque (fotos). “O bicho vai pegar lá fora”, respondeu Saulo. Os deputados lhe perguntaram se ele sabia com antecedência dos ataques do PCC e sobre as 122 pessoas que a polícia matou em represália. Saulo disse que tem a responsabilidade de não debater publicamente as investigações policiais. Mas garantiu que os responsáveis pelos ataques ou estavam presos ou estavam mortos. Pediu para ir embora, porque “tinha mais o que fazer”.


Leia aqui um artigo devastador do jornalista Luis Nassif contra Saulo. Segundo Nassif, Saulo de Castro não se preocupou em combater o crime organizado, preferindo lotar as prisões de punguistas para aumentar as estatísticas de sua secretaria. Deu mais munição a Marcola e ao PCC.

10.6.06

PROTESTOS PACÍFICOS

ACM QUER OS MILITARES PONDO ORDEM NA CASA

O vandalismo promovido pelo MLST no Congresso fez ACM ter saudades de 1964. Quer as tropas na rua de novo, antes que Lula se reeleja:

- Onde estão as Forças Armadas? Elas não podem ficar caladas. Esses comandantes estão obedecendo a um subversivo. Quero dizer neste instante, aos comandantes militares, não ao ministro da Defesa, que reajam enquanto é tempo, antes que o Brasil caia na desgraça de uma ditadura sindical, presidida pelo homem mais corrupto que já chegou ao governo da República.

Toninho Malvadeza botou os dentes pra fora. Chamou Aldo Rebelo de covarde por não ter permitido a entrada da PM no Congresso e acusou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de não estar espionando devidamente os movimentos sem-terra. Disse que prefere ver o Congresso fechado do que à mercê de desordeiros.

Lula está a quatro meses de se reeleger, se tudo continuar como está. Por isso, ACM precisa de uma revolução como a de 1964 para impedir isso, já que seu candidato não decola, não aparece e não disse nada de relevante até agora. Observe-se que ACM inclusive usa os mesmos termos e argumentos para defender um novo levante militar:

Chamou Lula de “subversivo”

Disse que o Brasil está ameaçado de viver uma “ditadura sindical”

Deixou claro que sua mensagem se destinava aos generais, almirantes e brigadeiros, não ao Ministro da Defesa, que é chefe de todos os outros, mas está subordinado a Lula. Em linguagem militar, pediu um motim.

Quer a arapongagem do governo em cima dos sem-terra, como o SNI fazia com os comunistas de antigamente

Do jeito que vai, prefere ver o Congresso fechado


Há se de lembrar que a expressão mais usada nesta semana pela imprensa para descrever o vandalismo no Congresso foi “ameaça à democracia”. Teve depredação, porradaria e seguranças feridos (um deles gravemente, com uma pedrada na cabeça). 42 líderes do movimento estão em cana. Mas ninguém tentou fechar o Congresso, fazer revolução ou tomar as ruas de assalto. Quem está fazendo isso é ACM, um dos mais influentes líderes políticos da última ditadura a qual o país foi submetido.

9.6.06

TSE VOLTA ATRÁS NA SUA MOLECAGEM

Parecia palhaçada; e era. A nova interpretação da regra da verticalização foi derrubada ontem pelo Tribunal Superior Eleitoral. Dois dias depois do excelentíssimo ministro Marco Aurélio de Mello anunciar que não ia mais permitir concubinato, só casamento, nas eleições deste ano, sua excelência voltou atrás. Recebeu uma visita dos não menos excelentíssimos senadores José Sarney, ACM e Renan Calheiros, confabulou com seus colegas e saiu com a desculpa que a verticalização devia voltar a ser como era antes por questões de “segurança jurídica”.

Ou seja, reconheceu que fez uma lambança geral com a nova interpretação da lei, que isso ia causar uma zorra sem fim a quatro meses da eleição e no mês da Copa do Mundo, e aliviou a barra dos políticos que iam ter que refazer todo o seu xadrez eleitoral. Na terça, Marco Aurélio acreditava que estava moralizando a eleição (diz-se por aí que na verdade fez isso a pedido de Nelson Jobim, que queria ser vice de Lula pelo PMDB), mas na verdade fez uma molecagem que ia custar caro aos donos do poder. E, no Brasil, o poder vale muito mais do que a lei ou a moralização dela.

8.6.06

ACABA BLOQUEIO DE CELULARES EM SP

O bloqueio do sinal de celulares em volta dos presídios paulistas acaba hoje. Após os ataques do PCC, coordenados via celular, o sinal foi bloqueado na área em volta dos presídios de Presidente Venceslau, Araraquara, Iaras, Avaré e Franco da Rocha, por meio de decisão juducial, que durou 20 dias. O prazo acabou, e o juiz Alex Tadeu Zilenovski decidiu não manter o bloqueio, porque a responsabilidade de controlar os celulares nos presídios é do poder Executivo, não do Judiciário. Que o governo se vire para controlar a entrada de celulares nos presídios.


Como há mais de cinco anos os governos estaduais e federal estudam uma medida de bloquear os sinais dentro dos presídios, e não saíram da estaca zero, o que eles fizeram foi obrigar as operadoras a interromper o sinal das torres próximas aos presídios. Assim, não só os presídios, mas boa parte dessas cidades e de seus trabalhadores ficaram sem poder usar o celular. O recado do juiz Zilenovski foi claro: se a Secretaria de Segurança Pública quer impedir o uso de celulares nos presídios, que faça o seu trabalho, e não venha encher o saco da população.

CONGRESSO PAGA O PREÇO DE SUA DESMORALIZAÇÃO

O dia 06/06/06 foi um dia de cão para os parlamentares. Primeiro, a invasão bárbara e o quebra-quebra promovido pelo MLST, dissidência radical do MST. Depois, o Tribunal Superior Eleitoral avisa que a verticalização foi radicalizada: quem não tem candidato à presidência não pode se coligar nas eleições estaduais com partidos que o tenham. O MLST e o TSE fizeram isso com os políticos porque podem. Eles merecem apanhar, não importa de quem, nem onde, nem como.
Os líderes do MLST que armaram o quebra-quebra são velhos conhecidos dos doutores de terno que circulam no parlamento. Bruno Maranhão, velhinho de 69 anos, é o líder do movimento, e recebe salário por isso. Filho de usineiros pernambucanos, costumava arrumar brigas nas festas da sociedade recifense, e hoje mora num luxuoso apartamento em Recife – o prédio é daqueles de um apartamento por andar. Era até ontem “secretário nacional de movimentos populares” do PT.

Perdeu o cargo, mas não deve ser expulso do PT. Com que cara vão expulsa-lo, já que nenhum mensaleiro foi sequer investigado pelo partido? Para Humberto Costa, ex-ministro da Saúde e candidato do PT ao governo de Pernambuco, seu companheiro conterrâneo apenas “perdeu o controle” dos manifestantes. 507 deles estão presos na Papuda. Entraram no movimento querendo ganhar um lote, vieram à Brasília achando que iam encontrar o Lula, receberam instruções precisas de arapongas que estudaram a ação e viraram vândalos de primeira hora. Infelizmente, não conseguiram esbofetear nenhum político.

A polícia vai investigar em separado 11 pessoas, consideradas líderes da invasão ou que foram identificadas praticando agressões diretas, como o garoto de 23 anos que atirou uma pedra na cabeça de um segurança e a moça que destruiu terminais eletrônicas armada de uma pedra das grandes, amarrada a um arame – uma éspécia de boleadeira pré-histórica. Os dois moram com os pais, em casa própria.
Do outro lado, o presidente do TSE, Marco Aurélio de Mello, interpretou a lei eleitoral – redigida pelos próprios parlamentares – e explicou a eles a nova regra da verticalização. “Agora o que tem que haver é casamento. Antes, se permitia o concubinato, que é condenável”, explicou Marco Aurélio à TV, com o sorriso de quem sabe que acabou de aprontar o maior rebuliço.

Os políticos estão em polvorosa. O PFL não sabe se continua apoiando o PSDB, o PMDB agora vai ter que correr para apoiar alguém, ou Lula ou Alckmin – antes, queriam ficar de fora, ganhar apoio dos dois candidatos nos estados e depois ficar do lado de quem ganhou. Agora, os doutores refazem a matemática das alianças e correm ao TSE pedindo maiores esclarecimento. Isso a quatro meses da eleição e às vésperas da Copa do Mundo. Parece palhaçada, e é: o Congresso já aprovou, no início do ano, lei que derruba a verticalização para 2010.


O Congresso é a Casa-da-Mãe-Joana, onde vale tudo. Teve mensalão, sanguessugas, propina de dono de restaurante, e ninguém foi em cana. Assim, não dá para exigir respeito de ninguém, nem dos radicais nem do Marco Aurélio de Mello.

30.5.06

VEJA vs DANTAS: MORREU O ASSUNTO

Nenhum veículo de comunicação repercutiu a matéria de Veja da última semana. Na reportagem, o banqueiro Daniel Dantas fez um acordo com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e avisou: “se eu descer, levo junto PFL, PSDB e PT”. Ministro e banqueiro negaram o acordo, e ficou por isso mesmo.

Se a imprensa em bloco acredita na versão dos dois, porque não acusam Veja de mentir descaradamente? Veja publicou um dossiê com contas de Lula no exterior, e diz que foi DD quem repassou. O banqueiro nega, mas não processa a revista. Veja mantém sua versão, e distribui novas acusações. E ninguém diz nada, fica o dito pelo não-dito.

Pode ser que os jornais, TVs, revistas e rádios estejam aplicando a Lei de Franklin: “jornalista não é notícia”. Pode ser que todos também tenham o rabo preso com Daniel Dantas. O fato é que Veja publicou um dossiê com contas de Lula no exterior. Sendo ele falso ou verdadeiro, importa – e muito – saber quem o fabricou. Ou foi Dantas ou foi Veja.


Outro fato: o jornal Correio Braziliense tem uma “lista branca”. São pessoas que o jornal e seus jornalistas não podem falar mal. Entre eles estão Joaquim Roriz, Maurício Corrêa e Daniel Dantas.

GRUPOS DE EXTERMÍNIO MANDAM BALA EM SP

Saiu uma análise de 28 cadáveres mortos pela polícia paulista na semana retrasada, em represália aos ataques do PCC. No total, a polícia matou 110 pessoas. A Defensoria Pública de SP checou 28 laudos do IML, e conferiu que 22 deles foram mortos com tiros dados de cima para baixo – o que indica que a pessoa foi morta quando estava de joelhos ou deitado. Na média, cada um tomou três tiros.

A Ouvidoria da Polícia Civil de São Paulo investiga outras nove chacinas, com um saldo de 27 mortes. O ouvidor Antonio Funari Filho disse não haver dúvidas da atuação de grupos de extermínio. Dos 27 mortos, 12 não tinham passagem pela polícia e 11 levaram tiros na cabeça e nas costas. Os assassinos usavam máscaras e capuzes.

Nos ataques do PCC, 46 policiais foram assassinados, alguns com até 19 tiros. Pode-se considerar que a reação foi à altura, e que a polícia tinha que matar mesmo. Em editorial, o jornal Estado de S. Paulo defendeu a Lei de Talião, aquela do “olho por olho, dente por dente”. Isso é uma opinião. Há outras, e o debate é sempre válido.


O que não pode é jogar os fatos embaixo do tapete, fingir que execuções policiais não são nada demais. O trabalho feito pelas comissões de direitos humanos, Ministério Público e Defensoria Pública merece todo o respeito e todo apoio. É esse trabalho que vai ajudar a entender o que a Secretaria de Segurança Pública quis dizer com “mortes preventivas”.

28.5.06

AS PROPOSTAS DE HELOÍSA HELENA


Heloísa Helena será candidata a presidente, pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). Seu vice será o professor César Benjamin, também ex-petista à esquerda de Lula e Dirceu. Para os 22% de eleitores ainda indecisos, seguem abaixo as principais propostas da chapa, que já tem o apoio do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados). Para quem achou que o primeiro mandato de Lula foi muito mole com a elite branca, Heloísa Helena propõe ir mais longe:

Redução da jornada de trabalho sem corte de salários

Plebiscito sobre pagamento da dívida externa

Possibilidade de revogar mandatos de políticos eleitos

Fim do foro privilegiado de políticos

Financiamento público de campanha, com tempo de TV igual para todos

Possibilidade de candidaturas independentes, desfiliadas de partidos

Eleição de dirigentes de empresas estatais

Quebra de sigilo bancário automática para políticos eleitos e donos de empresas contratadas pela administração pública

Vale também citar a primeira frase do programa de governo da candidata: "a democracia brasileira é uma falácia".

A IMPRENSA NÃO GOSTA DE POPULISTAS. E NEM DE POVO.

Populista. Nunca foi tão fácil. Repita você também: populista. O adjetivo está na moda na imprensa brasileira. Preferencialmente nas reportagens sobre a Bolívia e seu presidente, Evo Morales. Nacionalização de refinarias? Populismo. Expropriação de terras dos brasileiros? Populismo. Corte de impostos? Populismo.


O termo está tão entronizado na imprensa, que pode ser usado sem explicações. Se a matéria for sobre Evo Morales ou Hugo Chávez, pode usar sem preocupação. Afinal, todo mundo está fazendo o mesmo. Hoje, “populista” é ofensa tão grave – e fácil, porque não quer dizer nada - quanto “neoliberal” foi quando FHC estava no poder.

Segundo a wikipedia, o populismo se caracteriza pela ligação direta que um governante tem com o povo, sem intermediação de partidos ou instituições. Para quem conhece o termo só dos jornais, pode-se pensar que populismo são medidas irresponsáveis para alegrar o povão, medidas eleitoreiras, enfim, medidas de esquerda. Populismo é governar para o povão – e isso é perigosíssimo. Uma ameaça que a imprensa, guardiã das instituições, deve combater diariamente.

E Lula? Lula é populista. Bolsa-Família, aumento do salário mínimo, corte de impostos para o cimento e o arroz, tudo isso atende só ao povão. Além disso, sua imagem é maior que a do seu partido ou que suas idéias e propostas. E por que não é chamado de populista da mesma forma que Morales e Chávez? Será porque paga juros de 15% ao ano?

Serviço: grande artigo do professor José Luís Fiori sobre como países de diversos continentes estão adotando medidas de valorizar suas reservas naturais frente às empresas que as exploram – como fizeram Morales e Chávez. Lá fora, isso é nacionalismo. Aqui, é populismo.

27.5.06

VEJA USA DANIEL DANTAS CONTRA LULA

Veja quer derrubar Lula, e aposta nos segredos que Daniel Dantas esconde. A revista parece acreditar que o banqueiro do Opportunity é o caminho mais rápido para desmoralizar Lula em sua campanha pela reeleição. Por isso, caminhou junto com DD trocando informações há pelo menos seis meses. Mas agora detonou a parceria e pôs o banqueiro na berlinda, na aposta que a pressão o force a abrir sua caixa-preta contra o PT. Para isso, fecha o cerco a qualquer acordo que o banqueiro possa fazer para ficar bem com o governo.

Há duas semanas, a revista revelou que Dantas possuía um dossiê com supostas contas de petistas no exterior, entre eles Lula. Na semana passada, contou que Dantas e Tomaz Bastos se reuniram em Brasília para tratar de uma trégua. Nesta semana, o repórter Policarpo Júnior conta detalhes da reunião. A história é nitroglicerina pura:

O encontro foi na casa do senador Heráclito Fortes, do PFL do Piauí e notório mensageiro de Dantas no Congresso. Além dele, estavam também presentes os deputados petistas José Eduardo Cardoso e Sigmaringa Seixas. Os dois também tem contatos de longa data com DD. O encontro serviu para negociar a ida do banqueiro ao Congresso. A CPI dos Bingos queria chamá-lo a depor, para explicar a história das contas no exterior. Bastos, em nome do governo, negociou para que ele fosse convidado para depor na Comissão de Constituição e Justiça no Senado, onde seria mais bem-recebido e bem-tratado. Foi o que de fato aconteceu. O banqueiro vai à CCJ no dia 7 de junho.

Na reunião, depois que Bastos foi embora, DD ameaçou, dedo em riste:

- Que cumpram comigo o que foi tratado. Eu não afundo só. Se eu descer, levo junto PFL, PSDB e PT.

O ministro da Justiça e o banqueiro investigado pela Polícia Federal dizem a mesma coisa sobre o encontro: DD negou que tivesse passado o dossiê das contas de petistas à Veja, Bastos ficou de avisar ao presidente. E só.

Veja arriscou-se publicando um dossiê sem nenhuma comprovação, mas conseguiu expor Dantas e amedrontar o PT. Parece estar na pista certa. Até porque se DD não entregou o dossiê à Veja, deveria processar a revista por mentir descaradamente há três semanas. Por que não o fez? Taí uma boa pergunta a ser feita ao banqueiro. Até agora, quem está processando a revista é Lula.

Até mesmo a CartaCapital, que apóia Lula, mas quer ver Dantas na cadeia, traz na capa uma matéria denunciando o conluio entre DD e o PT. CartaCapital cita uma fala de um ministro do governo, não identificado:

- O medo do PT tem nome. É Daniel Dantas.

26.5.06

AMEAÇA À DEMOCRACIA: NINGUÉM FOI EM CANA

Jornalistas se acham guardiões das instituições. Se colocam nesse papel quando a ameaça vem do povo. Um exemplo foi o comentário do Merval Pereira na rádio CBN. Sobre o deboche que o advogado Sergio Wesley fez no Congresso ontem ("aqui, malandragem a gente aprende rápido"), Merval disse que as cartas dos leitores nos jornais mostram apoio à fala do advogado. Denunciou o perigo do povo não acreditar mais nos picaretas de sempre: "isso é gravíssimo, uma ameaça à democracia". Continuou: "temos que pensar formas de arrumar isso na próxima legislatura".

Caro Merval, não precisa esperar a eleição: basta alguém ir em cana. Francenildo, o caseiro que dedurou Palocci, tinha 30 mil reais na conta e foi investigado por lavagem de dinheiro. Vossa Excelência Vadão Gomes recebeu mais de 3 milhões de Marcos Valério (sem nota fiscal, sem declaração na Receita) e continua exercendo suas funções de deputado. Se estivesse na cadeia, nossas instituições mereceriam mais respeito.

Há dois meses o procurador-geral da República apresentou denúncia contra os 40 ladrões do mensalão. Até hoje, os acusados nem foram notificados. Formalmente, não são nem acusados de nada. Podem viajar para onde quiserem. Zé Dirceu não recebeu sua notificação porque a Justiça não sabe onde ele mora. Na lista telefônica tem. É em São Paulo, na Vila Clementino, Rua Bacelar, 212, ap 71.

O juiz Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, deu entrevista ontem sobre o processo do mensalão, que está sob sua responsabilidade. Segundo ele, o procurador-geral pediu prisão preventina de alguns dos 40 ladrões. Mas o magistrado federal negou todas. Segundo ele, não há motivos para isso. Não ocorre à excelência que, enquanto continuam soltos, Delúbio Soares e Marcos Valério podem destruir provas, aliciar testemunhas ou simplesmente continuar a distribuir dinheiro não-contabilizado.

Um belo combate à desdemocratização do Brasil seria a Polícia Federal apreender todos os computadores de Marcos Valério e da sede do PT. Outro seria deixar Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, dormir uma noite no xadrez para ver se ele conta como foi a quebra de sigilo do caseiro Francenildo (não ia ser tão ruim, afinal ele tem direito a prisão especial). Mais um seria instaurar um inquérito policial contra Severino Cavalcanti por corrupção ativa. Depois que ele renunciou, ninguém mais o incomodou. Deve se reeleger em 2006.

25.5.06

A POLÍCIA DE SÃO PAULO NÃO FAZ PRISIONEIROS. FAZ ASSASSINATOS "PREVENTIVOS".

O IML de São Paulo tem 132 cadáveres de pessoas mortas a tiros na semana passada. É o saldo da guerra da polícia contra o PCC. E mostra que nessa guerra não se faz prisioneiros. A Secretaria de Segurança Pública concordou em divulgar o nome de 79 mortos. Os que efetivamente são suspeitos de ligação com o PCC.

Detalhe importante: desses 79, 62 foram mortos em cofronto com a polícia. Os outros 17 foram "mortes preventivas" - foram denunciados por telefone e a polícia chegou lá e matou. "Morte preventiVa" é classificação da própria Secretaria. É como a "guerra preventiva", que jogou bombas em Bagdá há três anos.

O que precisa ser esclarecido:

Quantos mortos foram executados (tiro na cabeça ou na nuca)?

Quantas armas foram apreendidas nos confrontos com a polícia? Isso pode ajudar a mostrar como foram esses "confrontos".

Se alguém tem ligação com o PCC, a polícia pode matar?

Em nome de qual interesse o governo de São Paulo esconde os nomes dos outros mortos?

ADVOGADO DO PCC VAI PRESO. NÃO PELO CRIME QUE COMETEU.

Sergio Wesley da Cunha, advogado de um presidiário acusado de vender armas ao PCC, foi preso hoje na CPI do Tráfico de Armas. Ele estava lá porque comprou uma cópia de um depoimento secreto de dois delegados que investigam o PCC. Mas não foi preso por isso.

Frente a frente com o funcionário que lhe vendeu o CD, Sergio se recusou a responder várias perguntas dos deputados. O deputado Arnaldo Faria de Sá se irritou:


- O senhor aprendeu com a malandragem.

- Aqui a gente aprende rápido - respondeu Sergio.

Foi preso na hora por desacato. Foi algemado, levado pela polícia do Congresso, assinou um termo e foi liberado. Ficou assim: Sergio comprou um depoimento secreto, subornou um funcionário, mentiu na CPI e foi algemado por dizer que no Congresso tem malandragem (como se não tivesse). Vai passar mais uma noite em casa, transitando por onde quer. É muita malandragem.

O presidente da CPI, Moroni Torgan, que é ex-delegado federal, vai pedir a prisão preventina de Sergio e de Mariola, a advogada de Marcola.

LULA GANHA NO 1° TURNO

Do jeito que está hoje, Lula leva no 1o turno. A pesquisa CNT/Sensus aponta que ele tem mais votos que todos os outros candidatos juntos. Nos últimos 30 dias, Lula tirou votos de Alckmin e Garotinho. Veja na tabela abaixo quem subiu e desceu de abril a maio:


Lula ganhou três pontos percentuais, Alckmin perdeu 1,9 ponto, Garotinho perdeu 3,6 pontos e Heloísa Helena ganhou 1,8. "Nosso Guia" está com 40% das intenções de voto. Ganhou o primeiro turno em 2002 com 39,4 milhões de votos. Já tem 34,6 milhões.

Garotinho foi quem mais perdeu votos nesses 30 dias. Os mesmos em que ele protagonizou sua greve de fome de uma semana e meia. E até agora não saiu o direito de resposta dele, nem no Globo nem na Veja.

Alckmin perdeu quase dois pontos percentuais. Está com menos de 19% das intenções de voto. Serra terminou o 2o turno com 23% dos votos válidos em 2002. Mas ninguém nunca achou que Alckmin fosse mais longe que Serra. O jornalista Ricardo Noblat conta uma fofoca que rola nos bastidores do tucanato:

O PSDB decidiu ir para a eleição com o candidato reserva. Muita gente no partido já achava que Lula é imbatível, mesmo com o PT na lama, então optaram por não queimar seus principais cartuchos: Aécio Neves e José Serra. Assim, eles governam por mais quatro anos os estados de Minas Gerais e São Paulo e chegam quentes em 2010.

24.5.06

CURIOSIDADE LEVA ADVOGADA DE MARCOLA À CPI

Maria Cristina Rachado é advogada de Marcola, chefe do PCC. Mariola achou que seu cliente estaria no Congresso na quarta-feira 10 de maio. Pegou um avião para Brasília. Quando chegou aqui, viu que não teria depoimento nenhum, e como não tivesse mais o que fazer, ficou no Congresso tomando cafezinho. Encontrou Sergio Wesley da Cunha, advogado de Leandro de Carvalho, presidiário acusado de vender armas ao PCC. Sergio estava na CPI do Tráfico de Armas porque dois delegados da Polícia Civil de São Paulo, que investigam o PCC, prestaram depoimento na CPI.

O depoimento era sobre a investigação contra Leandro, e Sergio queria participar da conversa. Os delegados pediram uma sessão secreta, e se trancaram com os parlamentares numa salinha do Congresso. Como é regra numa CPI, a conversa foi gravada por um funcionário do Congresso. Enquanto o tal funcionário saía e entrava da salinha para tomar café, começou a conversar com Sergio e Maria Cristina, que esperavam do lado de fora. Sergio insistiu com o funcionário que queria o depoimento, porque na sua opinião, era um direito constitucional de seu cliente. Mariola participou da conversa porque não tinha mais o que fazer.

O funcionário, muito prestativo, saiu da sala com o depoimento. Disse que só poderia fazer cópias do CD num shopping de Brasília. Sérgio foi junto, no interesse do seu cliente. Mariola também, por “curiosidade”. Mariola pagou o táxi e o serviço de reprodução. Se despediram, e Sergio seguiu para o aeroporto. Mariola perdeu a “curiosidade” e entregou seu CD para o funcionário do Congresso. Tudo na quarta, dia 10.

Sergio admitiu ter ouvido o CD, mas não o passou a ninguém. Mariola, nem ouviu o CD. Foi a história que contaram ontem na CPI do Tráfico de Armas.

No CD, os delegados disseram que iam transferir de presídio 700 presos ligados ao PCC, inclusive Marcola, que foi para um presídio de segurança máxima. Na sexta 12, estouraram rebeliões em mais de 30 presídios paulistas e começou a matança de policiais. Há informações que o depoimento dos delegados foi transmitida para os presídios via celular, na quinta-feira dia 11.

A se acreditar nos doutores do crime, conclui-se o seguinte:

Sergio ouviu o depoimento e achou que ali não tinha nenhuma informação que interessasse ao seu cliente, afinal não tratou disso com ninguém. O trabalho de vir a Brasília e pegar o CD foi inútil.

A curiosidade de Mariola é grande, mas passa rápido.

O funcionário do Congresso acredita na livre informação e conta o que for a quem quiser ouvir. Inclusive conversas dos outros.

As rebeliões e a matança em São Paulo não tivera nada a ver com a transferência de presos do PCC. Foi outro motivo, não se sabe qual.

Se a história deles for conversa de advogado, a conclusão é outra:

De posse do CD, os dois ou um deles avisaram seus clientes. Os bandidos não gostaram dessa história da transferência e ordenaram à bandidagem que tocassem o terror em São Paulo, pra mostrar que bandido não é trouxa.

Então, resta a dúvida: na CPI, os advogados escolheram falar a verdade ou simplesmente apresentaram sua defesa?

GLOBO PROÍBE CHAMAR PCC PELO NOME

As organizações Globo decidiram não mais mencionar o Primeiro Comando da Capital pelo nome. Referem-se a ele como “facção criminosa de São Paulo”. PCC é palavra proibida tanto na TV Globo como no jornal O Globo como na rádio CBN. O Estadão e a Folha continuam chamando o PCC pelo nome.

A razão não foi divulgada, e até agora nem comentada por nenhum outro veículo. Alguém da chefia da Globo deve achar que dar nome aos bois é dar moral pra bandido. Lembra outro caso, há muitos anos, quando o falecido Marcinho VP deu uma coletiva para vários órgãos de imprensa. Na ocasião, o trato com os jornalistas que subiram o morro era que a entrevista seria dada, desde que Marcinho VP não fosse identificado pelo nome. Quase todo mundo quebrou o trato, e estampou o nome do traficante em suas páginas. Um repórter ligou para o editor encastelado na redação e explicou o trato. “Com bandido não tem acordo”, foi a resposta do chefe.


Quando explodiram os ataques do PCC em São Paulo, acusou-se o governo paulista de fingir que o PCC não existia. Alguém já disse uma vez: “o jornalista é como o galo que acredita que o sol só levanta quando ele faz cocoricó”.

22.5.06

LULA vs. VEJA vs. DANIEL DANTAS

Briga é bom. Ainda mais de peixe grande. Como a de agora: envolve o ministro da Justiça, o banqueiro dono do Opportunity, a revista Veja e a Polícia Federal. Começou com uma reportagem de Veja na semana passada, que informava que espiões a serviço de Daniel Dantas tinham informações sobre contas de Lula e seus ministros no exterior. Veja deu a matéria, e mostrou os papéis, mas deixando claro que podiam tanto ser falsos como verdadeiros.

Só não rendeu mais assunto que o PCC. Lula chamou a revista e seus jornalistas de irresponsáveis, criminosos. Dantas negou ter repassado os papéis à Veja. Veículos de crítica de mídia caíram em cima da Veja, a começar por Alberto Dines, destacando a irresponsabilidade da revista em publicar material duvidoso. No resumo da imprensa, quase todo mundo disse que a revista afirmara que Lula tinha contas no exterior.

Veja comprou a briga. Atacou os “jornalistas ingênuos” que compram os desmentidos do banqueiro Daniel Dantas, mandou os papéis para o procurador-geral da República (“talvez a única pessoa com isenção para investigar o caso”) e detonou que Dantas e Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça, se encontraram na casa do senador Hieráclito Fortes, do PFL do Piauí, para negociar um acordo. Como a Polícia Federal ia interrogar Dantas nesta semana, já há notícias de descontentamento na PF em relação a esse encontro. Tudo em off, que os policiais não vão desancar o chefe abertamente.

Nessa briga, cada um tem seu jogo. Veja quer ver Lula se fuder, por isso publicou os papéis de Dantas, e jogou a responsabilidade para a Justiça investigar o que eles não conseguiram apurar. Dantas quer fechar um acordo com o governo, por isso faz pressão. Thomaz Bastos defende Lula, por isso conversa com Dantas para acalmar os ânimos do banqueiro. E a PF quer dar credibilidade às suas investigações, por isso fala mal da reunião que seu chefe fez com o banqueiro.


Mas se a PF quisesse mesmo investigar mesmo as falcatruas entre o PT e Dantas, o assunto está na coluna do Diogo Mainardi da semana passada. Na mesma edição em que Veja publicou os papéis de Dantas, Mainardi apresenta uma entrevista com o banqueiro. O que tem ali é nitroglicerina pura. Na entrevista, Dantas diz com todas as letras que Ivan Guimarães, tesoureiro do PT, achacou o banco Opportunity. O PT queria 50 milhões de reais para facilitar as relações de Dantas com o governo.

Se isso não é crime, o PC Farias não devia ter sido incomodado. Mas acabou preso, depois morto com dois tiros no peito. Ivan Guimarães, Delúbio Soares e Marcos Valério circulam livremente por onde querem.

OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

Alberto Dines está feliz da vida. A cereja de seu bolo foi a matéria de Veja que mostra papéis com contas de Lula no exterior, mas diz que tudo pode ser fraude. Era a munição que Dines precisava. Publicou um texto no Observatório da Imprensa em que classifica o conteúdo da matéria com adjetivos como “fanfarronice juvenil”, “clássico do cinismo”, “bíblia do parajornalismo”, “atestado de óbito jornalístico”, “decadente”, “duvidoso”, “incoerente”, “inconsistente”, “incerto” e “inseguro”. Para Dines, Veja quer “derrubar a autoridade máxima do país” e cometeu um crime de “lesa-pátria e lesa-majestade”. Assim, Veja estaria condenando não apenas a si mesmo, mas a toda a imprensa.

E o Diogo Mainardi? É uma avenida para Dines. Quando Lula reclamou da matéria assinada por Marcio Aith, “fica evidente que se referia ao parajornalista e pau-mandado Diogo Mainardi, que pegou carona na entrevista concedida pelo banqueiro Daniel Dantas”. Agora que o colunista ameaça processar Lula pelas ofensas à revista, Dines acha que “Mainardi está angustiado, corroído por dúvidas existenciais”. O colunista de Veja quer ganhar um trocado às custas da raiva de Lula. Mas para isso, o STF tem quer dizer que ele é mesmo um "bandido, mau-caráter, malfeitor e mentiroso", como Lula o acusou.

Infelizmente, Dines fica só nos adjetivos. Quer contra-atacar Mainardi no terreno da ironia, e abre mão da análise, que deveria ser a matéria-prima de seu Observatório.

Outro “observador”, Luiz Antônio Magalhães, tenta fazer análise, mas está de carona na onda de malhar o Mainardi. Cita datas e textos para sustentar a teoria de que Veja e Diogo Mainardi não fazem jornalismo, mas política. Mas se esforça tanto que acaba falando merda: diz que o “espaço de comentário político na Veja” ocupado pelo falecido Tales Alvarenga foi substituído por André Petry. Primeiro, não teve substituição. Os dois começaram a assinar colunas em Veja no mesmo dia. Cada um a sua. Segundo, o “espaço de comentário político” está em todas as páginas da revista. Até nota de canto de página tem comentário político. Todo mundo sabe, e a Veja não esconde.

Mas o que mata é a conclusão do “observador”: “A cada dia que passa, porém, cresce a sensação de que a revista Veja perdeu o senso de realidade e se dedica não ao jornalismo, mas a uma campanha política contra Lula e o PT”. Porra, essa deve ser maior descoberta desde que a maçã caiu na cabeça de Newton. Quanto será que estão pagando pra esse cara?

19.5.06

NÃO CHAMEM MARCOLA PARA DEPOR NA CPI

Já tem gente no Congresso que quer chamar Marcola para depor na CPI. Mas é bom que o depoimento seja secreto, senão muito parlamentar pode ser processado por “apologia ao crime ou a criminoso”, como aconteceu com Roberto Cabrini.

Caso Marcola venha a depor na CPI, suas palavras serão veiculadas para todo o Brasil, seja na TV Câmara, seja nos jornais ou na mídia. Certamente. Porque Marcola falando é notícia.


Aos deputados que querem aparecer às custas de Marcola, um aviso da Secretaria de Administração Penitenciária de SP: “a veiculação de conversas com integrantes de facções criminosas é sensacionalista, assusta a sociedade e prejudica as investigações”

JORNALISTA NÃO É NOTÍCIA

O Jornal Nacional de quinta-feira simplesmente ignorou a polêmica sobre a entrevista que Roberto Cabrini fez com Marcola, chefe do PCC. O jornal do SBT, da Ana Paula Padrão, mencionou as acusações do governo paulista contra Cabrini, mas sem citá-lo. Na internet, o assunto mereceu capa dos principais sites, principalmente do Globo On-Line.

O Jornal da Band, apresentado por Ricardo Boechat e Joelmir Betting, colocou Cabrini no ar, que deu uma curta entrevista, mas reveladora. Segundo ele, a entrevista foi conseguida por meio de conversas com integrantes do PCC. Cabrini acompanhou a negociação da entrevista por meio de conferências via celular. A confirmação da identidade e da voz de Marcola foi feita por pessoas próximas ao criminoso, “inclusive advogados dele”.

William Bonner deve seguir a máxima de Franklin Martins, a de que “jornalista não é notícia”. Mas um bandido que deveria estar incomunicável, dar uma entrevista via celular, é notícia, e das quentes. Ainda mais se rendeu uma reação histérica como foi a da Secretaria de Administração Penitenciária, de SP.

Se a entrevista for falsa, tudo isso vai por água abaixo. Coisa que uma perícia de Ricardo Molina pode comprovar. Basta o governo ter interesse em levar o caso até o fim. Até lá, atente-se para as palavras do delegado Godofredo Bittencourt, que comanda as investigações sobre o crime organizado em SP, sobre a entrevista de Marcola a Cabrini:

- Ficamos surpresos, mas sabe Deus, tudo vem acontecendo. O normal era para não ter acontecido isso, mas o normal também era para não terem vendido meu depoimento.

Na quarta-feira anterior aos ataques do PCC em São Paulo, o delegado foi a Brasília prestar depoimento secreto no Congresso Nacional. Nesse dia, Bittencourt revelou que faria a transferência de Marcola e outros 700 presos. Dois advogados do PCC compraram o depoimento por 200 reais. Na sexta, começou a matança de policiais em São Paulo.

18.5.06

ENTREVISTA DE MARCOLA DEIXA GOVERNO DE SP HISTÉRICO

O Governo de São Paulo está uma arara com Roberto Cabrini, apresentador do Jornal da Noite, da Band. Na madrugada de quinta, Cabrini apresentou uma entrevista com Marcola, chefe do PCC, concedida por celular. O problema é que a Secretaria de Administração Penitenciária jura de pés juntos que Marcola está incomunicável no presídio de Presidente Bernardes. Se é assim, como conseguiu falar ao celular com Cabrini?

A Secretaria já divulgou nota afirmando categoricamente que a entrevista é falsa, e que vai processar a Bandeirantes e a Record (que também exibiu a entrevista) por apologia ao crime. Antes, tinha dito que cabia à Band comprovar a veracidade da entrevista.

A reação é histérica e demagógica.

Histérica porque atesta a falsidade da gravação sem ter ido revistar Marcola ou nenhuma outra ação. Marcola está incomunicável porque a burocracia diz que está. E ponto. Uma perícia pode confirmar se a voz de Marcola é a mesma que foi apresentada na entrevista. Basta ligar para Ricardo Molina.

Demagógica por ameaçar Cabrini com um processo por apologia ao crime. Na nota, a Secretaria de Administração Penitenciária diz que a veiculação de conversas com integrantes de facções criminosas é sensacionalista, assusta a sociedade e prejudica as investigações. Se a entrevista foi forjada, o crime pode ser de prática comercial abusiva, falsidade ideológica ou divulgação de notícia falsa. Gugu Liberato, em setembro de 2003, comprovadamente forjou uma entrevista com integrantes do PCC (eram, na verdade, figurantes do Domingo Legal), e foi processado por esses crimes, não por apologia.

Se a entrevista foi verdadeira, onde está a apologia a Marcola? Não houve elogios, nem defesa do bandido. Se entrevistar criminosos é apologia, então tem muita gente na fila para ser processado.

Roberto Cabrini não é Gugu Liberato. É acostumado a grandes coberturas, a dar furos e fazer reportagens arriscadas. Já entrevistou outros criminosos, como PC Farias e Salvatore Cacciola, quando eles estavam foragidos da Justiça. Não é enganado facilmente, nem precisa imitar Gugu para manter seu ibope.


Diante da notícia que Marcola falou pelo celular, o governo paulista poderia revistar a cela de Marcola, interroga-lo, perguntar a Cabrini qual o número do celular, quem o forneceu, fazer a perícia de voz. Em vez de investigar uma irregularidade grave (Marcola ter acesso a um celular), preferiu atacar o mensageiro dessa irregularidade.

10.5.06

... E O FRANKLIN SE FUDEU!

Franklin Martins foi demitido da Globo. Está oficialmente desempregado. E o Diogo Mainardi deve estar achando graça. Afinal, foi Franklin quem lançou um desafio a Mainardi, e quem perdesse, estaria fora da profissão. “Bola ou búrica”.

Franklin não está fora da profissão, mas perdeu o emprego. A direção da Globo apressou-se a informar que a demissão não tinha nada a ver com as colunas da Veja, mas o cheiro de cagada ainda está no ar. Franklin se expôs ao responder com prepotência ao polemista de Veja, e meteu o rabo entre as pernas quando recebeu uma tréplica violenta. Em vez de levar até o fim uma discussão que alimentou, preferiu deixar morrer o assunto depois tomar uma paulada ainda mais desmoralizadora.

Alberto Dines, que também já foi avacalhado por Mainardi, foi a única voz a defender Franklin Martins, em dois artigos no Observatório da Imprensa. Defender talvez não seja a palavra, uma vez que Dines preferiu atacar Mainardi a explicar porque não tem nada demais seu colega ter um monte de parentes em cargos comissionados no governo.

Franklin, se quiser, ainda está de pé o convite de Lucas Mendes para ir ao Manhattan Connection debater o tema com o próprio Mainardi. Esse já diz que topa.

Serviço:
A coluna de Mainardi
O desafio de Franklin

O achincalhe final que ficou sem resposta

9.5.06

A FICHA AINDA NÃO CAIU PARA A PETROBRÁS

Evo Morales tomou as instalações da Petrobrás na Bolívia. Lula aceitou e disse que vai segurar qualquer aumento no preço do gás. A Petrobrás ainda tenta chorar qualquer migalha.

Na terça, o presidente da Petrobras começou pedindo indenização boliviana pela "nacionalização" dos equipamentos da Petrobrás. De Caracas, terra de Hugo Chávez, Sergio Grabrielli disse que "a Constituição boliviana diz que é possível a nacionalização, mas com uma indenização prévia. Temos que iniciar uma discussão sobre isso." Mas ele não fará proposta nenhuma. Vai esperar que a Bolívia sugira uma indenização.

Na mesma terça, Sergio Gabrielli "rejeitou" a nova diretoria da refinaria que pertencia à Petrobrás, escolhida pelo governo boliviano. Gabrielli grita sozinho contra um fato consumado, aceito por Lula. E aplaudido por Nestor Kirchner e Hugo Chávez.

Gabrielli é presidente de uma empresa de capital aberto, com acionistas privados. Por isso, briga contra a Bolívia em nome do capitalismo. Mas deve seu emprego a Lula, que o indicou ao cargo. Como bom petista, defende o interesse público, porém sem esquecer quem é o chefe.

SILVINHO DO PT E OS BOÇAIS DO PSDB

A entrevista de Silvio Pereira à repórter Soraya Aggege repercutiu com muito barulho no Congresso e nos jornais, mas trouxe apenas duas informações importantes: existem mais 100 Marcos Valérios operando hoje e tem gente que quer vê-lo sete palmos abaixo da terra. Nenhuma das duas rendeu manchetes.

A idéia geral vendida ao público é que a entrevista reacendeu a crise do mensalão, por isso se fala tanto na convocação de Silvinho à CPI dos Bingos, das "novas revelações", das "fontes do Planalto" que o classificam como louco, etc. Isso é besteira grossa. Silvinho não falou nada de novo sobre o mensalão. Foi um cadáver que saiu da cova. Um petista que mostrou seu desespero com o mundo de falcatruas com o qual se comprometeu. Na entrevista, Silvinho Land Rover contou que Marcos Valério não contou tudo que sabia. Se contasse, "derrubaria a República", porque sabia podres de todos os partidos e todos os poderes. Se não contasse, seria morto, viraria queima de arquivo como aconteceu com PC Farias. Ficou no meio do caminho.

Mas o que importa para a oposição de ocasião é queimar Lula, e trazer de volta à baila Dirceu e Palocci. Por isso querem Silvinho acusando Lula na CPI. Não o querem entregando nem Marcos Valérios nem os outros 100 iguais a eles. Não querem saber quem poderia matá-lo. Não querem saber que outros podres ele poderia revelar. Não querem dele a verdade, porque poderia chamuscar mais gente que Lula, o alvo principal. Silvinho é mais um instrumento eleitoral. Assim como o Bolsa-Família impulsiona Lula nas pesquisas, espera-se que o mensalão e a corrupção sirvam à eleição de Alckmin.

No comitê de campanha do PSDB, acredita-se que os eleitores têm a obrigação de votar em Alckmin porque "reeleger Lula é coisa de pobre" (informação chupada da coluna de Elio Gaspari).

2.5.06

O QUE RESTA A LULA É FAZER GREVE DE FOME

Elio Gaspari descreveu no Globo de hoje a aura mística que cerca Lula, "Nosso Guia" (definição do chanceler Celso Amorim, repetida à exaustão por Gaspari), proveniente da crença que o política externa é um dos pontos fortes deste governo. Lula e a Petrobras levaram um balão de Evo Morales. A Petrobrás, na Bolívia, é da Bolívia. Expropriação, confisco, estatização. Essas são as palavras certas. Pode-se apoiar ou recriminar o decreto boliviano, mas ele já era esperado.

Carlos Chagas especulou na Tribuna da Imprensa as alternativas de Lula. Boicote econômico, guerra, abertura de processos internacionais, nada vai levar a lugar nenhum. O gás deve ficar mais caro, e os consumidores vão pagar a conta, sob a batuta de "Nosso Guia". Ele e Evo Morales vão conversar na quinta, mas não vai ser uma cachacinha e um churrasco na Granja do Torto que vão fazer as negociações recomeçarem. Nada vai, já está feito. É como a renegociação da dívida externa argentina, que Lula se recusou a apoiar. Teve gente que foi a Washington malhar a proposta de Nestor Kirchner. Que deu certo, porque a Argentina impôs seu jogo. Como fez Evo Morales.

O gás é deles. Agora, o equipamento que opera a extração e a distribuição, também. Para os brasileiros, sobrou a conta. Carlos Chagas sugere que Lula faça greve de fome.

1.5.06

EVO MORALES E GAROTINHO: OS RADICAIS

O problema com os radicais é saber até onde eles realmente estão dispostos a ir. O 1º de maio contou com dois casos de radicalismo. Resta saber no que vai dar.

O primeiro caso já era anunciado. É a estatização das empresas que exploram gás e petróleo na Bolívia, nossa Petrobrás inclusa. A imprensa fala em “nacionalização”, que não explica nada, e mostra como ninguém está entendendo nada. Evo Morales quer pagar às empresas exploradoras 18% dos ganhos com a comercialização do gás e petróleo. Na prática, o governo boliviano está invertendo as posições. Até ontem, a Bolívia ficava com 18% do lucro das empresas, a título de royalties (fora os impostos). As empresas pagavam 18% pelo uso dos recursos naturais da Bolívia. Agora, a Bolívia vai pagar 18% pelo uso da tecnologia e instalações das empresas. As empresas têm seis meses para assinar contratos com as novas condições. Ou aceitam, ou vão embora.

A liderança estratégica do Brasil na América Latina vai passar os próximos dias correndo atrás do prejuízo. Como se tivesse sido pega de surpresa. Dois presidentes bolivianos renunciaram ao posto quando protestos liderados por Evo Morales tomaram as ruas. Os protestos exigiam exatamente isso: arrocho nas empresas que exploram os recursos naturais do país. Se Evo Morales tentasse resolver a situação na conversa, poderia acabar como seus antecessores. Radicalmente chutado.

Esse deve ir até o fim.

O segundo caso foi a greve de fome de Anthony Garotinho. Foi uma reação à altura à capa de Veja que o mostra como capeta, de rabo e chifre. Se o mostram como o cão, ele vai de mártir. Garotinho tem em Getúlio Vargas um de seus grandes inspiradores, ao lado de JK. Getúlio entrou para a história com um irrevogável tiro no coração. Garotinho ameaça agonizar em praça pública, mas até agora ninguém o levou a sério. Ele quer espaço de defesa da imprensa (de graça) e monitoramento internacional do processo eleitoral. Já se pergunta quem vai monitorar sua greve de fome.

Esse desiste já, já. Seria bom que se mantivesse firme até o fim. Políticos brasileiros desistem fácil, gostam de conciliações que só servem para que nada mude. Um pouco mais de radicalismo nos faria bem.

FALA, FRANKLIN

Franklin Martins resolveu ignorar Diogo Mainardi. O comentarista da Rede Globo tem uma irmã no Ministério do Planejamento, um irmão na diretoria da Agência Nacional do Petróleo e sua esposa trabalha para Aloizio Mercadante. Poderia escrever outro artigo intitulado “tenho, e daí?”, onde explicaria suas regras de conduta para não misturar conversas de família com apuração jornalística. Talvez algumas de suas regras estejam na lista a seguir:

Ninguém fala de trabalho na mesa de jantar. Nem na cama.

Tudo que ouve da família fica em off.

Os contratantes dos parentes ficam fora de sua pauta.

Ele usa tudo que descobre dos parentes. Trouxas são os que contratam parentes de jornalistas.

Franklin já disse que “jornalista não é notícia”. Pela mesma lógica, “parente não é fonte”.

Ainda nessa lógica, “patrão de parente de jornalística não é notícia”. Pelo menos para o jornalista em questão.

Os parentes de Franklin Martins têm o direito de trabalhar onde quiserem, e nada o impede que ele continue dando opiniões na Globo, na CBN e na Globonews. Mas se ele quiser continuar falando de “jornalismo com espírito público e ética”, seria bom que não fugisse a uma discussão que ele mesmo alimentou. Espírito público e ética são princípios que devem ser seguidos por todos, de preferência por quem trabalha no governo. Para jornalistas, outros princípios interessantes seriam disposição de discussões públicas e exposição de suas convicções. Principalmente nos casos de jornalistas cujos nomes já são griffes. É o caso de Franklin Martins. Ele mesmo disse isso.

27.4.06

FRANKLIN MARTINS vs DIOGO MAINARDI

Na discussão em que os dois se meteram há duas semanas, falta ao Franklin Martins dizer no quê deu o desafio que ele lançou na semana passada. Pediu "tudo ou nada" a Mainardi. Quem perdesse, largava o emprego.

Diogo Mainardi escreve semanalmente a mais de 1 milhão de leitores da Veja. Resolveu contar quais jornalistas de Brasília tinham parentes ou cônjuges atuando diretamente no poder federal, o que classificou como “frouxidão ética”. Mostrou falas de senadores empolgados ao nomear Victor Martins, irmão de Franklin, diretor da ANP - a agência reguladora do mercado de combustíveis. O senador Luiz Otávio, do PMDB, comentou: "Os 42 votos favoráveis a Victor Martins são uma homenagem nossa ao jornalista Franklin Martins". A nomeação de Victor foi assinada pelo presidente Lula.

O jornalista da TV Globo desafiou Diogo a nomear um único senador que tenha recebido pedidos dele em favor do irmão. Victor Martins levou o cargo porque é um “profissional conceituado na área do petróleo”. Se um confirmasse o lobby, Franklin pediria as contas e abandonaria o jornalismo. E anunciou processo indenizatório contra Diogo na Justiça civil. Seu artigo de resposta chama-se “Desafio a um difamador travestido de jornalista”. Termina assim dizendo que “o macartismo não me intimida. O sr. Mainardi, muito menos”. O artigo foi publicado em sites direcionados a jornalistas.

A tréplica veio na Veja: “Eu sei que Franklin Martins jamais pediu algo a um senador. Eu sei também que muitos parlamentares jamais pediram o mensalão. Foi-lhes oferecido. Eles simplesmente aceitaram.” De quebra, Mainardi ainda citou os empregos públicos da mulher de Franklin e de outra irmã Martins. “É muito ‘profissional conceituado’ para uma família só”.

Mainardi vive de polêmica, é o que lhe garante seu posto de estrela da Veja, ocupando apenas dois terços de página por semana. E é bom de deboche. Em seu artigo, Franklin Martins chamou Diogo de "difamador", "leviano", "anão de jardim", "doidivanas", "bufão", "caluniador", "tolo enfatuado" e "bobo da corte". Mainardi repetiu todos os adjetivos, e disse que só não aceitava ser chamado de bobo da corte. “Quem pertence à corte é Franklin, que tem o irmão nomeado diretamente pelo presidente da República”, disparou o colunista.

Outros jornalistas citados simplesmente ignoraram Mainardi. Franklin Martins lançou um desafio do tipo “tudo ou nada, bola ou búrica”. E ganhou uma resposta abaixo da linha da cintura.

E agora, Franklin?

PAULO OCTÁVIO vs REGUFFE

Reguffe, o dublê de jornalista e aprendiz de político, entrevistou Paulo Octávio para seu programa na TV APOIO (canal 22 da NET). Ele tenta. Lembra quando, no auge das denúncias sobre o TST contra Luiz Estevão, o então senador foi falar com Reguffe? Lulu massacrou todas as perguntas do entrevistador, falou grosso e deu toda a sua versão no programa. Reguffe ficou sem palavras.

A P.O., Reguffe pergunta se seria ético contratar pessoas para fazer propaganda eleitoral (a respeito das camisetas e adesivos que já circulam na cidade, com a sigla do empresário).

- “Quem contratou que pessoas? Eu já vi muitos carros com o adesivo de Reguffe.”

Reguffe pediu os comerciais. Depois, perguntou se não haveria conflito de interesses na candidatura ao governo, sendo Paulo Octávio empresário e político. A resposta novamente aludiu ao entrevistador:

- Se eu fosse médico, seu fosse jornalista, teria orgulho em me tornar um político.

Reguffe se apresenta como jornalista, e vai concorrer entusiasmado pela segunda vez a deputado distrital. Já confessou ter desejado se lançar candidato a governador. No programa, quer aparecer de independente e contestador. É uma postura política. Para ele, a televisão é um palanque tão bom quanto para Luiz Estevão e Paulo Octávio. Eles falam o que querem e do jeito que querem na frente de um âncora tão boçal. Reguffe fica mais perto do poder.

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