jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

30.9.09

ARNALDO JABOR, O BOQUIRROTO, EXPLICA TUDO EM HONDURAS

Arnaldo Jabor explicou tudo no Jornal da Globo desta terça-feira (29/09): “Zelaya, que é um ‘Chavezinho’ de Honduras, que queria se eleger para sempre virou uma vítima dos golpistas. É claro, é claro que ele sofreu um golpe, mas queria dar outro”.

Veja aqui: http://colunas.jg.globo.com/arnaldojabor/2009/09/30/a-armacao-de-chavez-sobre-o-brasil/

Ou seja, mais ou menos como Jango em 1964. É ridículo ver a direita embolorada pedir o impeachment de Lula e de Celso Amorim e denunciar que o Brasil está ferindo o princípio da “neutralidade”. A revista Time entendeu que os tempos mudaram, mas o PiG não. Aliás, os tempos mudam conforme a sua conveniência.

O Fernando Henrique não mexeu na Constituição para se reeleger? E ainda comprou votos de parlamentares por 200 mil reais?

Esses caras querem fazer de Honduras o Vietnã de Lula. Como Jabor demonstrou, esses caras ainda estão na segunda metade do século passado, quando eles tinham o dinheiro e podiam comprar quem quisessem – inclusive a História do Brasil.


Leia mais sobre nosso amigo Jabor aqui e aqui.



25.9.09

O EPITÁFIO DO JORNALISMO, POR LUIZ CARLOS AZENHA

No Viomundo:

Aconteceu -- e eu duvido que alguém consiga dizer exatamente quando.

Há quem jogue a culpa na vitória do Google sobre a reportagem. O "gúgle", como um entrevistado que ouvi em um telecentro de uma estação de metrô de São Paulo definiu a ferramenta de buscas mais conhecida da internet, de fato se tornou o melhor amigo dos jornalistas. E, ainda que indiretamente, contribuiu para a perda da capacidade de "ouvir" dos repórteres. As novas tecnologias ajudaram a desumanizar o jornalismo e criaram nas redações os idiotas da objetividade, incapazes de perceber que há dramas humanos por trás das notícias.

Há quem jogue a culpa no novo perfil dos jornalistas. Quando comecei a carreira, como repórter-carteiro de um jornal de Bauru, em 1972, eu era filho de um comunista remediado. Éramos todos "remediados". Mesmo o "seo" Moreno, o editorialista do Jornal da Cidade, que odiávamos por ser um tremendo reacionário, escrevia suas catilinárias de um ponto-de-vista que hoje seria definido como de um "populista de direita". Nenhuma afetação dos quatrocentões do Estadão.

Éramos, de certa forma, todos representantes dos deserdados. Um dos redatores era gay, numa época em que ninguem saia do armário. Outro, um professor, vociferava "contra o sistema". "Sistema" era a ditadura militar. O diretor do jornal era um sindicalista ferroviário que havia sido cassado pelos militares. O dono do jornal, um empresário bem sucedido, se conformava em empregar aquela plebe rude. Não havia muita escolha. Nós éramos "jornalistas".

Hoje, como sempre enfatiza o Leandro Fortes, a Globo, a Folha e a Veja formam os seus próprios "monstrinhos". São os meninos e meninas da classe média, do Google, dos seriados americanos que passam na TV a cabo. São esses os jornalistas de hoje. As redações se "profissionalizaram". Os idiotas da objetividade venceram.

No tempo do futebol pelo rádio uma jogada dependia mais do narrador do que da classe do centroavante. Eram ataques fulminantes, defesas espantosas, o futebol no Philco lá de casa era muito mais vivo que o jogado na grama esburacada do estádio "Alfredo de Castilho". Hoje, os narradores da SporTV nos enchem de estatísticas. O que importa que no confronto entre Santos e Corinthians o Santos tenha vencido 188 vezes -- contra 123 vezes do Corinthians -- se na partida que está sendo jogada AGORA, que é a que interessa, o Santos está perdendo?

Eu não tenho a menor noção sobre o que motivou esse fosso, nem quando ele se abriu.

Apenas constato que o Jornalismo se desumanizou.

Outro dia eu escrevi o seguinte sobre os preconceitos exibidos sem qualquer pudor por nossos colunistas:

Ler os jornais brasileiros, hoje em dia, equivale a se expor a uma exibição despudorada de preconceitos vindos daqueles que, por ilustração, deveriam ser os primeiros a reconhecê-los. Mas o ódio de classe cega. Cega a ponto de fazer com que gente "bem" se exponha de maneira abertamente pornográfica. Há, subjacente ao preconceito, um motivo comercial a incentivar esse strip-tease ideológico: em um ambiente cada vez mais competitivo, marca quem chamar mais a atenção.

Não importa que o striper nos ofereça um corpo surrado, barrigudo, salpicado de celulites e estrias. Importa é que prestemos atenção nele, ainda que fortuitamente. Semana que vem, ele promete, tem mais. Dispensa-se o convencimento embasado em conhecimento e na razão. Importa é causar debate, atrair tráfego e leitores, "brilhar". Na sociedade midiatizada, inauguramos a era dos "midiotas". Assim como temos os famosos que são famosos por serem famosos, temos os comentaristas que são lidos pela capacidade de chocar. São as "moscas" da Folha de S. Paulo, jornal marqueteiro que quer nos vender o supra sumo do elitismo e do preconceito como algo revolucionário, "in your face", ousado. Que o espírito de Raul Seixas tenha piedade deles.

Hoje, li de Mauro Santayanna a seguinte descrição de dois crimes bárbaros, que receberam uma cobertura desumana de grande parte da mídia:

Duas notícias, destas horas, deviam mover a consternação e a indignação da sociedade brasileira. O assassinato de uma adolescente, em favela de São Paulo, por um agente da polícia municipal de São Caetano do Sul, provocou a reação irada da população. O Estado, há muito tempo, não tem conseguido preparar suas forças para manter a ordem. A jovem Ana Cristina foi baleada quando os guardas municipais perseguiam um homem, suspeito de roubar um carro. Para recuperar um veículo, mataram uma pessoa.

Ao retirar grupo do MST de uma fazenda que ocupava, em São Gabriel, a polícia militar gaúcha, além de assassinar pelas costas um lavrador, e de usar armas que provocam choque elétrico, cães, cavalos e bombas, aterrorizou e torturou, física e psicologicamente várias crianças. Um bebê foi ferido por estilhaços no rosto. O fato será denunciado ao Ministério Público pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

E constatei, com pesar, que Jornalismo e Humanismo deixaram de ser sinônimos.

Tragam o "seo" Moreno de volta. Ele era reacionário, sim. Mas era humano.

Luiz Carlos Azenha é jornalista. Uma vez, pela TV Manchete, conseguiu uma entrevista exclusiva com Mikhail Gorbatchev, no meio da rua, em plena União Soviética. Enquanto o premier sorria para as câmeras, os seguranças da KGB chutavam a canela do repórter.

CIRO GOMES ABRE A ERA PÓS-LULA

Em 2010, o Brasil terminará de atravessar uma época de inédita estabilidade política. Serão 16 anos em que o poder esteve nas mãos de presidentes eleitos – duas vezes cada um. No ano que vem, a população terá a oportunidade de avaliar candidatos e partidos que já tiveram a oportunidade de mostrar a que vieram. Não haverá mais heróis como Collor, piadas como Enéas, intelectuais garbosos como FHC, nem sapos barbudos como Lula. O Brasil vai poder comparar ideologias, programas, vai poder escolher o Brasil que queremos. Waaaalllll...


Ciro Gomes percebeu isso e saiu na frente. Está peregrinando por programas de TV para apresentar sua candidatura. Seu discurso não poderia ser mais oportuno: com FHC e Lula na balança, o operário língua-presa vence de goleada. Para o desespero dos reacionários da velha guarda, como o boca-frouxa Boris Casoy.



Enquanto FHC privatizou tudo quanto pôde, Lula fortaleceu a Petrobras e o Banco do Brasil.


Enquanto FHC aumentou a dívida pública para 78% do PIB, Lula virou credor do FMI.


Enquanto FHC quebrou o Brasil três vezes, Lula segurou a barra da maior crise do capitalismo moderno.


É do interesse de muita gente polarizar a disputa entre Serra e Dilma, PSDB e PT. A única coisa que eles têm em comum é que são generais linha-dura, que centralizam o poder e comandam com mão de ferro. Qualquer um dos dois, se eleito, vai radicalizar para o seu lado. Até porque ambos possuem o carisma de um buldogue.


Ainda que representem as forças mais poderosas da política nacional, existe a chance de ambos naufragarem. Num Brasil em que os pobres estão começando a acreditar que também são gente – graças ao bolsa-família –, há bastante espaço para novas idéias, desgarradas dos velhos conceitos que fizeram da segunda metade do século XX uma tragédia econômica e social – não só aqui, mas em toda a América Latina.


Ciro Gomes, Marina Silva e Aécio Neves têm a chance de apresentar novas idéias para um país que está na moda. Basta que tenham aprendido algo com os acontecimentos dos últimos 16 anos. O catálogo de cagadas e oportunidades perdidas no Brasil é bem completo e está à disposição para consulta.