jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

30.5.06

VEJA vs DANTAS: MORREU O ASSUNTO

Nenhum veículo de comunicação repercutiu a matéria de Veja da última semana. Na reportagem, o banqueiro Daniel Dantas fez um acordo com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e avisou: “se eu descer, levo junto PFL, PSDB e PT”. Ministro e banqueiro negaram o acordo, e ficou por isso mesmo.

Se a imprensa em bloco acredita na versão dos dois, porque não acusam Veja de mentir descaradamente? Veja publicou um dossiê com contas de Lula no exterior, e diz que foi DD quem repassou. O banqueiro nega, mas não processa a revista. Veja mantém sua versão, e distribui novas acusações. E ninguém diz nada, fica o dito pelo não-dito.

Pode ser que os jornais, TVs, revistas e rádios estejam aplicando a Lei de Franklin: “jornalista não é notícia”. Pode ser que todos também tenham o rabo preso com Daniel Dantas. O fato é que Veja publicou um dossiê com contas de Lula no exterior. Sendo ele falso ou verdadeiro, importa – e muito – saber quem o fabricou. Ou foi Dantas ou foi Veja.


Outro fato: o jornal Correio Braziliense tem uma “lista branca”. São pessoas que o jornal e seus jornalistas não podem falar mal. Entre eles estão Joaquim Roriz, Maurício Corrêa e Daniel Dantas.

GRUPOS DE EXTERMÍNIO MANDAM BALA EM SP

Saiu uma análise de 28 cadáveres mortos pela polícia paulista na semana retrasada, em represália aos ataques do PCC. No total, a polícia matou 110 pessoas. A Defensoria Pública de SP checou 28 laudos do IML, e conferiu que 22 deles foram mortos com tiros dados de cima para baixo – o que indica que a pessoa foi morta quando estava de joelhos ou deitado. Na média, cada um tomou três tiros.

A Ouvidoria da Polícia Civil de São Paulo investiga outras nove chacinas, com um saldo de 27 mortes. O ouvidor Antonio Funari Filho disse não haver dúvidas da atuação de grupos de extermínio. Dos 27 mortos, 12 não tinham passagem pela polícia e 11 levaram tiros na cabeça e nas costas. Os assassinos usavam máscaras e capuzes.

Nos ataques do PCC, 46 policiais foram assassinados, alguns com até 19 tiros. Pode-se considerar que a reação foi à altura, e que a polícia tinha que matar mesmo. Em editorial, o jornal Estado de S. Paulo defendeu a Lei de Talião, aquela do “olho por olho, dente por dente”. Isso é uma opinião. Há outras, e o debate é sempre válido.


O que não pode é jogar os fatos embaixo do tapete, fingir que execuções policiais não são nada demais. O trabalho feito pelas comissões de direitos humanos, Ministério Público e Defensoria Pública merece todo o respeito e todo apoio. É esse trabalho que vai ajudar a entender o que a Secretaria de Segurança Pública quis dizer com “mortes preventivas”.

28.5.06

AS PROPOSTAS DE HELOÍSA HELENA


Heloísa Helena será candidata a presidente, pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). Seu vice será o professor César Benjamin, também ex-petista à esquerda de Lula e Dirceu. Para os 22% de eleitores ainda indecisos, seguem abaixo as principais propostas da chapa, que já tem o apoio do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados). Para quem achou que o primeiro mandato de Lula foi muito mole com a elite branca, Heloísa Helena propõe ir mais longe:

Redução da jornada de trabalho sem corte de salários

Plebiscito sobre pagamento da dívida externa

Possibilidade de revogar mandatos de políticos eleitos

Fim do foro privilegiado de políticos

Financiamento público de campanha, com tempo de TV igual para todos

Possibilidade de candidaturas independentes, desfiliadas de partidos

Eleição de dirigentes de empresas estatais

Quebra de sigilo bancário automática para políticos eleitos e donos de empresas contratadas pela administração pública

Vale também citar a primeira frase do programa de governo da candidata: "a democracia brasileira é uma falácia".

A IMPRENSA NÃO GOSTA DE POPULISTAS. E NEM DE POVO.

Populista. Nunca foi tão fácil. Repita você também: populista. O adjetivo está na moda na imprensa brasileira. Preferencialmente nas reportagens sobre a Bolívia e seu presidente, Evo Morales. Nacionalização de refinarias? Populismo. Expropriação de terras dos brasileiros? Populismo. Corte de impostos? Populismo.


O termo está tão entronizado na imprensa, que pode ser usado sem explicações. Se a matéria for sobre Evo Morales ou Hugo Chávez, pode usar sem preocupação. Afinal, todo mundo está fazendo o mesmo. Hoje, “populista” é ofensa tão grave – e fácil, porque não quer dizer nada - quanto “neoliberal” foi quando FHC estava no poder.

Segundo a wikipedia, o populismo se caracteriza pela ligação direta que um governante tem com o povo, sem intermediação de partidos ou instituições. Para quem conhece o termo só dos jornais, pode-se pensar que populismo são medidas irresponsáveis para alegrar o povão, medidas eleitoreiras, enfim, medidas de esquerda. Populismo é governar para o povão – e isso é perigosíssimo. Uma ameaça que a imprensa, guardiã das instituições, deve combater diariamente.

E Lula? Lula é populista. Bolsa-Família, aumento do salário mínimo, corte de impostos para o cimento e o arroz, tudo isso atende só ao povão. Além disso, sua imagem é maior que a do seu partido ou que suas idéias e propostas. E por que não é chamado de populista da mesma forma que Morales e Chávez? Será porque paga juros de 15% ao ano?

Serviço: grande artigo do professor José Luís Fiori sobre como países de diversos continentes estão adotando medidas de valorizar suas reservas naturais frente às empresas que as exploram – como fizeram Morales e Chávez. Lá fora, isso é nacionalismo. Aqui, é populismo.

27.5.06

VEJA USA DANIEL DANTAS CONTRA LULA

Veja quer derrubar Lula, e aposta nos segredos que Daniel Dantas esconde. A revista parece acreditar que o banqueiro do Opportunity é o caminho mais rápido para desmoralizar Lula em sua campanha pela reeleição. Por isso, caminhou junto com DD trocando informações há pelo menos seis meses. Mas agora detonou a parceria e pôs o banqueiro na berlinda, na aposta que a pressão o force a abrir sua caixa-preta contra o PT. Para isso, fecha o cerco a qualquer acordo que o banqueiro possa fazer para ficar bem com o governo.

Há duas semanas, a revista revelou que Dantas possuía um dossiê com supostas contas de petistas no exterior, entre eles Lula. Na semana passada, contou que Dantas e Tomaz Bastos se reuniram em Brasília para tratar de uma trégua. Nesta semana, o repórter Policarpo Júnior conta detalhes da reunião. A história é nitroglicerina pura:

O encontro foi na casa do senador Heráclito Fortes, do PFL do Piauí e notório mensageiro de Dantas no Congresso. Além dele, estavam também presentes os deputados petistas José Eduardo Cardoso e Sigmaringa Seixas. Os dois também tem contatos de longa data com DD. O encontro serviu para negociar a ida do banqueiro ao Congresso. A CPI dos Bingos queria chamá-lo a depor, para explicar a história das contas no exterior. Bastos, em nome do governo, negociou para que ele fosse convidado para depor na Comissão de Constituição e Justiça no Senado, onde seria mais bem-recebido e bem-tratado. Foi o que de fato aconteceu. O banqueiro vai à CCJ no dia 7 de junho.

Na reunião, depois que Bastos foi embora, DD ameaçou, dedo em riste:

- Que cumpram comigo o que foi tratado. Eu não afundo só. Se eu descer, levo junto PFL, PSDB e PT.

O ministro da Justiça e o banqueiro investigado pela Polícia Federal dizem a mesma coisa sobre o encontro: DD negou que tivesse passado o dossiê das contas de petistas à Veja, Bastos ficou de avisar ao presidente. E só.

Veja arriscou-se publicando um dossiê sem nenhuma comprovação, mas conseguiu expor Dantas e amedrontar o PT. Parece estar na pista certa. Até porque se DD não entregou o dossiê à Veja, deveria processar a revista por mentir descaradamente há três semanas. Por que não o fez? Taí uma boa pergunta a ser feita ao banqueiro. Até agora, quem está processando a revista é Lula.

Até mesmo a CartaCapital, que apóia Lula, mas quer ver Dantas na cadeia, traz na capa uma matéria denunciando o conluio entre DD e o PT. CartaCapital cita uma fala de um ministro do governo, não identificado:

- O medo do PT tem nome. É Daniel Dantas.

26.5.06

AMEAÇA À DEMOCRACIA: NINGUÉM FOI EM CANA

Jornalistas se acham guardiões das instituições. Se colocam nesse papel quando a ameaça vem do povo. Um exemplo foi o comentário do Merval Pereira na rádio CBN. Sobre o deboche que o advogado Sergio Wesley fez no Congresso ontem ("aqui, malandragem a gente aprende rápido"), Merval disse que as cartas dos leitores nos jornais mostram apoio à fala do advogado. Denunciou o perigo do povo não acreditar mais nos picaretas de sempre: "isso é gravíssimo, uma ameaça à democracia". Continuou: "temos que pensar formas de arrumar isso na próxima legislatura".

Caro Merval, não precisa esperar a eleição: basta alguém ir em cana. Francenildo, o caseiro que dedurou Palocci, tinha 30 mil reais na conta e foi investigado por lavagem de dinheiro. Vossa Excelência Vadão Gomes recebeu mais de 3 milhões de Marcos Valério (sem nota fiscal, sem declaração na Receita) e continua exercendo suas funções de deputado. Se estivesse na cadeia, nossas instituições mereceriam mais respeito.

Há dois meses o procurador-geral da República apresentou denúncia contra os 40 ladrões do mensalão. Até hoje, os acusados nem foram notificados. Formalmente, não são nem acusados de nada. Podem viajar para onde quiserem. Zé Dirceu não recebeu sua notificação porque a Justiça não sabe onde ele mora. Na lista telefônica tem. É em São Paulo, na Vila Clementino, Rua Bacelar, 212, ap 71.

O juiz Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, deu entrevista ontem sobre o processo do mensalão, que está sob sua responsabilidade. Segundo ele, o procurador-geral pediu prisão preventina de alguns dos 40 ladrões. Mas o magistrado federal negou todas. Segundo ele, não há motivos para isso. Não ocorre à excelência que, enquanto continuam soltos, Delúbio Soares e Marcos Valério podem destruir provas, aliciar testemunhas ou simplesmente continuar a distribuir dinheiro não-contabilizado.

Um belo combate à desdemocratização do Brasil seria a Polícia Federal apreender todos os computadores de Marcos Valério e da sede do PT. Outro seria deixar Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, dormir uma noite no xadrez para ver se ele conta como foi a quebra de sigilo do caseiro Francenildo (não ia ser tão ruim, afinal ele tem direito a prisão especial). Mais um seria instaurar um inquérito policial contra Severino Cavalcanti por corrupção ativa. Depois que ele renunciou, ninguém mais o incomodou. Deve se reeleger em 2006.

25.5.06

A POLÍCIA DE SÃO PAULO NÃO FAZ PRISIONEIROS. FAZ ASSASSINATOS "PREVENTIVOS".

O IML de São Paulo tem 132 cadáveres de pessoas mortas a tiros na semana passada. É o saldo da guerra da polícia contra o PCC. E mostra que nessa guerra não se faz prisioneiros. A Secretaria de Segurança Pública concordou em divulgar o nome de 79 mortos. Os que efetivamente são suspeitos de ligação com o PCC.

Detalhe importante: desses 79, 62 foram mortos em cofronto com a polícia. Os outros 17 foram "mortes preventivas" - foram denunciados por telefone e a polícia chegou lá e matou. "Morte preventiVa" é classificação da própria Secretaria. É como a "guerra preventiva", que jogou bombas em Bagdá há três anos.

O que precisa ser esclarecido:

Quantos mortos foram executados (tiro na cabeça ou na nuca)?

Quantas armas foram apreendidas nos confrontos com a polícia? Isso pode ajudar a mostrar como foram esses "confrontos".

Se alguém tem ligação com o PCC, a polícia pode matar?

Em nome de qual interesse o governo de São Paulo esconde os nomes dos outros mortos?

ADVOGADO DO PCC VAI PRESO. NÃO PELO CRIME QUE COMETEU.

Sergio Wesley da Cunha, advogado de um presidiário acusado de vender armas ao PCC, foi preso hoje na CPI do Tráfico de Armas. Ele estava lá porque comprou uma cópia de um depoimento secreto de dois delegados que investigam o PCC. Mas não foi preso por isso.

Frente a frente com o funcionário que lhe vendeu o CD, Sergio se recusou a responder várias perguntas dos deputados. O deputado Arnaldo Faria de Sá se irritou:


- O senhor aprendeu com a malandragem.

- Aqui a gente aprende rápido - respondeu Sergio.

Foi preso na hora por desacato. Foi algemado, levado pela polícia do Congresso, assinou um termo e foi liberado. Ficou assim: Sergio comprou um depoimento secreto, subornou um funcionário, mentiu na CPI e foi algemado por dizer que no Congresso tem malandragem (como se não tivesse). Vai passar mais uma noite em casa, transitando por onde quer. É muita malandragem.

O presidente da CPI, Moroni Torgan, que é ex-delegado federal, vai pedir a prisão preventina de Sergio e de Mariola, a advogada de Marcola.

LULA GANHA NO 1° TURNO

Do jeito que está hoje, Lula leva no 1o turno. A pesquisa CNT/Sensus aponta que ele tem mais votos que todos os outros candidatos juntos. Nos últimos 30 dias, Lula tirou votos de Alckmin e Garotinho. Veja na tabela abaixo quem subiu e desceu de abril a maio:


Lula ganhou três pontos percentuais, Alckmin perdeu 1,9 ponto, Garotinho perdeu 3,6 pontos e Heloísa Helena ganhou 1,8. "Nosso Guia" está com 40% das intenções de voto. Ganhou o primeiro turno em 2002 com 39,4 milhões de votos. Já tem 34,6 milhões.

Garotinho foi quem mais perdeu votos nesses 30 dias. Os mesmos em que ele protagonizou sua greve de fome de uma semana e meia. E até agora não saiu o direito de resposta dele, nem no Globo nem na Veja.

Alckmin perdeu quase dois pontos percentuais. Está com menos de 19% das intenções de voto. Serra terminou o 2o turno com 23% dos votos válidos em 2002. Mas ninguém nunca achou que Alckmin fosse mais longe que Serra. O jornalista Ricardo Noblat conta uma fofoca que rola nos bastidores do tucanato:

O PSDB decidiu ir para a eleição com o candidato reserva. Muita gente no partido já achava que Lula é imbatível, mesmo com o PT na lama, então optaram por não queimar seus principais cartuchos: Aécio Neves e José Serra. Assim, eles governam por mais quatro anos os estados de Minas Gerais e São Paulo e chegam quentes em 2010.

24.5.06

CURIOSIDADE LEVA ADVOGADA DE MARCOLA À CPI

Maria Cristina Rachado é advogada de Marcola, chefe do PCC. Mariola achou que seu cliente estaria no Congresso na quarta-feira 10 de maio. Pegou um avião para Brasília. Quando chegou aqui, viu que não teria depoimento nenhum, e como não tivesse mais o que fazer, ficou no Congresso tomando cafezinho. Encontrou Sergio Wesley da Cunha, advogado de Leandro de Carvalho, presidiário acusado de vender armas ao PCC. Sergio estava na CPI do Tráfico de Armas porque dois delegados da Polícia Civil de São Paulo, que investigam o PCC, prestaram depoimento na CPI.

O depoimento era sobre a investigação contra Leandro, e Sergio queria participar da conversa. Os delegados pediram uma sessão secreta, e se trancaram com os parlamentares numa salinha do Congresso. Como é regra numa CPI, a conversa foi gravada por um funcionário do Congresso. Enquanto o tal funcionário saía e entrava da salinha para tomar café, começou a conversar com Sergio e Maria Cristina, que esperavam do lado de fora. Sergio insistiu com o funcionário que queria o depoimento, porque na sua opinião, era um direito constitucional de seu cliente. Mariola participou da conversa porque não tinha mais o que fazer.

O funcionário, muito prestativo, saiu da sala com o depoimento. Disse que só poderia fazer cópias do CD num shopping de Brasília. Sérgio foi junto, no interesse do seu cliente. Mariola também, por “curiosidade”. Mariola pagou o táxi e o serviço de reprodução. Se despediram, e Sergio seguiu para o aeroporto. Mariola perdeu a “curiosidade” e entregou seu CD para o funcionário do Congresso. Tudo na quarta, dia 10.

Sergio admitiu ter ouvido o CD, mas não o passou a ninguém. Mariola, nem ouviu o CD. Foi a história que contaram ontem na CPI do Tráfico de Armas.

No CD, os delegados disseram que iam transferir de presídio 700 presos ligados ao PCC, inclusive Marcola, que foi para um presídio de segurança máxima. Na sexta 12, estouraram rebeliões em mais de 30 presídios paulistas e começou a matança de policiais. Há informações que o depoimento dos delegados foi transmitida para os presídios via celular, na quinta-feira dia 11.

A se acreditar nos doutores do crime, conclui-se o seguinte:

Sergio ouviu o depoimento e achou que ali não tinha nenhuma informação que interessasse ao seu cliente, afinal não tratou disso com ninguém. O trabalho de vir a Brasília e pegar o CD foi inútil.

A curiosidade de Mariola é grande, mas passa rápido.

O funcionário do Congresso acredita na livre informação e conta o que for a quem quiser ouvir. Inclusive conversas dos outros.

As rebeliões e a matança em São Paulo não tivera nada a ver com a transferência de presos do PCC. Foi outro motivo, não se sabe qual.

Se a história deles for conversa de advogado, a conclusão é outra:

De posse do CD, os dois ou um deles avisaram seus clientes. Os bandidos não gostaram dessa história da transferência e ordenaram à bandidagem que tocassem o terror em São Paulo, pra mostrar que bandido não é trouxa.

Então, resta a dúvida: na CPI, os advogados escolheram falar a verdade ou simplesmente apresentaram sua defesa?

GLOBO PROÍBE CHAMAR PCC PELO NOME

As organizações Globo decidiram não mais mencionar o Primeiro Comando da Capital pelo nome. Referem-se a ele como “facção criminosa de São Paulo”. PCC é palavra proibida tanto na TV Globo como no jornal O Globo como na rádio CBN. O Estadão e a Folha continuam chamando o PCC pelo nome.

A razão não foi divulgada, e até agora nem comentada por nenhum outro veículo. Alguém da chefia da Globo deve achar que dar nome aos bois é dar moral pra bandido. Lembra outro caso, há muitos anos, quando o falecido Marcinho VP deu uma coletiva para vários órgãos de imprensa. Na ocasião, o trato com os jornalistas que subiram o morro era que a entrevista seria dada, desde que Marcinho VP não fosse identificado pelo nome. Quase todo mundo quebrou o trato, e estampou o nome do traficante em suas páginas. Um repórter ligou para o editor encastelado na redação e explicou o trato. “Com bandido não tem acordo”, foi a resposta do chefe.


Quando explodiram os ataques do PCC em São Paulo, acusou-se o governo paulista de fingir que o PCC não existia. Alguém já disse uma vez: “o jornalista é como o galo que acredita que o sol só levanta quando ele faz cocoricó”.

22.5.06

LULA vs. VEJA vs. DANIEL DANTAS

Briga é bom. Ainda mais de peixe grande. Como a de agora: envolve o ministro da Justiça, o banqueiro dono do Opportunity, a revista Veja e a Polícia Federal. Começou com uma reportagem de Veja na semana passada, que informava que espiões a serviço de Daniel Dantas tinham informações sobre contas de Lula e seus ministros no exterior. Veja deu a matéria, e mostrou os papéis, mas deixando claro que podiam tanto ser falsos como verdadeiros.

Só não rendeu mais assunto que o PCC. Lula chamou a revista e seus jornalistas de irresponsáveis, criminosos. Dantas negou ter repassado os papéis à Veja. Veículos de crítica de mídia caíram em cima da Veja, a começar por Alberto Dines, destacando a irresponsabilidade da revista em publicar material duvidoso. No resumo da imprensa, quase todo mundo disse que a revista afirmara que Lula tinha contas no exterior.

Veja comprou a briga. Atacou os “jornalistas ingênuos” que compram os desmentidos do banqueiro Daniel Dantas, mandou os papéis para o procurador-geral da República (“talvez a única pessoa com isenção para investigar o caso”) e detonou que Dantas e Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça, se encontraram na casa do senador Hieráclito Fortes, do PFL do Piauí, para negociar um acordo. Como a Polícia Federal ia interrogar Dantas nesta semana, já há notícias de descontentamento na PF em relação a esse encontro. Tudo em off, que os policiais não vão desancar o chefe abertamente.

Nessa briga, cada um tem seu jogo. Veja quer ver Lula se fuder, por isso publicou os papéis de Dantas, e jogou a responsabilidade para a Justiça investigar o que eles não conseguiram apurar. Dantas quer fechar um acordo com o governo, por isso faz pressão. Thomaz Bastos defende Lula, por isso conversa com Dantas para acalmar os ânimos do banqueiro. E a PF quer dar credibilidade às suas investigações, por isso fala mal da reunião que seu chefe fez com o banqueiro.


Mas se a PF quisesse mesmo investigar mesmo as falcatruas entre o PT e Dantas, o assunto está na coluna do Diogo Mainardi da semana passada. Na mesma edição em que Veja publicou os papéis de Dantas, Mainardi apresenta uma entrevista com o banqueiro. O que tem ali é nitroglicerina pura. Na entrevista, Dantas diz com todas as letras que Ivan Guimarães, tesoureiro do PT, achacou o banco Opportunity. O PT queria 50 milhões de reais para facilitar as relações de Dantas com o governo.

Se isso não é crime, o PC Farias não devia ter sido incomodado. Mas acabou preso, depois morto com dois tiros no peito. Ivan Guimarães, Delúbio Soares e Marcos Valério circulam livremente por onde querem.

OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

Alberto Dines está feliz da vida. A cereja de seu bolo foi a matéria de Veja que mostra papéis com contas de Lula no exterior, mas diz que tudo pode ser fraude. Era a munição que Dines precisava. Publicou um texto no Observatório da Imprensa em que classifica o conteúdo da matéria com adjetivos como “fanfarronice juvenil”, “clássico do cinismo”, “bíblia do parajornalismo”, “atestado de óbito jornalístico”, “decadente”, “duvidoso”, “incoerente”, “inconsistente”, “incerto” e “inseguro”. Para Dines, Veja quer “derrubar a autoridade máxima do país” e cometeu um crime de “lesa-pátria e lesa-majestade”. Assim, Veja estaria condenando não apenas a si mesmo, mas a toda a imprensa.

E o Diogo Mainardi? É uma avenida para Dines. Quando Lula reclamou da matéria assinada por Marcio Aith, “fica evidente que se referia ao parajornalista e pau-mandado Diogo Mainardi, que pegou carona na entrevista concedida pelo banqueiro Daniel Dantas”. Agora que o colunista ameaça processar Lula pelas ofensas à revista, Dines acha que “Mainardi está angustiado, corroído por dúvidas existenciais”. O colunista de Veja quer ganhar um trocado às custas da raiva de Lula. Mas para isso, o STF tem quer dizer que ele é mesmo um "bandido, mau-caráter, malfeitor e mentiroso", como Lula o acusou.

Infelizmente, Dines fica só nos adjetivos. Quer contra-atacar Mainardi no terreno da ironia, e abre mão da análise, que deveria ser a matéria-prima de seu Observatório.

Outro “observador”, Luiz Antônio Magalhães, tenta fazer análise, mas está de carona na onda de malhar o Mainardi. Cita datas e textos para sustentar a teoria de que Veja e Diogo Mainardi não fazem jornalismo, mas política. Mas se esforça tanto que acaba falando merda: diz que o “espaço de comentário político na Veja” ocupado pelo falecido Tales Alvarenga foi substituído por André Petry. Primeiro, não teve substituição. Os dois começaram a assinar colunas em Veja no mesmo dia. Cada um a sua. Segundo, o “espaço de comentário político” está em todas as páginas da revista. Até nota de canto de página tem comentário político. Todo mundo sabe, e a Veja não esconde.

Mas o que mata é a conclusão do “observador”: “A cada dia que passa, porém, cresce a sensação de que a revista Veja perdeu o senso de realidade e se dedica não ao jornalismo, mas a uma campanha política contra Lula e o PT”. Porra, essa deve ser maior descoberta desde que a maçã caiu na cabeça de Newton. Quanto será que estão pagando pra esse cara?

19.5.06

NÃO CHAMEM MARCOLA PARA DEPOR NA CPI

Já tem gente no Congresso que quer chamar Marcola para depor na CPI. Mas é bom que o depoimento seja secreto, senão muito parlamentar pode ser processado por “apologia ao crime ou a criminoso”, como aconteceu com Roberto Cabrini.

Caso Marcola venha a depor na CPI, suas palavras serão veiculadas para todo o Brasil, seja na TV Câmara, seja nos jornais ou na mídia. Certamente. Porque Marcola falando é notícia.


Aos deputados que querem aparecer às custas de Marcola, um aviso da Secretaria de Administração Penitenciária de SP: “a veiculação de conversas com integrantes de facções criminosas é sensacionalista, assusta a sociedade e prejudica as investigações”

JORNALISTA NÃO É NOTÍCIA

O Jornal Nacional de quinta-feira simplesmente ignorou a polêmica sobre a entrevista que Roberto Cabrini fez com Marcola, chefe do PCC. O jornal do SBT, da Ana Paula Padrão, mencionou as acusações do governo paulista contra Cabrini, mas sem citá-lo. Na internet, o assunto mereceu capa dos principais sites, principalmente do Globo On-Line.

O Jornal da Band, apresentado por Ricardo Boechat e Joelmir Betting, colocou Cabrini no ar, que deu uma curta entrevista, mas reveladora. Segundo ele, a entrevista foi conseguida por meio de conversas com integrantes do PCC. Cabrini acompanhou a negociação da entrevista por meio de conferências via celular. A confirmação da identidade e da voz de Marcola foi feita por pessoas próximas ao criminoso, “inclusive advogados dele”.

William Bonner deve seguir a máxima de Franklin Martins, a de que “jornalista não é notícia”. Mas um bandido que deveria estar incomunicável, dar uma entrevista via celular, é notícia, e das quentes. Ainda mais se rendeu uma reação histérica como foi a da Secretaria de Administração Penitenciária, de SP.

Se a entrevista for falsa, tudo isso vai por água abaixo. Coisa que uma perícia de Ricardo Molina pode comprovar. Basta o governo ter interesse em levar o caso até o fim. Até lá, atente-se para as palavras do delegado Godofredo Bittencourt, que comanda as investigações sobre o crime organizado em SP, sobre a entrevista de Marcola a Cabrini:

- Ficamos surpresos, mas sabe Deus, tudo vem acontecendo. O normal era para não ter acontecido isso, mas o normal também era para não terem vendido meu depoimento.

Na quarta-feira anterior aos ataques do PCC em São Paulo, o delegado foi a Brasília prestar depoimento secreto no Congresso Nacional. Nesse dia, Bittencourt revelou que faria a transferência de Marcola e outros 700 presos. Dois advogados do PCC compraram o depoimento por 200 reais. Na sexta, começou a matança de policiais em São Paulo.

18.5.06

ENTREVISTA DE MARCOLA DEIXA GOVERNO DE SP HISTÉRICO

O Governo de São Paulo está uma arara com Roberto Cabrini, apresentador do Jornal da Noite, da Band. Na madrugada de quinta, Cabrini apresentou uma entrevista com Marcola, chefe do PCC, concedida por celular. O problema é que a Secretaria de Administração Penitenciária jura de pés juntos que Marcola está incomunicável no presídio de Presidente Bernardes. Se é assim, como conseguiu falar ao celular com Cabrini?

A Secretaria já divulgou nota afirmando categoricamente que a entrevista é falsa, e que vai processar a Bandeirantes e a Record (que também exibiu a entrevista) por apologia ao crime. Antes, tinha dito que cabia à Band comprovar a veracidade da entrevista.

A reação é histérica e demagógica.

Histérica porque atesta a falsidade da gravação sem ter ido revistar Marcola ou nenhuma outra ação. Marcola está incomunicável porque a burocracia diz que está. E ponto. Uma perícia pode confirmar se a voz de Marcola é a mesma que foi apresentada na entrevista. Basta ligar para Ricardo Molina.

Demagógica por ameaçar Cabrini com um processo por apologia ao crime. Na nota, a Secretaria de Administração Penitenciária diz que a veiculação de conversas com integrantes de facções criminosas é sensacionalista, assusta a sociedade e prejudica as investigações. Se a entrevista foi forjada, o crime pode ser de prática comercial abusiva, falsidade ideológica ou divulgação de notícia falsa. Gugu Liberato, em setembro de 2003, comprovadamente forjou uma entrevista com integrantes do PCC (eram, na verdade, figurantes do Domingo Legal), e foi processado por esses crimes, não por apologia.

Se a entrevista foi verdadeira, onde está a apologia a Marcola? Não houve elogios, nem defesa do bandido. Se entrevistar criminosos é apologia, então tem muita gente na fila para ser processado.

Roberto Cabrini não é Gugu Liberato. É acostumado a grandes coberturas, a dar furos e fazer reportagens arriscadas. Já entrevistou outros criminosos, como PC Farias e Salvatore Cacciola, quando eles estavam foragidos da Justiça. Não é enganado facilmente, nem precisa imitar Gugu para manter seu ibope.


Diante da notícia que Marcola falou pelo celular, o governo paulista poderia revistar a cela de Marcola, interroga-lo, perguntar a Cabrini qual o número do celular, quem o forneceu, fazer a perícia de voz. Em vez de investigar uma irregularidade grave (Marcola ter acesso a um celular), preferiu atacar o mensageiro dessa irregularidade.

10.5.06

... E O FRANKLIN SE FUDEU!

Franklin Martins foi demitido da Globo. Está oficialmente desempregado. E o Diogo Mainardi deve estar achando graça. Afinal, foi Franklin quem lançou um desafio a Mainardi, e quem perdesse, estaria fora da profissão. “Bola ou búrica”.

Franklin não está fora da profissão, mas perdeu o emprego. A direção da Globo apressou-se a informar que a demissão não tinha nada a ver com as colunas da Veja, mas o cheiro de cagada ainda está no ar. Franklin se expôs ao responder com prepotência ao polemista de Veja, e meteu o rabo entre as pernas quando recebeu uma tréplica violenta. Em vez de levar até o fim uma discussão que alimentou, preferiu deixar morrer o assunto depois tomar uma paulada ainda mais desmoralizadora.

Alberto Dines, que também já foi avacalhado por Mainardi, foi a única voz a defender Franklin Martins, em dois artigos no Observatório da Imprensa. Defender talvez não seja a palavra, uma vez que Dines preferiu atacar Mainardi a explicar porque não tem nada demais seu colega ter um monte de parentes em cargos comissionados no governo.

Franklin, se quiser, ainda está de pé o convite de Lucas Mendes para ir ao Manhattan Connection debater o tema com o próprio Mainardi. Esse já diz que topa.

Serviço:
A coluna de Mainardi
O desafio de Franklin

O achincalhe final que ficou sem resposta

9.5.06

A FICHA AINDA NÃO CAIU PARA A PETROBRÁS

Evo Morales tomou as instalações da Petrobrás na Bolívia. Lula aceitou e disse que vai segurar qualquer aumento no preço do gás. A Petrobrás ainda tenta chorar qualquer migalha.

Na terça, o presidente da Petrobras começou pedindo indenização boliviana pela "nacionalização" dos equipamentos da Petrobrás. De Caracas, terra de Hugo Chávez, Sergio Grabrielli disse que "a Constituição boliviana diz que é possível a nacionalização, mas com uma indenização prévia. Temos que iniciar uma discussão sobre isso." Mas ele não fará proposta nenhuma. Vai esperar que a Bolívia sugira uma indenização.

Na mesma terça, Sergio Gabrielli "rejeitou" a nova diretoria da refinaria que pertencia à Petrobrás, escolhida pelo governo boliviano. Gabrielli grita sozinho contra um fato consumado, aceito por Lula. E aplaudido por Nestor Kirchner e Hugo Chávez.

Gabrielli é presidente de uma empresa de capital aberto, com acionistas privados. Por isso, briga contra a Bolívia em nome do capitalismo. Mas deve seu emprego a Lula, que o indicou ao cargo. Como bom petista, defende o interesse público, porém sem esquecer quem é o chefe.

SILVINHO DO PT E OS BOÇAIS DO PSDB

A entrevista de Silvio Pereira à repórter Soraya Aggege repercutiu com muito barulho no Congresso e nos jornais, mas trouxe apenas duas informações importantes: existem mais 100 Marcos Valérios operando hoje e tem gente que quer vê-lo sete palmos abaixo da terra. Nenhuma das duas rendeu manchetes.

A idéia geral vendida ao público é que a entrevista reacendeu a crise do mensalão, por isso se fala tanto na convocação de Silvinho à CPI dos Bingos, das "novas revelações", das "fontes do Planalto" que o classificam como louco, etc. Isso é besteira grossa. Silvinho não falou nada de novo sobre o mensalão. Foi um cadáver que saiu da cova. Um petista que mostrou seu desespero com o mundo de falcatruas com o qual se comprometeu. Na entrevista, Silvinho Land Rover contou que Marcos Valério não contou tudo que sabia. Se contasse, "derrubaria a República", porque sabia podres de todos os partidos e todos os poderes. Se não contasse, seria morto, viraria queima de arquivo como aconteceu com PC Farias. Ficou no meio do caminho.

Mas o que importa para a oposição de ocasião é queimar Lula, e trazer de volta à baila Dirceu e Palocci. Por isso querem Silvinho acusando Lula na CPI. Não o querem entregando nem Marcos Valérios nem os outros 100 iguais a eles. Não querem saber quem poderia matá-lo. Não querem saber que outros podres ele poderia revelar. Não querem dele a verdade, porque poderia chamuscar mais gente que Lula, o alvo principal. Silvinho é mais um instrumento eleitoral. Assim como o Bolsa-Família impulsiona Lula nas pesquisas, espera-se que o mensalão e a corrupção sirvam à eleição de Alckmin.

No comitê de campanha do PSDB, acredita-se que os eleitores têm a obrigação de votar em Alckmin porque "reeleger Lula é coisa de pobre" (informação chupada da coluna de Elio Gaspari).

2.5.06

O QUE RESTA A LULA É FAZER GREVE DE FOME

Elio Gaspari descreveu no Globo de hoje a aura mística que cerca Lula, "Nosso Guia" (definição do chanceler Celso Amorim, repetida à exaustão por Gaspari), proveniente da crença que o política externa é um dos pontos fortes deste governo. Lula e a Petrobras levaram um balão de Evo Morales. A Petrobrás, na Bolívia, é da Bolívia. Expropriação, confisco, estatização. Essas são as palavras certas. Pode-se apoiar ou recriminar o decreto boliviano, mas ele já era esperado.

Carlos Chagas especulou na Tribuna da Imprensa as alternativas de Lula. Boicote econômico, guerra, abertura de processos internacionais, nada vai levar a lugar nenhum. O gás deve ficar mais caro, e os consumidores vão pagar a conta, sob a batuta de "Nosso Guia". Ele e Evo Morales vão conversar na quinta, mas não vai ser uma cachacinha e um churrasco na Granja do Torto que vão fazer as negociações recomeçarem. Nada vai, já está feito. É como a renegociação da dívida externa argentina, que Lula se recusou a apoiar. Teve gente que foi a Washington malhar a proposta de Nestor Kirchner. Que deu certo, porque a Argentina impôs seu jogo. Como fez Evo Morales.

O gás é deles. Agora, o equipamento que opera a extração e a distribuição, também. Para os brasileiros, sobrou a conta. Carlos Chagas sugere que Lula faça greve de fome.

1.5.06

EVO MORALES E GAROTINHO: OS RADICAIS

O problema com os radicais é saber até onde eles realmente estão dispostos a ir. O 1º de maio contou com dois casos de radicalismo. Resta saber no que vai dar.

O primeiro caso já era anunciado. É a estatização das empresas que exploram gás e petróleo na Bolívia, nossa Petrobrás inclusa. A imprensa fala em “nacionalização”, que não explica nada, e mostra como ninguém está entendendo nada. Evo Morales quer pagar às empresas exploradoras 18% dos ganhos com a comercialização do gás e petróleo. Na prática, o governo boliviano está invertendo as posições. Até ontem, a Bolívia ficava com 18% do lucro das empresas, a título de royalties (fora os impostos). As empresas pagavam 18% pelo uso dos recursos naturais da Bolívia. Agora, a Bolívia vai pagar 18% pelo uso da tecnologia e instalações das empresas. As empresas têm seis meses para assinar contratos com as novas condições. Ou aceitam, ou vão embora.

A liderança estratégica do Brasil na América Latina vai passar os próximos dias correndo atrás do prejuízo. Como se tivesse sido pega de surpresa. Dois presidentes bolivianos renunciaram ao posto quando protestos liderados por Evo Morales tomaram as ruas. Os protestos exigiam exatamente isso: arrocho nas empresas que exploram os recursos naturais do país. Se Evo Morales tentasse resolver a situação na conversa, poderia acabar como seus antecessores. Radicalmente chutado.

Esse deve ir até o fim.

O segundo caso foi a greve de fome de Anthony Garotinho. Foi uma reação à altura à capa de Veja que o mostra como capeta, de rabo e chifre. Se o mostram como o cão, ele vai de mártir. Garotinho tem em Getúlio Vargas um de seus grandes inspiradores, ao lado de JK. Getúlio entrou para a história com um irrevogável tiro no coração. Garotinho ameaça agonizar em praça pública, mas até agora ninguém o levou a sério. Ele quer espaço de defesa da imprensa (de graça) e monitoramento internacional do processo eleitoral. Já se pergunta quem vai monitorar sua greve de fome.

Esse desiste já, já. Seria bom que se mantivesse firme até o fim. Políticos brasileiros desistem fácil, gostam de conciliações que só servem para que nada mude. Um pouco mais de radicalismo nos faria bem.

FALA, FRANKLIN

Franklin Martins resolveu ignorar Diogo Mainardi. O comentarista da Rede Globo tem uma irmã no Ministério do Planejamento, um irmão na diretoria da Agência Nacional do Petróleo e sua esposa trabalha para Aloizio Mercadante. Poderia escrever outro artigo intitulado “tenho, e daí?”, onde explicaria suas regras de conduta para não misturar conversas de família com apuração jornalística. Talvez algumas de suas regras estejam na lista a seguir:

Ninguém fala de trabalho na mesa de jantar. Nem na cama.

Tudo que ouve da família fica em off.

Os contratantes dos parentes ficam fora de sua pauta.

Ele usa tudo que descobre dos parentes. Trouxas são os que contratam parentes de jornalistas.

Franklin já disse que “jornalista não é notícia”. Pela mesma lógica, “parente não é fonte”.

Ainda nessa lógica, “patrão de parente de jornalística não é notícia”. Pelo menos para o jornalista em questão.

Os parentes de Franklin Martins têm o direito de trabalhar onde quiserem, e nada o impede que ele continue dando opiniões na Globo, na CBN e na Globonews. Mas se ele quiser continuar falando de “jornalismo com espírito público e ética”, seria bom que não fugisse a uma discussão que ele mesmo alimentou. Espírito público e ética são princípios que devem ser seguidos por todos, de preferência por quem trabalha no governo. Para jornalistas, outros princípios interessantes seriam disposição de discussões públicas e exposição de suas convicções. Principalmente nos casos de jornalistas cujos nomes já são griffes. É o caso de Franklin Martins. Ele mesmo disse isso.

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