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4.12.06

BRASIL CAMPEÃO DE VÔLEI: UFANISMO E SUBSERVIÊNCIA CAMINHAM JUNTOS

Muito já se disse sobre o futebol ser o ópio do povo. Como apanhamos na Copa do Mundo, mais uma vez da França, serve o vôlei. Jogos de madrugada, ídolos desconhecidos, as diversidades não importam. Somos bicampeões mundiais de vôlei, e isso já serve para os ufanismos momentâneos e para a costumeira análise do caráter nacional a partir do esporte (nesse caso o vôlei, porque fomos campeões. E se tivéssemos sido vice?).

A Sportv, filha da Globo e herdeira de sua missão de promover o patriotismo e unidade nacional por meio do esporte (circensis?), veiculou uma matéria de alto cunho sociológico, narrada por Léo Batista: a seleção de vôlei não apenas ganhou o campeonato mundial, mas deu um exemplo de cidadania à nação. Mostrou disciplina, união, espírito de equipe, humildade num país onde grassam a ganância, a picaretagem e o favorecimento.

Campeã, a seleção de vôlei virou exemplo de cidadania, ética e compostura. Falou-se em dois brasis: o Brasil do vôlei e o Brasil real. “Quando esses dois Brasis vão se unir?”, perguntou Léo Batista. Faltou perguntar ao PSDB quando Bernardinho será lançado candidato à Presidência da República. Não será esse o “gerente” que o Brasil precisa?

A matéria do Sportv quer mobilizar os espectadores por meio da vitória do vôlei, não por meio da derrota na política. Por quê? Porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. Ou seja, não oferece risco a ninguém. Fala bonito sem dizer nada, mas usando imagens emocionantes.

O jornalista Reinaldo Azevedo foi criticado em seu blog por uma afirmação certeira: “Bernadinho tem muito a ensinar... sobre vôlei”. Infelizmente, é isso: temos a melhor equipe de vôlei do mundo. E isso só é importante para o vôlei brasileiro. Torcer pelo vôlei é mais fácil e gratificante que cobrar punição a mensaleiros e sanguessugas – ou mesmo lembrar seus nomes. Deve ter mais gente lembrando que o Giba fuma unzinho do que gente lembrando que João Paulo Cunha recebeu 50.000 reais do valerioduto.

Nesta semana, ganhamos o vôlei mundial. Mas continuamos a perder a esperança a cada dia que passa. Há muito tempo.

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