jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

30.9.09

ARNALDO JABOR, O BOQUIRROTO, EXPLICA TUDO EM HONDURAS

Arnaldo Jabor explicou tudo no Jornal da Globo desta terça-feira (29/09): “Zelaya, que é um ‘Chavezinho’ de Honduras, que queria se eleger para sempre virou uma vítima dos golpistas. É claro, é claro que ele sofreu um golpe, mas queria dar outro”.

Veja aqui: http://colunas.jg.globo.com/arnaldojabor/2009/09/30/a-armacao-de-chavez-sobre-o-brasil/

Ou seja, mais ou menos como Jango em 1964. É ridículo ver a direita embolorada pedir o impeachment de Lula e de Celso Amorim e denunciar que o Brasil está ferindo o princípio da “neutralidade”. A revista Time entendeu que os tempos mudaram, mas o PiG não. Aliás, os tempos mudam conforme a sua conveniência.

O Fernando Henrique não mexeu na Constituição para se reeleger? E ainda comprou votos de parlamentares por 200 mil reais?

Esses caras querem fazer de Honduras o Vietnã de Lula. Como Jabor demonstrou, esses caras ainda estão na segunda metade do século passado, quando eles tinham o dinheiro e podiam comprar quem quisessem – inclusive a História do Brasil.


Leia mais sobre nosso amigo Jabor aqui e aqui.



25.9.09

O EPITÁFIO DO JORNALISMO, POR LUIZ CARLOS AZENHA

No Viomundo:

Aconteceu -- e eu duvido que alguém consiga dizer exatamente quando.

Há quem jogue a culpa na vitória do Google sobre a reportagem. O "gúgle", como um entrevistado que ouvi em um telecentro de uma estação de metrô de São Paulo definiu a ferramenta de buscas mais conhecida da internet, de fato se tornou o melhor amigo dos jornalistas. E, ainda que indiretamente, contribuiu para a perda da capacidade de "ouvir" dos repórteres. As novas tecnologias ajudaram a desumanizar o jornalismo e criaram nas redações os idiotas da objetividade, incapazes de perceber que há dramas humanos por trás das notícias.

Há quem jogue a culpa no novo perfil dos jornalistas. Quando comecei a carreira, como repórter-carteiro de um jornal de Bauru, em 1972, eu era filho de um comunista remediado. Éramos todos "remediados". Mesmo o "seo" Moreno, o editorialista do Jornal da Cidade, que odiávamos por ser um tremendo reacionário, escrevia suas catilinárias de um ponto-de-vista que hoje seria definido como de um "populista de direita". Nenhuma afetação dos quatrocentões do Estadão.

Éramos, de certa forma, todos representantes dos deserdados. Um dos redatores era gay, numa época em que ninguem saia do armário. Outro, um professor, vociferava "contra o sistema". "Sistema" era a ditadura militar. O diretor do jornal era um sindicalista ferroviário que havia sido cassado pelos militares. O dono do jornal, um empresário bem sucedido, se conformava em empregar aquela plebe rude. Não havia muita escolha. Nós éramos "jornalistas".

Hoje, como sempre enfatiza o Leandro Fortes, a Globo, a Folha e a Veja formam os seus próprios "monstrinhos". São os meninos e meninas da classe média, do Google, dos seriados americanos que passam na TV a cabo. São esses os jornalistas de hoje. As redações se "profissionalizaram". Os idiotas da objetividade venceram.

No tempo do futebol pelo rádio uma jogada dependia mais do narrador do que da classe do centroavante. Eram ataques fulminantes, defesas espantosas, o futebol no Philco lá de casa era muito mais vivo que o jogado na grama esburacada do estádio "Alfredo de Castilho". Hoje, os narradores da SporTV nos enchem de estatísticas. O que importa que no confronto entre Santos e Corinthians o Santos tenha vencido 188 vezes -- contra 123 vezes do Corinthians -- se na partida que está sendo jogada AGORA, que é a que interessa, o Santos está perdendo?

Eu não tenho a menor noção sobre o que motivou esse fosso, nem quando ele se abriu.

Apenas constato que o Jornalismo se desumanizou.

Outro dia eu escrevi o seguinte sobre os preconceitos exibidos sem qualquer pudor por nossos colunistas:

Ler os jornais brasileiros, hoje em dia, equivale a se expor a uma exibição despudorada de preconceitos vindos daqueles que, por ilustração, deveriam ser os primeiros a reconhecê-los. Mas o ódio de classe cega. Cega a ponto de fazer com que gente "bem" se exponha de maneira abertamente pornográfica. Há, subjacente ao preconceito, um motivo comercial a incentivar esse strip-tease ideológico: em um ambiente cada vez mais competitivo, marca quem chamar mais a atenção.

Não importa que o striper nos ofereça um corpo surrado, barrigudo, salpicado de celulites e estrias. Importa é que prestemos atenção nele, ainda que fortuitamente. Semana que vem, ele promete, tem mais. Dispensa-se o convencimento embasado em conhecimento e na razão. Importa é causar debate, atrair tráfego e leitores, "brilhar". Na sociedade midiatizada, inauguramos a era dos "midiotas". Assim como temos os famosos que são famosos por serem famosos, temos os comentaristas que são lidos pela capacidade de chocar. São as "moscas" da Folha de S. Paulo, jornal marqueteiro que quer nos vender o supra sumo do elitismo e do preconceito como algo revolucionário, "in your face", ousado. Que o espírito de Raul Seixas tenha piedade deles.

Hoje, li de Mauro Santayanna a seguinte descrição de dois crimes bárbaros, que receberam uma cobertura desumana de grande parte da mídia:

Duas notícias, destas horas, deviam mover a consternação e a indignação da sociedade brasileira. O assassinato de uma adolescente, em favela de São Paulo, por um agente da polícia municipal de São Caetano do Sul, provocou a reação irada da população. O Estado, há muito tempo, não tem conseguido preparar suas forças para manter a ordem. A jovem Ana Cristina foi baleada quando os guardas municipais perseguiam um homem, suspeito de roubar um carro. Para recuperar um veículo, mataram uma pessoa.

Ao retirar grupo do MST de uma fazenda que ocupava, em São Gabriel, a polícia militar gaúcha, além de assassinar pelas costas um lavrador, e de usar armas que provocam choque elétrico, cães, cavalos e bombas, aterrorizou e torturou, física e psicologicamente várias crianças. Um bebê foi ferido por estilhaços no rosto. O fato será denunciado ao Ministério Público pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

E constatei, com pesar, que Jornalismo e Humanismo deixaram de ser sinônimos.

Tragam o "seo" Moreno de volta. Ele era reacionário, sim. Mas era humano.

Luiz Carlos Azenha é jornalista. Uma vez, pela TV Manchete, conseguiu uma entrevista exclusiva com Mikhail Gorbatchev, no meio da rua, em plena União Soviética. Enquanto o premier sorria para as câmeras, os seguranças da KGB chutavam a canela do repórter.

CIRO GOMES ABRE A ERA PÓS-LULA

Em 2010, o Brasil terminará de atravessar uma época de inédita estabilidade política. Serão 16 anos em que o poder esteve nas mãos de presidentes eleitos – duas vezes cada um. No ano que vem, a população terá a oportunidade de avaliar candidatos e partidos que já tiveram a oportunidade de mostrar a que vieram. Não haverá mais heróis como Collor, piadas como Enéas, intelectuais garbosos como FHC, nem sapos barbudos como Lula. O Brasil vai poder comparar ideologias, programas, vai poder escolher o Brasil que queremos. Waaaalllll...


Ciro Gomes percebeu isso e saiu na frente. Está peregrinando por programas de TV para apresentar sua candidatura. Seu discurso não poderia ser mais oportuno: com FHC e Lula na balança, o operário língua-presa vence de goleada. Para o desespero dos reacionários da velha guarda, como o boca-frouxa Boris Casoy.



Enquanto FHC privatizou tudo quanto pôde, Lula fortaleceu a Petrobras e o Banco do Brasil.


Enquanto FHC aumentou a dívida pública para 78% do PIB, Lula virou credor do FMI.


Enquanto FHC quebrou o Brasil três vezes, Lula segurou a barra da maior crise do capitalismo moderno.


É do interesse de muita gente polarizar a disputa entre Serra e Dilma, PSDB e PT. A única coisa que eles têm em comum é que são generais linha-dura, que centralizam o poder e comandam com mão de ferro. Qualquer um dos dois, se eleito, vai radicalizar para o seu lado. Até porque ambos possuem o carisma de um buldogue.


Ainda que representem as forças mais poderosas da política nacional, existe a chance de ambos naufragarem. Num Brasil em que os pobres estão começando a acreditar que também são gente – graças ao bolsa-família –, há bastante espaço para novas idéias, desgarradas dos velhos conceitos que fizeram da segunda metade do século XX uma tragédia econômica e social – não só aqui, mas em toda a América Latina.


Ciro Gomes, Marina Silva e Aécio Neves têm a chance de apresentar novas idéias para um país que está na moda. Basta que tenham aprendido algo com os acontecimentos dos últimos 16 anos. O catálogo de cagadas e oportunidades perdidas no Brasil é bem completo e está à disposição para consulta.

16.8.09

2.8.09

GILMAR DANTAS NEGA LIMINAR DO DEM CONTRA COTAS NA UnB

Leonardo Echeverria e Priscilla Borges - Da Secretaria de Comunicação da UnB


O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, negou o pedido de liminar ajuizado pelo Democratas contra o sistema de cotas da Universidade de Brasília. Na Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 186), o partido pedia a suspensão imediata das matrículas dos 654 estudantes cotistas negros aprovados no último vestibular da instituição. Agora, o assunto será discutido em plenário pelos outros ministros.

Para o ministro Gilmar Mendes, a ação levou à Suprema Corte “uma das questões constitucionais mais fascinantes de nosso tempo”. Para ele, a discussão sobre o tema no Brasil chegou “ao auge” e a ação movida pelo DEM é “de suma importância” para a democracia brasileira. Porém, o presidente do STF diz que não vê razão para suspender a matrícula ou para interferir no andamento dos trabalhos da universidade antes que uma decisão final seja proferida pelo STF.

Em uma peça que cita Norberto Bobbio, Gilberto Freyre, Caetano Veloso, Ronaldo Fenômeno e os atentados de 11 de setembro, Gilmar Mendes lança uma série de questionamentos quanto às ações afirmativas, existência de raças no Brasil e tipos de preconceitos existentes. “Somos ou não um país racista?” “Até que ponto exclusão racial gera preconceito?” “A adoção do critério da renda não seria mais adequada para a democratização do acesso ao ensino superior no Brasil?” ”Esses estudos (que apontam para a diferença de padrão de vida entre negros e brancos) poderiam ser questionados?” Todas essas perguntas ficam no ar, sem resposta. O texto cita quatro vezes o livro “Não Somos Racistas”, de Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo.

REPERCUSSÃO - Na Universidade de Brasília, a decisão foi recebida com alívio. “Estou surpreso, mas de uma forma positiva”, diz o professor José Jorge, um dos idealizadores do sistema de cotas. “O voto indica uma qualidade da discussão que nos favorece, quando lembra que junto à liberdade e à igualdade, existe a fraternidade, e as cotas são um exercício de fraternidade", afirma o professor.

“Agora temos mais tempo para nos organizar. Estamos conclamando um debate com toda a sociedade civil, a partir da perspectiva dos movimentos negros”, conta Rafael Moreira, aluno de Antropologia que entrou na UnB pelo sistema de cotas em 2005. “O momento agora é de angariar forças e apoios para essa disputa, que é de formação da opinião pública”, completa. 

“A decisão correspondeu à expectativa da universidade, de que esse assunto não pode ser resolvido liminarmente, mas sim no Plenário do Supremo”, disse o reitor José Geraldo de Sousa Junior. “Eu acredito que deve prevalecer o sentido emancipatório do direito, levando em conta os direitos humanos internacionais e as definições da Constituição que apóiam as ações afirmativas como pressuposto da dignidade da pessoa humana e dos direitos fundamentais”.

ÔNUS - A advogada do DEM, Roberta Kaufmann, disse em entrevista à UnB Agência que não se sentiu derrotada. Ao contrário, explicou que ficou extremamente feliz" com a decisão de Gilmar Mendes. "Ele esclareceu todos os ônus que a política racialista poderia trazer", diz a advogada. "Acredito que ele se coadunou com a nossa tese". Roberta conta que peregrinou por vários partidos até achar um que apoiasse a causa defendida por ela. "Para mim, isso é uma questão de ideologia", diz. 

Segundo a advogada, a decisão de entrar com a ação na semana seguinte à divulgação dos resultados do vestibular, durante as férias do Supremo, não foi uma estratégia pensada. Ela diz que a ação tinha intenção de impedir a matrícula dos alunos antes que o registro fosse feito, mas tinha certeza que o presidente do STF nunca ia dar uma decisão que ferisse direitos adquiridos. Roberta nega que tenha movido a ação para que o ministro Gilmar Mendes resolvesse sozinho a questão das cotas. "Isso foi para que o processo não entrasse na vala comum do STF, onde as decisões demoram anos", afirma.

Depois da negativa do pedido de liminar, Roberta està ansiosa para fazer a defesa oral da ação no plenário. "As cotas estão com os dias contados", prevê.  

17.6.09

QUALQUER UM PODE SER JORNALISTA. MAS TEM QUE LER

O STF derrubou a exigência do diploma para a prática do jornalismo.

Diploma já era. Agora a briga é dos sindicatos! Regular o exercício da profissão, manter os pisos salariais, fiscalizar sempre. Primeira sugestão: prova de português e interpretação de texto para os focas. Os sem-diploma vão ter que estudar também, ler bastante, apresentar um nível intelectual adequado. Uma faculdade sempre vai fazer diferença para quem quer viver da profissão. Mas a não-obrigatoriedade do diploma vai abrir espaço pra muita gente que leu os livros certos.

No Conversa Afiada, do Paulo Henrique Amorim, "Saiu a lei Áurea do jornalismo".

- Mauro Santayana, outro excelente jornalista, costuma dizer que a exigência do diploma elitizou as redações. As redações não refletiam mais a composição da sociedade brasileira: as redações se tornaram quase brancas, quase ricas e quase ignorantes… Jornalista deveria ter um curso universitário: estudar matemática, história, filosofia, biologia – e fazer um curso profissionalizante de jornalista de, no máximo, três meses. O diploma fez os jornalistas parecidos com os donos dos jornais. E ajudou a construir o PiG (Partido da Imprensa Golpista).

Na UnB, Gonzaga Motta prevê o esgarçamento da profissão:

- Aparentemente, só empresas provincianas, familiares ou pouco profissionais têm interesse no fim do diploma. Isso daria a elas liberdade para empregar parentes, afilhados e compadres, sem formação. Talvez o fim do diploma possa ser também útil a algumas empresas de fachada moderna, mas interessadas no enfraquecimento da profissão para reduzir salários e manipular as relações empregatícias.

22.3.09

DATAFODA-SE

Deu na Folha de S. Paulo:

Líder na corrida pela sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, o governador de São Paulo, José Serra, tem o apoio de 40% dos eleitores mineiros quando seu adversário dentro do PSDB, Aécio Neves, está fora da disputa pelo Planalto, conforme revela a pesquisa Datafolha realizada em nove Estados. (...)

A liderança de Aécio Neves em Minas, no entanto, é ampla no cenário sem Serra. Ele conta com 67% das intenções de voto, seguido por Ciro (7%), Heloísa (6%) e Dilma 5%.


A besta que inventou essa manchete não lembrou que essa hipótese só vale se Aécio morrer. Vivo, mesmo que não seja candidato, ele apóia alguém (que não vai ser o Serra), e esse alguém será o favorito em Minas. Tanto que, veja, se Aécio está na disputa, Serra perde para todos os candidatos.

O Datafoda-se não divulgou qual a percentagem de votos em Serra em SP. É menos de 5% (talvez zero?). Já em SP, "o estado mais desenvolvido do país", Serra tem 52%.

Paulo Henrique Amorim diz que o Vesgo do Pânico tem mais chances de se eleger do que o Serra. Ah, aquelas gengivas, aquela simpatia...

1.3.09

MORREU A LIBERDADE DE IMPRENSA. HÁ MUITO TEMPO.


A morte da TV Diário se deu no último dia 20 de fevereiro, aos 10 anos de idade. A emissora cearense faz parte do Sistema Verdes Mares de Rádio e TV, que também transmite a Rede Globo no estado. Com o objetivo de chegar aos cearenses que moram espalhados por todo o Brasil (todo mesmo!), a TV Diário passou a ser exibida via satélite, podendo ser captadas por parabólicas Brasil afora. Fez sucesso e decretou sua morte no país em que prego que se destaca toma martelada. 

O maior fornecedor de conteúdo via satélite é, claro, a Rede Globo. Como recentemente a Globo e a Verdes Mares acabaram de celebrar novo contrato para uma afiliada em Juazeiro do Norte, a toda-poderosa exigiu que o sinal da TV Diário fosse retirado do satélite nacional. A programação popular cearense só ficará disponível aos telespectadores do Ceará, e mesmo assim com sinal codificado. 

Apesar da notícia ter se espalhado na internet graças ao blog de Fortaleza RASTREADORES DE IMPUREZAS, os maiores jornais da cidade (Diário do Nordeste, O Povo) não foram capazes nem de dar a notícia. 

Assassino: Rede Globo

Já o DF NOTÍCIAS teve sua independência brutalmente assassinada na edição 640, com data de 25 de fevereiro. O jornal é distribuído gratuitamente na Zona Central de Brasília. Era o único da cidade que ainda não havia sido comprado pela política suja do DF. O "Jornal de Brasília" foi comprado por Roriz nas eleições de 2002. O "Correio Braziliense" veio logo depois, quando Roriz derrubou o diretor do jornal. O DF TV nunca na sua história fez uma denúncia que fosse contra o governo local. Todo esse esquema  chegou pronto para José Roberto Arruda. 

O DF NOTÍCIAS ia contra a corrente e denunciava toda a rapinagem que corre solta no GDF e na Câmara Legislativa. Por denúncias contra o governador, um garoto que distribuía exemplares do jornal na Rodoviária do Plano Piloto levou uma bofetada do Administrador da Rodoviária em pessoa, cargo indicado por Arruda. Claro, só o próprio jornal noticiou isso. 

Mas nesta edição, fica clara a mudança de rumo: primeiro, um anúncio do GDF de meia página abaixo da manchete principal. E muitos outros anúncios, privados, que não estavam lá antes. Na primeira página, as notas antes explosivas anunciam, sem qualquer comentário, que Roriz assume como vice-presidente nacional do PMDB e que José Roberto Arruda é um dos candidatos do DEM à vice-presidência na chapa do PSDB. A denúncia da edição é contra o deputado federal José Tatico, do PMDB, que não entrou no acordo. Tatico será processado pelo STF por calote no INSS. 

Assassino: José Roberto Arruda. 

18.2.09

FHC, BOTE UM!


FHC, o Farol de Alexandria, esteve no Rio de Janeiro na semana passada, chamado a dar palpite sobre o que ele não entende: drogas. Numa comissão formada por personalidades e técnicos de toda a América Latina, FHC apoiou a descriminação da maconha. 

Bom, na verdade isso é irrelevante, pois a nova lei de entorpecentes foi sancionada em 2006 e já descrimina o porte e uso para uso individual. Mas o fato serve para lembrar sempre que FHC, ao contrário de seu amigo Bill Clinton, fumou e tragou o cigarrinho do capeta. 

Assim sendo, FHC entra para a seleta lista das celebridades que já legalizaram:

Michael Phelps
Luana Piovani
Marcello Anthony
Giba
John Lennon 
Paul McCartney
Ringo Starr 
George Harrison
Bob Dylan

5.2.09

"PRISON BREAK" VALE A PENA, MAS "JERICHO" É MELHOR AINDA


A exibição de "Prison Break" pela Rede Globo no mesmo horário de "Lost" parece ter chamado a atenção do grande público para a série. Desde que estreou na TV brasileira, já vi muitas pessoas que só assistiam a "Lost" começarem a acompanhar as aventuras de Michael Scoefield e Lincoln Burrows. Ontem mesmo havia uma dupla de PMs na Feira do Paraguai debatendo se compravam apenas a primeira temporada da série ou levavam logo as duas. 

"Prison Break" realmente parte de uma premissa interessante: Lincoln Burrows foi preso e condenado à cadeira elétrica por um crime que não cometeu: o assassinato do irmão da vice-presidente dos USA. É aí que seu irmão caçula e gênio da engenharia, Michael Scofield, decide cometer um crime e ir preso para a mesma penitenciária onde está o irmão. Scofield tem a fuga planejada por meio de uma tatuagem que cobre todo o seu corpo, com a planta da prisão. 

A primeira temporada é muito boa, com os planos de Scofield sendo estragados a todo momento pelos outros presos, que de gente boa não tem nada e buscam descobrir o que está sendo tramado pelos irmãos. Todos querem fugir juntos, mas não há lugar para todo mundo. Destaque para o personagem T-Bag, um homossexual tarado, homicida, nojento e pegajoso, mas que parece sempre estar um passo à frente dos outros detentos. 

Se a primeira temporada fisga o telespectador por mostrar o mundo sujo da prisão, na segunda a coisa fica ainda melhor, com a fuga alucinada dos detentos pelas estradas dos Estados Unidos, com um implacável agente do FBI em sua cola. Apesar de o roteiro se enrolar em vários momentos e criar situações inverossímeis só para alongar a trama, as duas primeiras temporadas valem a pena. Mas fuja do resto da série. No terceiro ano, os detentos são encarcerados numa penitenciária no Panamá, desginados para uma missão ridícula; e na quarta a coisa se perde de vez, com os irmãos Burrows trabalhando para a polícia! 

"Prison Break" é uma boa opção, mas, se me perguntarem, a série que melhor emula o clima de tensão e mistério de "Lost" é "Jericho", que mostra o que acontece numa pequena cidade de 5 mil habitantes depois que 23 bombas nucleares destroem as principais cidades americanas, desfacelando o país e deixando um rastro de chuva radioativa, refugiados e lutas fraticidas por comida e gasolina. Jericho, a cidade que dá nome à série, recebe ainda a visita de um misterioso agente secreto que carrega consigo uma bomba nuclear não detonada. E o que é melhor para aqueles que não tem paciência de acompanhar novela: a série só tem duas temporadas, já encerradas. 

Mas o maior mistério é saber por que os tradutores brasileiros são tão preguiçosos. Será que é tão difícil assim chamar um seriado de "Fuga da Prisão"? 

4.2.09

A MESMICE VENCEU A ESPERANÇA


Enquanto os USA aguardam entusiasmados os coelhos que Obama há de tirar da cartola frente à crise econômica, no Brasil a política traz notícias que não trazem nada de novo, apenas aquele velho sentimento de impotência e déja-vu. A eleição de Michel Temer para a presidência da Câmara dos Deputados e José Sarney para a presidência do Senado não deixam quaisquer dúvidas que este é o país do fisiologismo, dos conchavos de bastidores, dos velhos coronéis. O primeiro eleito comanda há quase dez anos o PMDB, o partido brasileiro que tem mais afiliados, mais prefeitos, mais governadores e menos ideias. O segundo, colega de partido do primeiro, mais uma vez fez manha e pediu que o buscassem em casa para que assumisse a função de decidir o que vai ou não ser votado na casa legislativa mais importante do país. Ai que preguiça... 

De modo que o "centrão" está formado. Seja quem leve as eleições de 2010, o PMDB está em condições de negociar suas posições, melhor do que esteve em 2002 e 2006, quando a indefinição de seus correligionários tornou o apoio de seu partido em algo irrelevante. Agora, o partido maria-vai-com-as-outras está no centro da política nacional novamente. Para quê? Enquanto isso, aberrações como Gilmar Mendes e Tarso Genro seguem concedendo habeas corpus e asilos políticos a seus chegados sem serem importunados por ninguém. O povo brasileiro assiste a tudo impassível. Afinal, o carnaval começa quando mesmo?

Até lá, e depois, por muitos e muitos anos, nada vai mudar no Brasil. Ficaremos chafurdando neste mesmo lamaçal onde se misturam analfabetismo, coronelismo, bajulação, conformismo, desinformação, conchavos e apatia. Ainda veremos as velhas raposas da política dominando os noticiários, como múmias imortais e vampiros sanguessugas, por muitos anos. Aí está ACM Neto, o Aceminho, que não deixa mentir. Quem ainda acredita que "agora, vai", é melhor esquecer.  

O jornalista Mino Carta desistiu. Sua opinião independente sobreviveu aos patrões do Estadão, da Veja e da Istoé, até quando montou a Carta Capital, onde colocou seus princípios e suas ideias em prática. Mino fechou seu blog na internet e não vai mais assinar suas análises semanais na revista que dirige. Cansou de pregar no deserto.

-  Vai-me sobrar tempo para escrever um livro sobre o Brasil. Talvez não ache editor, pouco importa, vou escrevê-lo de qualquer forma, quem sabe venha a ser premiado pela publicação póstuma. 

Por mais de 50 anos, Mino insistiu que o jornalismo deve se guiar pela fidelidade canina à verdade factual, pelo exercício desabrido do espírito crítico e pela fiscalização implacável dos poderosos de plantão. Parece que agora absorveu a inexorável lição: no país em que a situação é sempre séria, mas nunca grave, prego que se destaca toma martelada.  

3.2.09

HÉLIO GRACIE, FAIXA VERMELHA (1913-2009)



Hélio era o caçula dos irmãos Gracie, responsáveis por iniciar o ensino do jiu-jitsu no Brasil. Ele foi o responsável por inventar o jiu-jitsu brasileiro, respeitado e temido em todo o mundo como a mais eficiente das artes marciais. Franzino e com dificuldades respiratórias, foi proibido de lutar pela família. O irmão Carlos era o titular da academia Gracie do Rio de Janeiro, treinando alunos da alta sociedade carioca.

Como tinha poucas opções, Hélio assistia às aulas do irmão diuturnamente. E, sem fazer um movimento, absorveu toda a técnica e filosofia do esporte. Até que um dia resolveu ousar e se ofereceu para dar aulas ao presidente do Branco do Brasil å época (nos anos 1920), uma vez que seu irmão não estava.

Como era bom de teoria, foi dando mais e mais aulas, até desenvolver suas próprias técnicas, sempre usando uma alavanca corporal para forçar os movimentos do adversário. E isso revolucionou o mundo. As posições desenvolvidas por Hélio permitiam que um homem com menos de 70kg derrubasse e quebrasse o braço de grandalhões com mais de 90kg. No vale tudo, o mestre Hélio desafiava qualquer um, de qualquer peso. Em centenas de lutas, foi derrotado duas vezes: uma pelo campeão mundial e japonês de jiu-jitsu, Masahiko Kimura; a outra por um aluno seu, Waldemar Santana, numa luta que durou 3h40 e entrou para a história das lutas.

O resto é história: os filhos de Hélio viajaram o mundo derrotando lutadores de todas as modalidades e de todos os pesos, elevaram o vale tudo a uma das principais categorias esportivas no mundo e fizeram com que todo lutador aprendesse jiu-jitsu antes de subir ao ringue.

A vida de Hélio foi dedicada ao jiu-jitsu. Teve nove filhos com duas mulheres (ao mesmo tempo) sempre com o objetivo de criar discípulos para a sua arte:

- Eu nunca amei mulher nenhuma. Eu gosto delas, é diferente. Porque amor é uma fraqueza e eu não tenho fraquezas. O amor é sexo, e sexo para mim é uma necessidade que você usa para procriar, nunca tive uma namorada que quisesse ir adiante e não quisesse ter filho. Eu sempre perguntava: “Você gosta de criança? Você quer ter filho?”. Se ela dissesse não, não tinha sexo. Então eu me casei duas vezes. Aos 30 anos me casei com a minha primeira esposa, Margarida de Souza Carvalho, com quem vivi 50 anos, até o último dia de vida dela. E tem a mãe do Royce, com quem estou casado há 35 anos. Daí você diria “50 mais 35 é a sua idade, você já nasceu casado?” . É que minha primeira mulher só me deu três filhos. E eu me casei só para ter filhos e ela sabia disso, então ela aceitou que eu tivesse outra mulher, a mãe do Royce. Elas foram amigas e com isso eu consegui mais seis filhos que Deus me deu, porque filho quem manda é Deus, não é só querer.

O principal ensinamento do mestre é que o jiu-jitsu torna a pessoa mais confiante e tolerante perante os desafios da vida. Tanto é que o mestre dizia ter o demônio dentro dele. "Não cheguei aonde cheguei sendo bonzinho".