jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

18.2.09

FHC, BOTE UM!


FHC, o Farol de Alexandria, esteve no Rio de Janeiro na semana passada, chamado a dar palpite sobre o que ele não entende: drogas. Numa comissão formada por personalidades e técnicos de toda a América Latina, FHC apoiou a descriminação da maconha. 

Bom, na verdade isso é irrelevante, pois a nova lei de entorpecentes foi sancionada em 2006 e já descrimina o porte e uso para uso individual. Mas o fato serve para lembrar sempre que FHC, ao contrário de seu amigo Bill Clinton, fumou e tragou o cigarrinho do capeta. 

Assim sendo, FHC entra para a seleta lista das celebridades que já legalizaram:

Michael Phelps
Luana Piovani
Marcello Anthony
Giba
John Lennon 
Paul McCartney
Ringo Starr 
George Harrison
Bob Dylan

5.2.09

"PRISON BREAK" VALE A PENA, MAS "JERICHO" É MELHOR AINDA


A exibição de "Prison Break" pela Rede Globo no mesmo horário de "Lost" parece ter chamado a atenção do grande público para a série. Desde que estreou na TV brasileira, já vi muitas pessoas que só assistiam a "Lost" começarem a acompanhar as aventuras de Michael Scoefield e Lincoln Burrows. Ontem mesmo havia uma dupla de PMs na Feira do Paraguai debatendo se compravam apenas a primeira temporada da série ou levavam logo as duas. 

"Prison Break" realmente parte de uma premissa interessante: Lincoln Burrows foi preso e condenado à cadeira elétrica por um crime que não cometeu: o assassinato do irmão da vice-presidente dos USA. É aí que seu irmão caçula e gênio da engenharia, Michael Scofield, decide cometer um crime e ir preso para a mesma penitenciária onde está o irmão. Scofield tem a fuga planejada por meio de uma tatuagem que cobre todo o seu corpo, com a planta da prisão. 

A primeira temporada é muito boa, com os planos de Scofield sendo estragados a todo momento pelos outros presos, que de gente boa não tem nada e buscam descobrir o que está sendo tramado pelos irmãos. Todos querem fugir juntos, mas não há lugar para todo mundo. Destaque para o personagem T-Bag, um homossexual tarado, homicida, nojento e pegajoso, mas que parece sempre estar um passo à frente dos outros detentos. 

Se a primeira temporada fisga o telespectador por mostrar o mundo sujo da prisão, na segunda a coisa fica ainda melhor, com a fuga alucinada dos detentos pelas estradas dos Estados Unidos, com um implacável agente do FBI em sua cola. Apesar de o roteiro se enrolar em vários momentos e criar situações inverossímeis só para alongar a trama, as duas primeiras temporadas valem a pena. Mas fuja do resto da série. No terceiro ano, os detentos são encarcerados numa penitenciária no Panamá, desginados para uma missão ridícula; e na quarta a coisa se perde de vez, com os irmãos Burrows trabalhando para a polícia! 

"Prison Break" é uma boa opção, mas, se me perguntarem, a série que melhor emula o clima de tensão e mistério de "Lost" é "Jericho", que mostra o que acontece numa pequena cidade de 5 mil habitantes depois que 23 bombas nucleares destroem as principais cidades americanas, desfacelando o país e deixando um rastro de chuva radioativa, refugiados e lutas fraticidas por comida e gasolina. Jericho, a cidade que dá nome à série, recebe ainda a visita de um misterioso agente secreto que carrega consigo uma bomba nuclear não detonada. E o que é melhor para aqueles que não tem paciência de acompanhar novela: a série só tem duas temporadas, já encerradas. 

Mas o maior mistério é saber por que os tradutores brasileiros são tão preguiçosos. Será que é tão difícil assim chamar um seriado de "Fuga da Prisão"? 

4.2.09

A MESMICE VENCEU A ESPERANÇA


Enquanto os USA aguardam entusiasmados os coelhos que Obama há de tirar da cartola frente à crise econômica, no Brasil a política traz notícias que não trazem nada de novo, apenas aquele velho sentimento de impotência e déja-vu. A eleição de Michel Temer para a presidência da Câmara dos Deputados e José Sarney para a presidência do Senado não deixam quaisquer dúvidas que este é o país do fisiologismo, dos conchavos de bastidores, dos velhos coronéis. O primeiro eleito comanda há quase dez anos o PMDB, o partido brasileiro que tem mais afiliados, mais prefeitos, mais governadores e menos ideias. O segundo, colega de partido do primeiro, mais uma vez fez manha e pediu que o buscassem em casa para que assumisse a função de decidir o que vai ou não ser votado na casa legislativa mais importante do país. Ai que preguiça... 

De modo que o "centrão" está formado. Seja quem leve as eleições de 2010, o PMDB está em condições de negociar suas posições, melhor do que esteve em 2002 e 2006, quando a indefinição de seus correligionários tornou o apoio de seu partido em algo irrelevante. Agora, o partido maria-vai-com-as-outras está no centro da política nacional novamente. Para quê? Enquanto isso, aberrações como Gilmar Mendes e Tarso Genro seguem concedendo habeas corpus e asilos políticos a seus chegados sem serem importunados por ninguém. O povo brasileiro assiste a tudo impassível. Afinal, o carnaval começa quando mesmo?

Até lá, e depois, por muitos e muitos anos, nada vai mudar no Brasil. Ficaremos chafurdando neste mesmo lamaçal onde se misturam analfabetismo, coronelismo, bajulação, conformismo, desinformação, conchavos e apatia. Ainda veremos as velhas raposas da política dominando os noticiários, como múmias imortais e vampiros sanguessugas, por muitos anos. Aí está ACM Neto, o Aceminho, que não deixa mentir. Quem ainda acredita que "agora, vai", é melhor esquecer.  

O jornalista Mino Carta desistiu. Sua opinião independente sobreviveu aos patrões do Estadão, da Veja e da Istoé, até quando montou a Carta Capital, onde colocou seus princípios e suas ideias em prática. Mino fechou seu blog na internet e não vai mais assinar suas análises semanais na revista que dirige. Cansou de pregar no deserto.

-  Vai-me sobrar tempo para escrever um livro sobre o Brasil. Talvez não ache editor, pouco importa, vou escrevê-lo de qualquer forma, quem sabe venha a ser premiado pela publicação póstuma. 

Por mais de 50 anos, Mino insistiu que o jornalismo deve se guiar pela fidelidade canina à verdade factual, pelo exercício desabrido do espírito crítico e pela fiscalização implacável dos poderosos de plantão. Parece que agora absorveu a inexorável lição: no país em que a situação é sempre séria, mas nunca grave, prego que se destaca toma martelada.  

3.2.09

HÉLIO GRACIE, FAIXA VERMELHA (1913-2009)



Hélio era o caçula dos irmãos Gracie, responsáveis por iniciar o ensino do jiu-jitsu no Brasil. Ele foi o responsável por inventar o jiu-jitsu brasileiro, respeitado e temido em todo o mundo como a mais eficiente das artes marciais. Franzino e com dificuldades respiratórias, foi proibido de lutar pela família. O irmão Carlos era o titular da academia Gracie do Rio de Janeiro, treinando alunos da alta sociedade carioca.

Como tinha poucas opções, Hélio assistia às aulas do irmão diuturnamente. E, sem fazer um movimento, absorveu toda a técnica e filosofia do esporte. Até que um dia resolveu ousar e se ofereceu para dar aulas ao presidente do Branco do Brasil å época (nos anos 1920), uma vez que seu irmão não estava.

Como era bom de teoria, foi dando mais e mais aulas, até desenvolver suas próprias técnicas, sempre usando uma alavanca corporal para forçar os movimentos do adversário. E isso revolucionou o mundo. As posições desenvolvidas por Hélio permitiam que um homem com menos de 70kg derrubasse e quebrasse o braço de grandalhões com mais de 90kg. No vale tudo, o mestre Hélio desafiava qualquer um, de qualquer peso. Em centenas de lutas, foi derrotado duas vezes: uma pelo campeão mundial e japonês de jiu-jitsu, Masahiko Kimura; a outra por um aluno seu, Waldemar Santana, numa luta que durou 3h40 e entrou para a história das lutas.

O resto é história: os filhos de Hélio viajaram o mundo derrotando lutadores de todas as modalidades e de todos os pesos, elevaram o vale tudo a uma das principais categorias esportivas no mundo e fizeram com que todo lutador aprendesse jiu-jitsu antes de subir ao ringue.

A vida de Hélio foi dedicada ao jiu-jitsu. Teve nove filhos com duas mulheres (ao mesmo tempo) sempre com o objetivo de criar discípulos para a sua arte:

- Eu nunca amei mulher nenhuma. Eu gosto delas, é diferente. Porque amor é uma fraqueza e eu não tenho fraquezas. O amor é sexo, e sexo para mim é uma necessidade que você usa para procriar, nunca tive uma namorada que quisesse ir adiante e não quisesse ter filho. Eu sempre perguntava: “Você gosta de criança? Você quer ter filho?”. Se ela dissesse não, não tinha sexo. Então eu me casei duas vezes. Aos 30 anos me casei com a minha primeira esposa, Margarida de Souza Carvalho, com quem vivi 50 anos, até o último dia de vida dela. E tem a mãe do Royce, com quem estou casado há 35 anos. Daí você diria “50 mais 35 é a sua idade, você já nasceu casado?” . É que minha primeira mulher só me deu três filhos. E eu me casei só para ter filhos e ela sabia disso, então ela aceitou que eu tivesse outra mulher, a mãe do Royce. Elas foram amigas e com isso eu consegui mais seis filhos que Deus me deu, porque filho quem manda é Deus, não é só querer.

O principal ensinamento do mestre é que o jiu-jitsu torna a pessoa mais confiante e tolerante perante os desafios da vida. Tanto é que o mestre dizia ter o demônio dentro dele. "Não cheguei aonde cheguei sendo bonzinho".