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30.10.06

REQUIÉM PARA ALCKMIN

Alckmin, o Geraldo, conseguiu uma proeza: perdeu 2,5 milhões de votos em 29 dias, período que separou o 1º do 2º turno. Só em São Paulo, onde obteve a maior vitória contra Lula no 1º turno, 230.000 pessoas desistiram de votar no Geraldo. O que deu errado? Ele mesmo.

Alçado candidato do PSDB em março, passou o tempo todo repetindo que a campanha só começava com o horário eleitoral na TV, em setembro. Não apareceu, não falou, não fez propostas, não criou factóides, não tirou foto montado em burro, nem comendo buchada de bode, muito menos ao lado de modelos sem calcinha – nada. Só aparecia nas reportagens sobre pesquisas eleitorais, sempre mal na fita. Quando o programa estreou na TV, trazia uma única certeza: Alckmin, o Geraldo, acha que o Brasil é São Paulo. Enquanto Lula mostrava negros, índios, pobres, nordestinos, nortistas, gaúchos, Alckmin só mostrava paulistas e os programas que implementou no estado. Nenhuma palavra sobre programas que ele pretendia implantar no Brasil.

Depois do 1º turno, o Geraldo se recolheu. Passou mais uma semana calado, deixando seus novíssimos eleitores sem ter o que comentar nos bares e esquinas da vida. Reapareceu no debate da Band, estilo Mike Tyson. Desferiu várias vezes o que julgava ser seu golpe mortal: “Lula, de onde vem o dinheiro?” Muita gente do PSDB aplaudiu de pé: o Geraldo finalmente vestiu o manto do anti-Lula. Ninguém mais agüentava ouvir sobre sua juventude em Pindamonhangaba.

Mas a febre durou pouco. O Geraldo resolveu voltar a ser ele mesmo, e ainda cagou na cabeça do PSDB do Rio de Janeiro e da Bahia, ao aceitar o apoio de Anthony Garotinho e Antônio Carlos Magalhães. Em vez de ganhar aliados de outros partidos, perdeu-os dentro do PSDB. E continuou a dizer rigorosamente nada sobre o que faria se fosse eleito.

Fora ser o anti-Lula, o Geraldo não foi mais nada. E nem isso fez direito. Atacava a corrupção no governo Lula, mas mal falou sobre o mensalão. Provavelmente para poupar gente do seu partido envolvida com Marcos Valério, o carequinha. Preferiu repetir diariamente a história da compra do dossiê – que não é crime.

A revista Veja perguntou a 90 eleitores de oito estados seus motivos para votar em Alckmin e em Lula. Dos que votam em Lula, 89% justificam sua decisão citando realizações do presidente. Já dos que votam em Alckmin, 60% o escolheram simplesmente porque rejeitam Lula. Não porque gostem de Alckmin. Em 1989, se dizia que o Brasil elegeria um poste para não eleger Lula. Deu certo com Collor. Não deu com Alckmin, o Geraldo.

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