jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

11.8.07

MICHAEL MOORE, O COMUNISTA DA SAÚDE



Qualquer dia desses estréia no Brasil "Sicko", novo filme do cineasta gordinho-de-boné Michael Moore. É um documentário sobre o sistema de saúde estadunidense. Lá, não há saúde pública, só particular. E mesmo quem paga, não leva. O filme mostra um casal de idosos que trabalhou a vida toda e pagou plano de saúde. O marido teve três infartos e sua mulher teve câncer. Isso custa muito dinheiro, mais do que o plano de saúde cobre. Por isso, eles tiveram de se mudar para a garagem de sua filha mais velha. Perderam tudo.

Uma analista de um plano de saúde chamado "Humana" conta que ganhava bônus toda vez que conseguia recusar um tratamento médico. Lá, os planos de saúde têm detetives cujo serviço é descobrir alguma coisa no passado das pessoas que possa desaboná-las quando requisitarem algum remédio ou uma operação. "É como se você investigasse um caso de homicídio", conta um desses arapongas da saúde. Se você está internado em um hospital, e seu dinheiro acaba, eles te botam num táxi, de pijama, e mandam largá-lo no abrigo de mendigos mais próximo. Está tudo no filme. É tudo verdade.

Nem mesmo os voluntários que trabalharam cavando os escombros do World Trade Center merecem saúde de graça. A maioria sofre de sérias doenças respiratórias, por trabalharem meses a fio buscando corpos humanos em meio aos restos de metal, concreto, borracha e plástico. Mas o governo de Nova Iorque recusou-se a pagá-los porque eram voluntários, não estavam cobertos pelo plano de saúde do serviço público. Michael Moore levou alguns deles a Cuba, onde se pode comprar, em qualquer farmácia, a 9 centavos de dólar um remédio que nos USA custa 120 dólares.

- Isso é um insulto. Como pode um remédio que custa 120 dólares lá custar 9 centavos aqui? - pergunta uma bombeira com infecção pulmonar, às lágrimas.



Moore também foi à França e à Inglaterra. Na Europa, o governo não só oferece qualquer tratamento médico de graça a qualquer um, como também cobre as despesas de tranporte, e até mesmo paga uma babá para mulheres que acabaram de ter um bebê! Por causa de revelações como essas, esse tem sido considerado o melhor filme de MM. Ele explica por quê:

- Eu fiz um filme sobre a General Motors, e as pessoas perguntavam como eu poderia atacar a GM, "eles não podem fazer mal algum". Eu fiz "Tiros em Columbine" tentando alertar para o acesso fácil às armas e tiroteios em escolas, e fui acusado de explorar uma tragédia; e em "Fahrenheit 11/9" eu sugeri que talvez tenhamos ido à guerra por razões falsas, e na época eu ganhei muito rancor por esse filme. Então eu espero que com este filme eu possa respirar um pouco, e as pessoas não saltem sobre mim tão rápido, "talvez nós devêssemos escutá-lo desta vez". Pelas exibições que tivemos até agora, posso dizer que as pessoas entendem uma coisa: doenças não escolhem correntes políticas, e nós temos uma indústria muito gananciosa, e não deve haver espaço para ganância quando se trata de da saúde das pessoas, isso tem que acabar.

A crítica mais comum até agora já foi respondida por Moore no próprio filme: o agitador-baleia está pregando a socialização da medicina no país mais rico do mundo. Mas, se nos Estados Unidos as escolas e as bibliotecas são públicas, por que não os hospitais?

No Brasil, ao contrário de todos os países apresentados no filme, saúde pública e privada coexistem. A Constituição assegura a todos saúde integral e gratuita. Mas as filas e as más instalações dos hospitais públicos empurram a "classe média" para os planos de saúde. Que também têm suas regras. No Brasil, e só no Brasil, existe o fenômeno dos "fura-fila" da saúde.

Funciona assim: você está com uma doença séria, e seu plano de saúde não cobre todos os tratamentos. Você vai à Justiça e pede que o governo resolva essa situação. O governo resolve, como manda a Carta Magna. Você recebe, de graça, todo o tratamento e remédios de que precisa, antes de quem estava na fila do SUS. Porque seu caso é de ordem judicial.

Michael Moore não conhece o Brasil. Se conhecesse, desistiria de fazer seus filmes criticando o american way of life. Adotaria como lema a frase cunhada pelo ex-governador da Bahia Octavio Mangabeira:

- Pense num absurdo. No Brasil, há um precedente.

Serviço:
o filme não tem data de estréia no Brasil, mas fique de bobeira no bar Libanu´s, na 206 Sul, que qualquer hora passa um vendedor com um DVD a 5 reais.

Nenhum comentário: