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8.6.06

CONGRESSO PAGA O PREÇO DE SUA DESMORALIZAÇÃO

O dia 06/06/06 foi um dia de cão para os parlamentares. Primeiro, a invasão bárbara e o quebra-quebra promovido pelo MLST, dissidência radical do MST. Depois, o Tribunal Superior Eleitoral avisa que a verticalização foi radicalizada: quem não tem candidato à presidência não pode se coligar nas eleições estaduais com partidos que o tenham. O MLST e o TSE fizeram isso com os políticos porque podem. Eles merecem apanhar, não importa de quem, nem onde, nem como.
Os líderes do MLST que armaram o quebra-quebra são velhos conhecidos dos doutores de terno que circulam no parlamento. Bruno Maranhão, velhinho de 69 anos, é o líder do movimento, e recebe salário por isso. Filho de usineiros pernambucanos, costumava arrumar brigas nas festas da sociedade recifense, e hoje mora num luxuoso apartamento em Recife – o prédio é daqueles de um apartamento por andar. Era até ontem “secretário nacional de movimentos populares” do PT.

Perdeu o cargo, mas não deve ser expulso do PT. Com que cara vão expulsa-lo, já que nenhum mensaleiro foi sequer investigado pelo partido? Para Humberto Costa, ex-ministro da Saúde e candidato do PT ao governo de Pernambuco, seu companheiro conterrâneo apenas “perdeu o controle” dos manifestantes. 507 deles estão presos na Papuda. Entraram no movimento querendo ganhar um lote, vieram à Brasília achando que iam encontrar o Lula, receberam instruções precisas de arapongas que estudaram a ação e viraram vândalos de primeira hora. Infelizmente, não conseguiram esbofetear nenhum político.

A polícia vai investigar em separado 11 pessoas, consideradas líderes da invasão ou que foram identificadas praticando agressões diretas, como o garoto de 23 anos que atirou uma pedra na cabeça de um segurança e a moça que destruiu terminais eletrônicas armada de uma pedra das grandes, amarrada a um arame – uma éspécia de boleadeira pré-histórica. Os dois moram com os pais, em casa própria.
Do outro lado, o presidente do TSE, Marco Aurélio de Mello, interpretou a lei eleitoral – redigida pelos próprios parlamentares – e explicou a eles a nova regra da verticalização. “Agora o que tem que haver é casamento. Antes, se permitia o concubinato, que é condenável”, explicou Marco Aurélio à TV, com o sorriso de quem sabe que acabou de aprontar o maior rebuliço.

Os políticos estão em polvorosa. O PFL não sabe se continua apoiando o PSDB, o PMDB agora vai ter que correr para apoiar alguém, ou Lula ou Alckmin – antes, queriam ficar de fora, ganhar apoio dos dois candidatos nos estados e depois ficar do lado de quem ganhou. Agora, os doutores refazem a matemática das alianças e correm ao TSE pedindo maiores esclarecimento. Isso a quatro meses da eleição e às vésperas da Copa do Mundo. Parece palhaçada, e é: o Congresso já aprovou, no início do ano, lei que derruba a verticalização para 2010.


O Congresso é a Casa-da-Mãe-Joana, onde vale tudo. Teve mensalão, sanguessugas, propina de dono de restaurante, e ninguém foi em cana. Assim, não dá para exigir respeito de ninguém, nem dos radicais nem do Marco Aurélio de Mello.

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