jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

12.6.06

NO JORNALISMO, O QUE VALE É A REPORTAGEM


A revista TIME é a pioneira das semanais estilo Veja, CartaCapital, Istoé e Época. Foi criada em 1923 por dois colegas de faculdade, que tinham por objetivo fazer o resumo dos jornais da semana numa revista, 32 páginas em preto-e-branco, 18.500 exemplares. Hoje, tem o dobro de páginas e tira mais de 6 milhões de exemplares mundo afora. Foi da TIME que Veja aprendeu a misturar opiniões com fatos de forma que pudesse apresentar umas como se fossem os outros. Veja faz isso hoje, até com certo orgulho, TIME tenta se livrar desse estigma desde os anos 70.

Todo veículo tem sua opinião, às ela vezes depende mais do dono, outras mais dos jornalistas que o comandam. Sobre o efeito dessa opinião sobre a opinião de seus leitores, vale reproduzir trechos da carta de despedida do editor-chefe da TIME, Jim Kelly, que esteve no cargo por seis anos (tradução livre e permissiva):

(...) “Nós não entendemos os tempos em que vivemos; tudo o que podemos fazer em tempos de grande agitação é trabalhar para dar sentido ao que acontece à nossa volta. Eu sempre pensei nos leitores da TIME como uma comunidade – uma comunidade de cidadãos que podem ter suas diferenças políticas, mas que são intensamente curiosos e que acreditam na reportagem que seja profunda, perspicaz e honesta sobre o assunto em pauta. O compromisso da TIME é encontrar sentido no mundo para seus leitores, e essa confiança é nosso bem mais valioso.

“Lendo a coletânea de colunas de Daniel Okrent para o New York Times, me deparei com essa frase de Daniel Patrick Moynihan: “todos têm direito à sua própria opinião, mas não a seus próprios fatos”. TIME valoriza opiniões inteligentes, precisas e divergentes, mas é de fundamental importância que o leitor possa fiar-se em nosso relato. Você pode ter discordado de nossa interpretação dos fatos, mas trabalhamos duro para lhe dar os fatos de maneira correta. (...)

“Um de meus predecessores me disse uma vez que, em semanas de grande tumulto, às vezes a coisa mais esperta que um editor pode fazer, se ele tiver a sorte de estar cercado de jornalistas talentosos e compromissados, é sair de seu caminho.

“Eu saí do caminho deles.”

Na ilustração acima, uma das capas produzidas por Jim Kelly, sem manchete, título, nem chamada. Só a imagem e a data: 11 de setembro de 2001.

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