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28.2.07

A CIVILIZAÇÃO ESTÁ NA PRIVADA



"No mínimo um terço da população do planeta – uns 2,6 bilhões de pessoas – não sabe o que é um sanitário, uma latrina, uma fossa séptica, e faz suas necessidades como os animais, no mato, à beira de córregos e mananciais, ou em sacolas e latas que são jogados no meio da rua. E mais ou menos 1 bilhão utiliza águas contaminadas por fezes humanas e animais para beber, cozinhar, lavar a roupa e fazer a higiene pessoal. Isso faz com que pelo menos 2 milhões de crianças morram, a cada ano, vítimas de diarréia."

O parágrafo acima faz parte de um artigo do escritor peruano Mario Vargas Llosa, publicado na revista Piauí. Llosa analisa o Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, que no ano passado focou o problema do acesso ao saneamento básico. E mostra que a medida da civilização não está no acesso a celulares, internet, TV ou bens de consumo, mas no acesso à privada e a redes de esgoto. A ONU estabelece que todo cidadão tem direito a pelo menos 20 litros de água potável por dia. Não é o caso de pelo menos 20% da população que vive nos chamados países em desenvolvimento (a parte do mundo que não é nem a Europa, nem Japão nem Estados Unidos).

No Brasil, o problema está mais no tratamento de esgoto que no acesso à água potável. A média nacional de acesso ao esgoto está em 75%. A meta da ONU é que se chegue a 85% até 2015. Não parece difícil, mas a privada está longe de ser uma prioridade dos governantes: em toda a América Latina, só 14% dos excrementos humanos são, de alguma forma, tratados. Ou seja: 86% da merda que produzimos vai direto para rios e lagos, sem escalas. E aqui "merda" é usada no sentido literal.

Serviço:
O Relatório de Desenvolvimento Humano 2006 está aqui.

A revista Piauí está bombando. Além dessa e de outras reportagens excelentes, tem uma história em quadrinhos devastadora do Laerte, nosso orgulho nacional em matéria de nona arte. Clique na imagem para ler na íntegra.


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