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18.7.07

VÔO 3054: TRAGÉDIA ANUNCIADA



Tudo aconteceu na segunda-feira: um avião turboélice da empresa Pantanal derrapou quando pousava na pista principal do aeroporto de Congonhas e foi parar na grama. Escreveu a repórter Camilla Rigi, na edição de terça-feira do Jornal da Tarde:

- No primeiro dia de chuva forte na capital paulista depois da entrega da reforma da pista principal de Congonhas, a água acumulada no pavimento, que ainda não tem o "grooving" (sulcos no asfalto que ajudam o escoamento), causou um grande susto.

O susto foi na segunda-feira à tarde. A tragédia veio na terça à noite. Mesmo aeroporto, mesma písta, mesma chuva. Antes de 200 pessoas morrerem, gente que trabalha com a segurança dos aeroportos disse coisas assim:

- Nem todos os aeroportos do País têm o grooving e funcionam normalmente - Ronaldo Jenkins, diretor do sindicato das companhias aéreas.

- Apenas a falta de groving não deve ser a culpada - Carlos Camacho, diretor de segurança do Sindicato dos Aeronautas.

- A manobra do piloto parece ter sido desastrosa - avaliação preliminar da Agência Nacional de Aviação Civil.

Resta saber se agora, depois que 200 pessoas morreram carbonizadas, os doutores são capazes de repetir essas declarações.

Até terça-feira, contava-se quatro acidentes na pista principal de Congonhas causados por acúmulo de água, desde março do ano passado. No ano passado, um avião da BRA derrapou e parou a poucos metros da Avenida Washington Luís. A Infraero resolveu fazer uma reforma de emergência em maio, e reabriu a pista dia 29 de junho, logo antes das férias.

Hoje, quarta-feira, mesmo depois do acidente, o aeroporto de Congonhas continua funcionando. As filas de check-in não pararam. Esse é o Brasil. Se não fosse, talvez a pista estivesse interditada desde segunda-feira e teríamos 200 funerais a menos no dia de hoje. O jornalista Reinaldo Azevedo resume o espírito nacional neste momento trágico:

- É isso aí. Pegue um avião. Relaxe e morra.

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