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17.11.07

NORMAN MAILER, O GRANDE REBELDE DAS LETRAS (1923-2007)



Morreu Norman Mailer. Ele era o cara. Tanto que a personagem principal de seus livros era ele mesmo. Despontou para a fama aos 25 anos, com "Os Nus e Os Mortos", romance passado na 2a Guerra Mundial, da qual participou como soldado. Queria mais e ambicionou escrever "o grande romance americano", o farol literário pelo qual as próximas gerações seriam guiadas.

Não conseguiu. Seus maiores trabalhos, que transformaram Mailer em personalidade pública e num dos mais profícuos escritores estadunidenses, foram os ensaios e as reportagens. Na primeira categoria, destacam-se "O Prisioneiro do Sexo", em que desanca o movimento feminista; "Cartas Abertas ao Presidente", em que desfia conselhos ao então recém-eleito John Kennedy; e "Advertisements for Myself", onde disseca as nuanças de sua própria personalidade. Na segunda, inaugurou o "novo jornalismo": fez o relato do "combate do século" entre Muhammad Ali e George Foreman em "A Luta"; biografou as vidas de Marylin Monroe e Lee Harvey Oswald; e contou a verdadeira historia da "marcha para o Pentágono" em "Os Degraus do Pentágono". Sempre tendo a si mesmo como protagonista, mas tratado na terceira pessoa. Por que isso?

- Requer-se uma testemunha que seja participante, mas não um engajado, um partisan; além disso, deve estar não só envolvido, mas ser ambíguo em suas próprias proporções, um herói cômico. Assim, se o acontecimento ocorria no manicômio da história, era apropriado que qualquer herói cômico ambíguo dessa historia estivesse não só situado muito à margem da história, mas fosse também um egoísta das mais espantosas proporções, utrajantemente e, com freqüência, malfadadamente arrogante, mas, apesar disso, senhor de uma independência de julgamento e de um desapego genuinamente clássicos em sua severidade. Logo, se a História habita num manicômio, talvez o egoísmo seja o último instrumento que resta à História.

Mailer tinha a noção que para escrever sobre seu tempo, era necessário viver esse tempo intensamente. Meteu-se em tudo. Lutou boxe, teve seis esposas, bebeu sempre (principalmente em eventos públicos), tomou as drogas que apareceram, escreveu teatro, dirigiu filmes e candidatou-se a prefeito de Nova Iorque. E recomendava que todos fizessem o mesmo:

- Eu tenho raiva da covardia de nosso tempo que nos atirou ao chão de nossos compromissos medíocres, derrubando-nos da nossa paixão mais luminosa por ficarmos eretos e sermos originais... Nós crescemos num mundo mais decadente do que o pior que houve no Império Romano, um mundo covarde correndo atrás de tempos melhores (o que se pode achar louvável) mas procurando isso sem a coragem de pagar o alto custo da consciência total, perdendo assim o prazer em altos e baixos de ansiedade. Nós queremos o fogo da orgia e não o seu assassínio, o calor do prazer sem o contraste da dor, e portanto o futuro ameaça como um pesadelo, e nós continuamos a desperdiçar os nossos espíritos.

Nos últimos anos, sua importância foi tornando-se cada vez menor. Depois do 11 de setembro, era tratado como fanfarrão. Edward Said, o mais importante estudioso do mundo árabe, também falecido, recusava-se a comentar as idéias de Mailer: "ele é apenas ignorante". Falava mal de Bush, mas atraía bem menos holofotes que Michael Moore. Mailer tinha uma teoria sobre isso também:

- Já não somos uma cultura literária. Somos uma cultura televisiva. Os escritores já não são tão importantes quanto antes. É o que digo, sem nenhum prazer.

Leia aqui uma biografia em quadrinhos de Norman Mailer.

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