jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

4.2.09

A MESMICE VENCEU A ESPERANÇA


Enquanto os USA aguardam entusiasmados os coelhos que Obama há de tirar da cartola frente à crise econômica, no Brasil a política traz notícias que não trazem nada de novo, apenas aquele velho sentimento de impotência e déja-vu. A eleição de Michel Temer para a presidência da Câmara dos Deputados e José Sarney para a presidência do Senado não deixam quaisquer dúvidas que este é o país do fisiologismo, dos conchavos de bastidores, dos velhos coronéis. O primeiro eleito comanda há quase dez anos o PMDB, o partido brasileiro que tem mais afiliados, mais prefeitos, mais governadores e menos ideias. O segundo, colega de partido do primeiro, mais uma vez fez manha e pediu que o buscassem em casa para que assumisse a função de decidir o que vai ou não ser votado na casa legislativa mais importante do país. Ai que preguiça... 

De modo que o "centrão" está formado. Seja quem leve as eleições de 2010, o PMDB está em condições de negociar suas posições, melhor do que esteve em 2002 e 2006, quando a indefinição de seus correligionários tornou o apoio de seu partido em algo irrelevante. Agora, o partido maria-vai-com-as-outras está no centro da política nacional novamente. Para quê? Enquanto isso, aberrações como Gilmar Mendes e Tarso Genro seguem concedendo habeas corpus e asilos políticos a seus chegados sem serem importunados por ninguém. O povo brasileiro assiste a tudo impassível. Afinal, o carnaval começa quando mesmo?

Até lá, e depois, por muitos e muitos anos, nada vai mudar no Brasil. Ficaremos chafurdando neste mesmo lamaçal onde se misturam analfabetismo, coronelismo, bajulação, conformismo, desinformação, conchavos e apatia. Ainda veremos as velhas raposas da política dominando os noticiários, como múmias imortais e vampiros sanguessugas, por muitos anos. Aí está ACM Neto, o Aceminho, que não deixa mentir. Quem ainda acredita que "agora, vai", é melhor esquecer.  

O jornalista Mino Carta desistiu. Sua opinião independente sobreviveu aos patrões do Estadão, da Veja e da Istoé, até quando montou a Carta Capital, onde colocou seus princípios e suas ideias em prática. Mino fechou seu blog na internet e não vai mais assinar suas análises semanais na revista que dirige. Cansou de pregar no deserto.

-  Vai-me sobrar tempo para escrever um livro sobre o Brasil. Talvez não ache editor, pouco importa, vou escrevê-lo de qualquer forma, quem sabe venha a ser premiado pela publicação póstuma. 

Por mais de 50 anos, Mino insistiu que o jornalismo deve se guiar pela fidelidade canina à verdade factual, pelo exercício desabrido do espírito crítico e pela fiscalização implacável dos poderosos de plantão. Parece que agora absorveu a inexorável lição: no país em que a situação é sempre séria, mas nunca grave, prego que se destaca toma martelada.  

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