jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

6.6.07

A MÍDIA... COMO ELA É



Todo mundo já ouviu dizer que a mídia é o quarto poder. Mas que poder é esse? Segundo o sociólogo do PT Wanderley Guilherme dos Santos, é o poder de criar crises políticas. A mídia promove a crise para negociar e garantir a sua sustentabilidade. O jornalista Mino Carta já divulga há muito tempo que os interesses do poder e o interesse dos patrões da mídia se entrelaçam, ambos sentam-se à mesma mesa.

O poder da mídia não é financiado pelos leitores, mas pelos anunciantes. Nao é você que compra os jornais, eles é que te vendem. O dinheiro que os barões miram não é o do leitor, mas o dos anunciantes que pagam para ter a sua audiência. Nesse caminho, o conteúdo, que deveria servir aos leitores, serve também para moldar suas opiniões e percepções. O dono de uma audiência pode vendê-la, mas também manipulá-la. Pode criar assuntos, valorizar alguns, omitir outros. A mídia cria uma agenda de assuntos, e são esses que você vai discutir numa mesa de bar.

A imparcialidade não existe. É um mito criado e alimentado pela própria imprensa, no intuito de ocultar seus interesses (que estão mais expostos do que nunca). É sintomático que um dos poucos defensores da objetividade no jornalismo seja Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo. Segundo Kamel, essa objetividade é possível porque a notícia, antes de ir para o ar, passa pelo crivo de diversos profissionais, até chegar oa telespectador. Essa pluralidade de pontos de vista, ideologias e opiniões seria o filtro da imparcialidade e da objetividade. Por isso também os jornais são todos iguais, se ocupam das mesmas notícias ao mesmo tempo. Ou seja, a pluridade de opiniões dentro das redações é a causa da uniformidade dos veículos. Não entendeu? Nem eu...

O jornalista Paulo Henrique Amorim já detectou no Brasil a mídia conservadora (e golpista): Globo e Veja, seguidos pela maioria. Seus interesses são os mesmos, e estão explícitos: querem mostrar que o governo Lula é "o mais corrupto da história", é contra o MST, quer ver Hugo Chávez na cadeia, aplaudiu as privatizações de FHC, e não viu grandes problemas quando FHC desvalorizou o real 12 dias depois de eleito. A midia faz política, e política pequena, de balcão. Por isso a operação Navalha e a ex-mulher de Renan Calheiros têm ocupado mais espaço na mídia do que a discussão sobre o aborto. Em qualquer jornal, em qualquer emissora.

O jornalista Reinaldo Azevedo diz que a mídia não sabe cobrir questões institucionais. Não sabe divulgar um debate de idéias, mas apenas escândalos. Antigamente, chamava-se isso de imprensa marron.

Mas quando toda a manada segue junta, quem vai discordar? O escritor Norman Solomon conta como é feito o adestramento dos jornalistas nos Estados Unidos:

- Hoje, a regra aqui é simples. Quanto mais os jornais pagam, menos você fala. Quanto mais você quiser falar, menos você vai ganhar.

Um comentário:

Unknown disse...

Excelente texto! Parabéns!

Colocou tudo que sempre pensei a respeito da mídia.

O que sempre me deu raiva não é as opiniões manifestadas serem diferentes das minhas, mas o fato de a imprensa emitir opiniões por trás de áura de imparcialidade.

Como se aquilo fosse uma verdade absoluta e irretocável.

No EUA é comuns os jornais apoiarem este ou aquele candidato, mas o fazem abertamente. Aqui eles fazem de forma velada. Seja para defender um e atacar outro.

Essa manipulação se verifica no dia-a-dia. É só ver as reportagens da Veja e das TVs. Os estudantes da USP são passados como um bando de mimados e baderneiros. Os da Venezuela defensores da democracia.

Manifestação é manifestação. É um direito de todos, concordemos ou não com a causa. Mas quando a imprensa é contra a causa são baderneiros e quando é a favor são mafestantes pela democracia.

O piór é que a amioria das pessoas não percebe essas sutilezas.