
A Operação Navalha está nas manchetes. E daí? Nada. Foram presas 46 pessoas, apareceram gravações telefônicas no Fantástico, um ministro caiu, o Congresso já quer fazer CPI, surgiu uma lista de presentes da Gautama para parlamentares de todas as cores e gêneros. Bom, dessas 46 pessoas, 26 já foram soltas. As outras 20 só ficam até semana que vem, quando vencem os 10 dias da prisão temporária. As gravações do Fantástico não mostram nenhum flagrante de corrupção e essa lista de presentes, bem como a CPI, é uma palhaçada completa. Todo esse bafafá não serve à Justiça nem aos cofres públicos. Apenas à imprensa é à Polícia Federal.
À imprensa porque estampa manchetes e porque lhe empresta uma aura denuncista e moralizadora. À Polícia Federal porque mostra sua força e cria um movimento favorável às investigações. Nada a ver com a condenação de corruptos. O que a PF fez foi cumprir mandados de busca e prisão temporária. Tecnicamente, a Operação Navalha ainda está em fase de investigação. Depois desse espetáculo todo é que começa o trabalho: baseado nas provas recolhidas pela PF, o Ministério Público vai acusar quem acha que deve ser acusado. Uma lista certamente menor que a dos 46 presos temporários. Daí vai pra Justiça, que vai decidir se houve roubalheira ou não. Coisa pra alguns anos.
Até isso acontecer, ficamos com o circo. A divulgação de tantas conversas telefônicas mostra bem como funciona a parceria entre polícia e imprensa. Essa divulgação é uma ilegalidade flagrante, pois são conversas privadas; talvez se tornem públicas quando forem anexadas a um processo, que ainda não existe. No entanto, Glória Maria anuncia com um estrondo: "as gravações que provam o envolvimento de políticos nas denúncias de corrupção". Provam nada, a não ser a irresponsabilidade dos redatores da Globo. O resto são verbos no futuro no pretérito. Hoje, TVs divulgam nomes que "estariam" numa lista de presentes distribuídos pela construtora Gautama.
Estariam numa suposta lista de presentes que podem ter a ver com corrupção. Manchetes como essa provam que, para se ter uma notícia, muitas vezes não se precisa de fatos.
E o Delúbio, hein? Ele já confessou que entregou dinheiro vivo para políticos. Há quase dois anos. E continua livre para ir para onde bem entender. Olha que nem foro privilegiado ele tinha...