jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

7.3.07

O JORNALISMO, POR NORMAN MAILER


"Nunca trabalhei como jornalista e não gosto dessa profissão. É um modo promíscuo de ganhar a vida.

"Assim como um advogado não tem um amor á verdade que se compare ao seu apego aos interesses de seu cliente, o repórter não tem respeito algum pela nuance. O sentido de uma situação não é o que ele explora, na verdade ele freqüentemente evita uma atmosfera, já que é difícil capturá-la num texto às pressas. Suas tentativas juvenis de procurar o espírito de um evento foram decapitadas anos atrás na mesa de um editor de texto; desde então ele foi adestrado a buscar fatos, ainda que invariavelmente os compreenda mal. É sutilmente incentivado, quando trabalha numa matéria, a depender de tudo, menos de sua escrita. É por isso que poucos repórteres escrevem bem.

"Na verdade, é pior que isso. Daqui a alguns séculos, a inteligência moral de outra época talvez contemple com horror a história das pessoas implantadas nas pessoas do século XX por meio da imprensa. Uma corrosão do cérebro coletivo é uma das conseqüências. outra é a deformação da consciência de qualquer líder cujas ações estejam constantemente nos jornais, pois ele foi obrigado a aprender a falar unicamente sob a forma de frases citáveis e autoprotetoras. Com o intuito de se comunicar com os comunicadores, ele renunciou a qualquer vestígio de uma filosofia pessoal."

Trecho do livro "O Super-Homem vai ao Supermercado" (Companhia das Letras).
Norman Mailer é escritor, nascido em Nova Jersey (EUA). Publicou ensaios, romances, novelas e reportagens. Ganhou dois prêmios Pulitzer.

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