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1.5.06

EVO MORALES E GAROTINHO: OS RADICAIS

O problema com os radicais é saber até onde eles realmente estão dispostos a ir. O 1º de maio contou com dois casos de radicalismo. Resta saber no que vai dar.

O primeiro caso já era anunciado. É a estatização das empresas que exploram gás e petróleo na Bolívia, nossa Petrobrás inclusa. A imprensa fala em “nacionalização”, que não explica nada, e mostra como ninguém está entendendo nada. Evo Morales quer pagar às empresas exploradoras 18% dos ganhos com a comercialização do gás e petróleo. Na prática, o governo boliviano está invertendo as posições. Até ontem, a Bolívia ficava com 18% do lucro das empresas, a título de royalties (fora os impostos). As empresas pagavam 18% pelo uso dos recursos naturais da Bolívia. Agora, a Bolívia vai pagar 18% pelo uso da tecnologia e instalações das empresas. As empresas têm seis meses para assinar contratos com as novas condições. Ou aceitam, ou vão embora.

A liderança estratégica do Brasil na América Latina vai passar os próximos dias correndo atrás do prejuízo. Como se tivesse sido pega de surpresa. Dois presidentes bolivianos renunciaram ao posto quando protestos liderados por Evo Morales tomaram as ruas. Os protestos exigiam exatamente isso: arrocho nas empresas que exploram os recursos naturais do país. Se Evo Morales tentasse resolver a situação na conversa, poderia acabar como seus antecessores. Radicalmente chutado.

Esse deve ir até o fim.

O segundo caso foi a greve de fome de Anthony Garotinho. Foi uma reação à altura à capa de Veja que o mostra como capeta, de rabo e chifre. Se o mostram como o cão, ele vai de mártir. Garotinho tem em Getúlio Vargas um de seus grandes inspiradores, ao lado de JK. Getúlio entrou para a história com um irrevogável tiro no coração. Garotinho ameaça agonizar em praça pública, mas até agora ninguém o levou a sério. Ele quer espaço de defesa da imprensa (de graça) e monitoramento internacional do processo eleitoral. Já se pergunta quem vai monitorar sua greve de fome.

Esse desiste já, já. Seria bom que se mantivesse firme até o fim. Políticos brasileiros desistem fácil, gostam de conciliações que só servem para que nada mude. Um pouco mais de radicalismo nos faria bem.

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