jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

19.5.06

JORNALISTA NÃO É NOTÍCIA

O Jornal Nacional de quinta-feira simplesmente ignorou a polêmica sobre a entrevista que Roberto Cabrini fez com Marcola, chefe do PCC. O jornal do SBT, da Ana Paula Padrão, mencionou as acusações do governo paulista contra Cabrini, mas sem citá-lo. Na internet, o assunto mereceu capa dos principais sites, principalmente do Globo On-Line.

O Jornal da Band, apresentado por Ricardo Boechat e Joelmir Betting, colocou Cabrini no ar, que deu uma curta entrevista, mas reveladora. Segundo ele, a entrevista foi conseguida por meio de conversas com integrantes do PCC. Cabrini acompanhou a negociação da entrevista por meio de conferências via celular. A confirmação da identidade e da voz de Marcola foi feita por pessoas próximas ao criminoso, “inclusive advogados dele”.

William Bonner deve seguir a máxima de Franklin Martins, a de que “jornalista não é notícia”. Mas um bandido que deveria estar incomunicável, dar uma entrevista via celular, é notícia, e das quentes. Ainda mais se rendeu uma reação histérica como foi a da Secretaria de Administração Penitenciária, de SP.

Se a entrevista for falsa, tudo isso vai por água abaixo. Coisa que uma perícia de Ricardo Molina pode comprovar. Basta o governo ter interesse em levar o caso até o fim. Até lá, atente-se para as palavras do delegado Godofredo Bittencourt, que comanda as investigações sobre o crime organizado em SP, sobre a entrevista de Marcola a Cabrini:

- Ficamos surpresos, mas sabe Deus, tudo vem acontecendo. O normal era para não ter acontecido isso, mas o normal também era para não terem vendido meu depoimento.

Na quarta-feira anterior aos ataques do PCC em São Paulo, o delegado foi a Brasília prestar depoimento secreto no Congresso Nacional. Nesse dia, Bittencourt revelou que faria a transferência de Marcola e outros 700 presos. Dois advogados do PCC compraram o depoimento por 200 reais. Na sexta, começou a matança de policiais em São Paulo.

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