jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

26.5.06

AMEAÇA À DEMOCRACIA: NINGUÉM FOI EM CANA

Jornalistas se acham guardiões das instituições. Se colocam nesse papel quando a ameaça vem do povo. Um exemplo foi o comentário do Merval Pereira na rádio CBN. Sobre o deboche que o advogado Sergio Wesley fez no Congresso ontem ("aqui, malandragem a gente aprende rápido"), Merval disse que as cartas dos leitores nos jornais mostram apoio à fala do advogado. Denunciou o perigo do povo não acreditar mais nos picaretas de sempre: "isso é gravíssimo, uma ameaça à democracia". Continuou: "temos que pensar formas de arrumar isso na próxima legislatura".

Caro Merval, não precisa esperar a eleição: basta alguém ir em cana. Francenildo, o caseiro que dedurou Palocci, tinha 30 mil reais na conta e foi investigado por lavagem de dinheiro. Vossa Excelência Vadão Gomes recebeu mais de 3 milhões de Marcos Valério (sem nota fiscal, sem declaração na Receita) e continua exercendo suas funções de deputado. Se estivesse na cadeia, nossas instituições mereceriam mais respeito.

Há dois meses o procurador-geral da República apresentou denúncia contra os 40 ladrões do mensalão. Até hoje, os acusados nem foram notificados. Formalmente, não são nem acusados de nada. Podem viajar para onde quiserem. Zé Dirceu não recebeu sua notificação porque a Justiça não sabe onde ele mora. Na lista telefônica tem. É em São Paulo, na Vila Clementino, Rua Bacelar, 212, ap 71.

O juiz Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, deu entrevista ontem sobre o processo do mensalão, que está sob sua responsabilidade. Segundo ele, o procurador-geral pediu prisão preventina de alguns dos 40 ladrões. Mas o magistrado federal negou todas. Segundo ele, não há motivos para isso. Não ocorre à excelência que, enquanto continuam soltos, Delúbio Soares e Marcos Valério podem destruir provas, aliciar testemunhas ou simplesmente continuar a distribuir dinheiro não-contabilizado.

Um belo combate à desdemocratização do Brasil seria a Polícia Federal apreender todos os computadores de Marcos Valério e da sede do PT. Outro seria deixar Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, dormir uma noite no xadrez para ver se ele conta como foi a quebra de sigilo do caseiro Francenildo (não ia ser tão ruim, afinal ele tem direito a prisão especial). Mais um seria instaurar um inquérito policial contra Severino Cavalcanti por corrupção ativa. Depois que ele renunciou, ninguém mais o incomodou. Deve se reeleger em 2006.

Um comentário:

Marco Aurélio disse...

Leo

O “advogado” Sérgio Wesley da Cunha está aprendendo rápido como as coisas funcionam aqui no Brasil. Viu como é rápido ser preso e algemado por desacato e mais ainda ser solto três horas depois. Assim até eu xingo deputado na câmara.

Um abraço

Marco Aurélio

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