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18.5.06

ENTREVISTA DE MARCOLA DEIXA GOVERNO DE SP HISTÉRICO

O Governo de São Paulo está uma arara com Roberto Cabrini, apresentador do Jornal da Noite, da Band. Na madrugada de quinta, Cabrini apresentou uma entrevista com Marcola, chefe do PCC, concedida por celular. O problema é que a Secretaria de Administração Penitenciária jura de pés juntos que Marcola está incomunicável no presídio de Presidente Bernardes. Se é assim, como conseguiu falar ao celular com Cabrini?

A Secretaria já divulgou nota afirmando categoricamente que a entrevista é falsa, e que vai processar a Bandeirantes e a Record (que também exibiu a entrevista) por apologia ao crime. Antes, tinha dito que cabia à Band comprovar a veracidade da entrevista.

A reação é histérica e demagógica.

Histérica porque atesta a falsidade da gravação sem ter ido revistar Marcola ou nenhuma outra ação. Marcola está incomunicável porque a burocracia diz que está. E ponto. Uma perícia pode confirmar se a voz de Marcola é a mesma que foi apresentada na entrevista. Basta ligar para Ricardo Molina.

Demagógica por ameaçar Cabrini com um processo por apologia ao crime. Na nota, a Secretaria de Administração Penitenciária diz que a veiculação de conversas com integrantes de facções criminosas é sensacionalista, assusta a sociedade e prejudica as investigações. Se a entrevista foi forjada, o crime pode ser de prática comercial abusiva, falsidade ideológica ou divulgação de notícia falsa. Gugu Liberato, em setembro de 2003, comprovadamente forjou uma entrevista com integrantes do PCC (eram, na verdade, figurantes do Domingo Legal), e foi processado por esses crimes, não por apologia.

Se a entrevista foi verdadeira, onde está a apologia a Marcola? Não houve elogios, nem defesa do bandido. Se entrevistar criminosos é apologia, então tem muita gente na fila para ser processado.

Roberto Cabrini não é Gugu Liberato. É acostumado a grandes coberturas, a dar furos e fazer reportagens arriscadas. Já entrevistou outros criminosos, como PC Farias e Salvatore Cacciola, quando eles estavam foragidos da Justiça. Não é enganado facilmente, nem precisa imitar Gugu para manter seu ibope.


Diante da notícia que Marcola falou pelo celular, o governo paulista poderia revistar a cela de Marcola, interroga-lo, perguntar a Cabrini qual o número do celular, quem o forneceu, fazer a perícia de voz. Em vez de investigar uma irregularidade grave (Marcola ter acesso a um celular), preferiu atacar o mensageiro dessa irregularidade.

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