jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

28.5.06

A IMPRENSA NÃO GOSTA DE POPULISTAS. E NEM DE POVO.

Populista. Nunca foi tão fácil. Repita você também: populista. O adjetivo está na moda na imprensa brasileira. Preferencialmente nas reportagens sobre a Bolívia e seu presidente, Evo Morales. Nacionalização de refinarias? Populismo. Expropriação de terras dos brasileiros? Populismo. Corte de impostos? Populismo.


O termo está tão entronizado na imprensa, que pode ser usado sem explicações. Se a matéria for sobre Evo Morales ou Hugo Chávez, pode usar sem preocupação. Afinal, todo mundo está fazendo o mesmo. Hoje, “populista” é ofensa tão grave – e fácil, porque não quer dizer nada - quanto “neoliberal” foi quando FHC estava no poder.

Segundo a wikipedia, o populismo se caracteriza pela ligação direta que um governante tem com o povo, sem intermediação de partidos ou instituições. Para quem conhece o termo só dos jornais, pode-se pensar que populismo são medidas irresponsáveis para alegrar o povão, medidas eleitoreiras, enfim, medidas de esquerda. Populismo é governar para o povão – e isso é perigosíssimo. Uma ameaça que a imprensa, guardiã das instituições, deve combater diariamente.

E Lula? Lula é populista. Bolsa-Família, aumento do salário mínimo, corte de impostos para o cimento e o arroz, tudo isso atende só ao povão. Além disso, sua imagem é maior que a do seu partido ou que suas idéias e propostas. E por que não é chamado de populista da mesma forma que Morales e Chávez? Será porque paga juros de 15% ao ano?

Serviço: grande artigo do professor José Luís Fiori sobre como países de diversos continentes estão adotando medidas de valorizar suas reservas naturais frente às empresas que as exploram – como fizeram Morales e Chávez. Lá fora, isso é nacionalismo. Aqui, é populismo.

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