jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

29.4.07

ATUAÇÃO DO CONAR DISPENSA A DA CENSURA

"Você não vai mais conseguir viver sem emoção". Não se você comprar o novo Fiat Palio 2008, de acordo com três propagandas que a Fiat acabou de tirar do ar. Tirou do ar seguindo recomendação do Conar, Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária. Segundo reclamação enviada e aceita pelo Conar, a propaganda estimula a direção em alta velocidade. Sabe aqueles passeios de buggy na areia em que o condutor sempre pergunta: "com emoção ou sem emoção"? Para os publicitários da Leo Burnett (agência responsável pela campanha), "adrenalina" é o motor 1.8, com 115 cavalos. Veja aqui o site do carro.

A surpresa aqui não é associar velocidade ao volante à emoção. Publicitários fazem isso, é quase vicio profissional. Muitos ainda vão fazer. A surpresa é a influência do Conar sobre a suspensão dos anúncios, dispensando ações judiciais ou decretos governamentais. O Conar é uma entidade única no Brasil, em que profissionais, agências e veículos pensam rumos e limites para o mercado publicitário. Cada vez que o Conar mostra sua força, enfraquece a necessidade de se fazer isso por meio do Estado, seja por meio de censura, seja por meio de comissões de ONGs. Se a ANJ (Associação Nacional dos Jornais), Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e TV) ou mesmo a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) fizessem algo parecido, talvez o governo Lula não tivesse tido a idéia de criar o Conselho Federal de Jornalismo.

Dia 3 de maio comemora-se o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Liberdade que, como todas as outras, tem que ser conquistada. Ainda mais no Brasil, onde repórteres são espancados e processados; e jornais ainda são previamente proibidos de tratar de certos assuntos por decisões judiciais.

4 comentários:

Unknown disse...

Liberdade rima com responsabilidade.

Aos publicitários e aos meios de comunicação é necessário bom senso.

Em nome do lucro não se pode incentivar as pessoas à maus hábitos. Essa propaganda da FIAT incentiva a velocidade. Responsável por tantas tragédias na sociedade.

Não concordo que decisões judiciais sejam censura. Pois são decisões tomadas pela justiça, com amplo direito de defesa e recursos a disposição.

Censura seria se a decisão partisse de órgãos do executivo. De forma unilateral sem direito a defesa ou recurso.

Acho que toda atividade humana deve ser regrada e possuir limitações. Os advogados, médicos, policiais, ou seja, todos possuímos limitações. Porque só uma classe não pode?

Além disso...se os órgãos de comunicação não procederem com responsabilidade estarão pedindo o controle.

Leonardo Echeverria disse...

Maurício,
decisões judiciais que impedem antecipadamente que um veículo trate de determinado assunto ou pessoa é, sim, censura. Indenização por danos morais não é. Liberdade de expressão, na minha opinião, funciona assim: qualquer um fala o que quiser, onde quiser, quando quiser. Se a Justiça decidir que houve dano, indeniza-se. Mas proibir de antemão é mordaça.

Unknown disse...

Leo,
Só falei isso tendo em vista que depois do estrago é muito difícil a reparação. Depois de jogarem folhas ao vento é quase impossível de
recolher todas.

Os processos judiciais são lentos. Só agora a Justiça condenou veículos de comunicaçã a indenizar a família da escola base de SP.

Levou anos para o Brizola ganhar direito de resposta da TV Globo. Os meios de comunicação são muito poderosos, possuem um corpo de advogados que podem enrolar anos os processos (acredite. eu sei!).

Acho que uma limitação seria um mal que visa um bem maiór. Apenas penso no mais fraco da relação.

Além disso não concordo em colocar uma decisão judicial no mesmo nível de censuara. Tendo em vista diversos dispositivos processuais e legais disponíveis.

Além do que, temos de refletir se ataques, ofensas ou perseguições podem se enquadrar como Liberdade de Expressão. Apesar que nesse caso ficaria muito subjetivo mesmo.

Porém mantenho a mente aberta para novos argumentos que me convençam que estou errado.


Obrigado pela atenção!

Unknown disse...

Leo

Depois de acompanhar casos como o do Roberto Carlos e ver as mais diversas opniões a respeito do assunto, mudei a minha opinião.

Concordo que a mordaça é inadmissível. Refleti acerca da opinião que dei e me dei conta que se passarmos a proibir determinadas coisas abriremos caminho para uma censura generalizada.

Apesar de ter restrições a posturas e opiniões da imprensa também sou contra a censura prévia.