jornalismo, cultura e a opinião que ninguém pediu

22.4.07

A LAPA É A LAPA, A BARRA É A BARRA


Mais uma colaboração de Elio Gaspari para o blog:

A prefeitura do Rio está aporrinhando a Lapa, santuário da renovação urbana do velho centro carioca.Sem maiores interferências do poder público, boêmios, garçons, cantores e biscateiros recuperaram aquele pedaço da cidade. Bebe-se em paz à sombra dos arcos porque naquelas ruas ninguém é louco de se meter com quem não conhece. A transformação do bairro, preservado pelo andar de baixo, fez surgir novos restaurantes, casas de espetáculos, clientela e alegria.Foi o suficiente para alguém achar que o povo estraga a paisagem. No último fim de semana, patrulhas higienistas baniram mesas da rua, churrasquinhos de gato, camelôs, comedores de fogo e vendedores de cerveja gelada no isopor. É a patuléia das ruas, marca do Rio desde os tempos coloniais.

A Lapa não tem vocação para Barra. Manuel Bandeira viveu nove anos na rua Moraes e Valle (aquela lingüeta encostada na igrejinha dos carmelitas). Em 1942, no dia em que se mudou de lá, começou a escrever a "Última Canção do Beco". Vale ouvi-lo: "(...) Beco das minhas tristezas. Não me envergonhei de ti! Foste rua de mulheres? Todas são filhas de Deus! Dantes foram carmelitas... E eras só de pobres quando, Pobre, vim morar aqui. Lapa-Lapa do Desterro-, Lapa que tanto pecais! Mas quando bate seis horas, Na primeira voz dos sinos, Como na voz que anunciava A conceição de Maria, Que graças angelicais!"

Em tempo: a ilustração acima é do desenhista francês Jano, e mostra o Arco do Teles, centro do Rio.

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